Turquia diz que análises sugerem uso de gás sarin em ataque químico na Síria
ANCARA — Especialistas turcos dizem que as suas primeiras análises sugerem que o gás sarin tenha sido usado no ataque que, na terça-feira, matou pelo menos 86 pessoas na na Síria e feriu outras 550. Mais cedo, autópsias já haviam confirmado que armas químicas haviam sido utilizadas. O ministro da Justiça de Ancara acusou o regime do presidente sírio, Bashar al – Assad, pelo bombardeio com gás tóxico na declaração desta quinta-feira, assim como diversas outras nações ocidentais e a União Europeia (UE).
“Foram realizadas autópsias de três corpos transportados de Idlib. Os exames revelaram que armas químicas foram utilizadas”, declarou o ministro Bekir Bozdag. “Este exame científico revela também que Assad utilizou armas químicas”
Bozdag explicou que as autópsias de três corpos em Adana, no sul da Turquia, contaram com a participação de legistas turcos, além de representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq). Especialistas turcos já haviam sido enviados à Síria para ajudar equipes médicas locais de Khan Sheikhun, sobrecarregadas após o ataque, no tratamento e diagnóstico dos feridos. Além das 86 vítimas fatais, que incluem 30 crianças, o incidente deixou dezenas de pessoas feridas, que agora estão recebendo atendimento médico na Turquia, país vizinho da Síria.
As autópsias, que demoraram quase três horas, de acordo com a Anadolu, foram gravadas com câmeras. As autoridades turcas e delegação da OMS também recolheram mostras. Por enquanto, não há confirmação oficial de qual substância química foi usada no ataque. As principais suspeitas, no entanto, são o gás cloro e o gás sarin.
O sarin é um gás asfixiante que foi originalmente desenvolvido como um pesticida na Alemanha em 1938. O sarin fez parte de uma classe de armas químicas desenvolvidas durante a Segunda Guerra Mundial. Na sua forma pura, o sarin se apresenta como um líquido claro, incolor e insípido.
O governo turco não revelou os elementos que servem de base para a acusação para o regime de Damasco. No entanto, na quarta-feira, médicos já haviam declarado que os pacientes apresentavam sintomas de quem foi exposto a gases tóxicos: pupilas dilatadas, convulsões e espuma saindo pela boca. Além disso, a OMS também havia confirmado que as vítimas pareciam ter sido expostas a agentes neurotóxicos, porque não tinham ferimentos externos e morreram rapidamente em asfixia.
“Estes tipos de armas são proibidas pela legislação internacional porque representam uma barbaridade intolerável”, disse Peter Salama, o diretor-executivo do Programa de Emergências de Saúde da OMS, em nota.
A Turquia e outros países — como Estados Unidos, França, Alemanha e Reino Unido — responsabilizam o regime de Assad pelo ataque. Na quarta-feira, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou Assad, a quem chamou de “assassino”, de ter ordenado o ataque.
Mas o governo da Rússia, que apoia Damasco, afirmou na quarta-feira que Força Aérea síria bombardeou um depósito dos rebeldes que continha substâncias tóxicas. Na explosão, as substâncias teriam sido dispersadas.
O governo sírio já negou repetidamente o uso de armas químicas na guerra civil. Mas as alegações de que Damasco utiliza este tipo de armamento são recorrentes e uma investigação liderada pela ONU atribuiu ao regime pelo menos três ataques com gás cloro em 2014 e 2015. A Síria ratificou a Convenção sobre a Proibição de Armas Químicas em 2013.
Em setembro de 2013 — mês em que a Síria, já em plena guerra civil, pediu a adesão à convenção — um relatório da ONU apresentado pelo então secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, mostrou que o gás sarin havia sido usado em grande escala no mês de agosto anterior, num ataque que resultou em pelo menos 1.429 mortes. Este foi considerado o mais significativo uso de armas químicas desde que Saddam Hussein conduzira um ataque em Halabja em 1988.
Até então, a Síria participava do Protocolo de Genebra de 1925, que proíbe o uso de armas químicas em guerra — mas não impede produção, armazenamento ou transferência. Avaliações independentes indicam que a produção síria poderia ser de algumas centenas de toneladas de agentes químicos por ano. O país supostamente fabricava sarin, tabun, VX e tipos de gás mostarda.
Fonte: http://oglobo.globo.com