Turquia enfrenta batalha longa e difícil contra ISIS na Síria
O progresso militar lento em al-Bab mostra que o engajamento militar crescente da Turquia na Síria está sendo obtido a um preço, escreve Patrick Cockburn.
O exército turco está sofrendo perdas sérias inesperadas de homens e equipamento conforme se engaja em sua primeira batalha de verdade contra os militantes do ISIS, que estão guardando al-Bab, um cidade pequena porém localizada estrategicamente a nordeste de Alepo. Os comandantes militares turcos esperavam capturar al-Bab rapidamente quando suas forças atacaram a cidade em dezembro, mas eles não estão sendo bem sucedidos em romper e penetrar as defesas do ISIS.
Ao menos 47 soldados turcos foram mortos e onze tanques foram inutilizados ou destruídos, de acordo com o perito militar turco Metin Gurcan, que escreve para o al-Monitor. O ISIS postou um vídeo mostrando um tanque turco sendo destruído, aparentemente por um foguete antitanque, e de militantes do ISIS olhando os destroços de outros veículos blindados.
A intervenção militar turca no norte da Síria, conhecida como Operação Escudo do Eufrates, que começou em 24 de agosto do ano passado também levou a fortes baixas civis. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, citando testemunhas locais, diz que 352 civis, incluindo 77 crianças e 48 mulheres foram mortos pelos bombardeamentos da artilharia turca e ataques aéreos ao longo dos últimos cinco meses. Filmagens de drones feitas pelo ISIS mostram que os prédios e casas em al-Bab, que já teve uma população de 100.000, foram devastados.
A Turquia tinha a intenção de fazer uma incursão limitada no território entre a fronteira turca e a cidade de Alepo, que fica 64 quilômetros mais ao sul, o que faria dela uma atuante séria no conflito sírio. Isso expulsaria o ISIS de seu último grande reduto no norte da Síria em al-Bab e, acima de tudo, impediria que as Unidades de Proteção do Povo (YPG) curdo da Síria se conectassem seus enclaves em Kobani e Qamishli com o em Afrin, a noroeste de Alepo.
A estratégia provou ser de um custo bem mais alto e mais lenta de implementar perante a resistência determinada e habilidosa do ISIS do que Ancara havia previsto. O governo turco queria principalmente contar com milicianos árabes e turcomanos sob o controle operacional turco, apesar de que eles seriam nominalmente parte do grupo coordenador Exército Livre Sírio (FSA). Esses representantes seriam apoiados pela artilharia e ataques aéreos turcos, e um número limitado de tropas terrestres turcas.
O plano parecia estar funcionando no começo pois as forças turcas tomaram Jarabulus, que era guardada pelo ISIS, onde o Rio Eufrates cruza a fronteira turca. Mas um sucesso ligeiro aconteceu nessa cidade porque o ISIS não lutou, seus homens recuando ou raspando suas barbas e se misturando com a população local. Mas quando o avanço do FSA, que é apoiado pelos turcos, fracassou em romper as linhas do ISIS em al-Bab e em seus arredores, a Turquia teve que reforçar o FSA com suas próprias unidades, que agora fazem a maior parte da luta.
Os líderes turcos colocaram a culpa de seus problemas em parte nos EUA, que não fizeram mais que alguns ataques aéreos em apoio à ofensiva a al-Bab. Os EUA não quer ajudar militarmente a intervenção turca que tem o objetivo principal de atacar as YPG, que se mostraram o aliado mais eficaz dos americanos contra o ISIS na Síria. As YPG têm ao menos 25.000 tropas terrestres veteranas que são apoiadas pelo imenso poder de fogo da coalizão aérea liderada pelos EUA. Ancara espera que a nova administração Trump cooperará menos com os curdos e mais com a Turquia.
O ISIS está usando um coquetel eficaz de táticas similares as que empregou para retardar a ofensiva das forças de segurança iraquianas no leste de Mossul, que eles levaram três meses para capturar. Essas táticas incluem o uso frequente de terroristas suicidas dirigindo veículos cheios de explosivos (VBIEDs), frequentemente com uma blindagem especial feita em oficinas do ISIS e por isso são difíceis de parar.
“O ISIS usa VBIEDs para desestabilizar o planejamento de campo, organização e moral de seus inimigos”, diz o Sr. Gurcan. “Com túneis, o ISIS mantém uma mobilidade, apesar dos ataques aéreos”. Como em Mosul, o ISIS é capaz de mover pequenas unidades móveis contendo atiradores de elite, especialistas usando mísseis antitanque e terroristas suicidas de casa em casa, sem os expor ao poder de fogo superior dos inimigos. As forças turcas tem sido incapazes de circuncidar al-Bab e cortar a principal rota de suprimentos para Raqqa, a capital de fato do ISIS na Síria.
A Turquia se beneficiou com as conversas de paz em Astana no Cazaquistão por ser um dos três poderes estrangeiros – os outros sendo a Rússia e o Irã – com tropas terrestres na Síria. Ela havia fornecido anteriormente um auxílio crucial, santuário e uma fronteira praticamente aberta para a oposição armada síria. Reforçada por casamentos diplomáticos de conveniência tanto com a Rússia tanto com o Irã, a Turquia adquiriu uma influência significativa sobre o resultado da guerra de seis anos na Síria. Mas o progresso militar lento em al-Bab mostra que engajamento militar crescente da Turquia na Síria está acontecendo a um preço – mesmo em suas fases iniciais.
A luta em al-Bab e em seus arredores destaca uma fraqueza importante dos planos anunciados em Astana para reforçar o atual e instável cessar-fogo sírio anunciado em 30 de dezembro. Os dois movimentos militares rebeldes mais poderosos, o ISIS e o Jabhat Fateh al-Sham, antes chamado de al-Nusra, o braço da al-Qaeda na Síria, não estão incluídos no cessar-fogo e não possuem razão alguma para seguir seus termos. Pelo contrário, o Nusra lançou uma ofensiva no oeste da província de Alepo para eliminar grupos rebeldes que simpatizam com as conversas de paz e com o cessar-fogo.
Significantemente, o ISIS está mostrando que, apesar das alegações do governo iraquiano e do sírio de que o Estado Islâmico esteja enfrentando uma derrota iminente, ele ainda é capaz de lutar em múltiplos frontes. O ISIS mantém o oeste de Mossul no Iraque com uma população de 750.000, recapturou Palmira na Síria no meio de dezembro e tem atacado repetidamente o enclave do governo sírio na capital provincial de Deir Ezzor nos últimos dias. A força aérea russa foi compelida a lançar ataques aéreos intensos para ajudar o exército sírio a defender a cidade.
Fonte: www.independent.co.uk