10 mil refugiados já morreram tentando chegar à Europa
Desde o início da nova onda da crise migratória na Europa, mais de 10 mil refugiados já perderam suas vidas tentando cruzar o Mar Mediterrâneo entre 2014 e 2016. Dados revelados pela ONU apontam que, se só em 2015 mais de 1 milhão de pessoas entraram na Europa, parte delas não sobreviveu à travessia.
Em 2014, foram 3,5 mil mortos, contra 3,7 mil no ano seguinte. Apenas nos cinco primeiros meses de 2016, a taxa já atinge 2,8 mil e a ONU já teme que o ano terminará com um novo recorde. “Nos últimos dias, passamos a horrível marca de 10 mil mortes”, afirmou a entidade.
Os números representam um salto recorde no total de vítimas. Entre 2007 e 2012, por exemplo, 6 mil pessoas haviam morrido ao tentar cruzar o mar.
Segundo a Organização Internacional de Migrações (OIM), o ano já conta com quase mil mortes a mais que o mesmo período de 2015. A última tragédia ocorreu na costa de Creta, com o naufrágio de um barco com mais de 650 pessoas; 320 delas continuam desaparecidas.
Até domingo, 206 mil refugiados e imigrantes haviam desembarcado nas costas europeias, principalmente via Grécia, Chipre, Espanha e Itália.
Duramente criticada e surpreendida pelo maior fluxo de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, a União Europeia (UE) já prometeu novos esforços para resgatar pessoas no mar, novas estratégias para lidar com os traficantes e mesmo uma política para distribuir os estrangeiros que chegam até o continente entre os 28 países do bloco. A UE também fechou um acordo com a Turquia, financiando Ancara para que arque com os custos dos refugiados sírios no próprio país.
Para grupos como Médicos Sem Fronteira e Human Rights Watch, as medidas adotadas até agora não surtiram os efeitos necessários, e os abusos dos direitos humanos continuam sendo uma realidade para milhares de pessoas.
Na avaliação da ONU, o risco é de que o número de mortes continua subindo durante o verão do hemisfério norte. Com águas mais calmas e mais quentes no mar, traficantes proliferam o envio de estrangeiros em barcos precários, principalmente desde os portos da Líbia.
Prisão. Nesta terça-feira, 7, a crise migratória também foi alvo de uma decisão da Corte de Justiça da Europa. No julgamento de um imigrante de Gana, o tribunal estabeleceu que governos europeus não têm o direito de colocar os estrangeiros em prisões pela passagem ilegal de suas fronteiras.
Usando um passaporte falso da Bélgica, Selina Affum foi mantido em custódia pelas autoridades francesas. Defensores de direitos humanos levaram o caso aos tribunais e obtiveram uma vitória que pode estabelecer um precedente.
Pela diretriz da UE, um imigrante irregular tem 30 dias para sair do território de forma voluntária. Se não o fizer, será colocado em um avião. Mas enviar o autor da infração à prisão não está previsto.
Jamil Chade, correspondente / Genebra – O Estado de S. Paulo
Fonte: internacional.estadao.com.br