Início do Ramadã é ofuscado por conflitos no Oriente Médio
Falta de alimentos e preços astronômicos celebração em cidades cercadas. Muçulmanos fazem jejum durante o mês sagrado do Ramadã.
Muçulmanos ao redor do mundo começaram a cumprir nesta segunda-feira (6) o Ramadã, o mês sagrado no qual praticantes se abstêm de comidas e bebidas da alvorada ao anoitecer.
Da Arábia Saudita à Indonésia, o Ramadã, um dos cinco pilares do Islã, começou na maioria dos países sunitas, menos no Marrocos, onde terá início na terça-feira, e nos países xiitas, como no Irã.
Este mês de jejum é considerado um esforço espiritual e uma luta contra os prazeres terrestres durante o dia. Mas, quando o sol se põe, a festa começa com banquetes colossais onde famílias inteiras e amigos se reúnem.
Mas entre muçulmanos que sofrem com conflitos no Iraque e Síria, muitas famílias dizem que as condições precárias de vida tornarão difíceis as práticas e participação deste ano.
Faluja, Iraque
A cidade iraquiana de Faluja, que já sofre com falta de água, comida e remédios, está sendo bombardeada por forças iraquianas, milícias xiitaas aliadas e aeronaves da coalizão liderada pelos Estados Unidos, em uma ofensiva para retomar o local das mãos do grupo Estado Islâmico.
Muitas famílias fugiram para um acampamento improvisado próximo, onde dizem ter pouca eletricidade para se refrescar durante as horas em que o calor é mais forte, e um pouco de comida para entregar o jejum ao anoitecer.
“Quem pode entrar em jejum neste ano? Para entrar em jejum não é preciso comer? Não temos nada”, disse à agência Reuters Shukriya Na’im, de 75 anos, em comentários ecoados por muitos outros no acampamento.
“Costumávamos ter uma vida confortável quando estávamos em casa. Costumávamos jejuar e receber o Ramadã com felicidade, mas agora nossas vidas em tendas estão tão difíceis, doenças estão desenfreadas e está muito quente”, disse Sana Khamis, também refugiada.
Em Damasco, muitas pessoas reclamaram das dificuldades econômicas causadas pelo conflito na Síria, que já dura cinco anos e tornou difícil a criação de um espírito festivo neste mês.
Aleppo, Síria
Neste ano, mais uma vez, Ahmad Aswad, de 35 anos, que falou à AFP, não terá esta sorte em Aleppo, uma cidade síria bombardeada todos os dias.
“Aqui não há nada que se pareça com alegria. Este é o quinto Ramadã que passo durante a guerra”, lamenta este pai de três crianças que vive em um bairro controlado pelos rebeldes.
Além dos combates, a falta de alimentos e os preços astronômicos impedem a celebração do Ramadã nas cidades sírias cercadas, como em Madaya, onde uma simples alface custa 7.000 libras sírias (5 dólares).
“Há poucos produtos nos mercados e quando são encontrados estão tão caros que não é possível comprá-los”, explica Mumina. Esta mulher, de 30 anos, se limita a preparar os alimentos com latas de conserva, “muito insípidas”, enviadas pela ONU.
De qualquer forma, Mumina não está animada. Deverá passar o Ramadã “sem seus filhos e sua família”, que precisaram fugir, como tantos outros sírios.
Em Daraya, outra cidade síria cercada, “os disparos para celebrar o Ramadã nunca param”, diz sarcasticamente Shadi Matar, um militante, que conta que é preciso ser muito valente para sair e procurar comida.
Outros países
O contraste é absoluto com os outros países do Golfo. Nestes países, alguns dos quais são os mais ricos do mundo, hotéis e restaurantes competem para propor os mais caros “iftars”, a refeição noturna para romper o jejum.
Em Riad, Dubai ou Abu Dhabi, o Ramadã é o mês do consumo e do excesso, apesar de algumas medidas de austeridade impostas pela queda dos preços do petróleo nos últimos meses.
Assim, o luxuoso hotel Burkh al Arab de Dubai propõe “uma variedade de iguarias tradicionais deliciosas” para o “iftar” a 400 dirhams (110 dólares) por pessoa.
O Ramadã também provoca fervor na Indonésia, o maior país muçulmano do mundo.
Na maioria do país é praticado um Islã moderado, mas em algumas regiões, vários grupos conservadores tentam impor regras rígidas durante este mês sagrado, como o fechamento de bares e de locais de lazer.
“Respeitem o caráter sagrado do Ramadã. Não nos opomos ao lazer, mas às vezes tende à imoralidade”, declarou Khafar Shodiq, responsável da Frente de Defensores do Islã.
Na Tunísia, onde nenhuma lei proíbe de comer ou beber em público durante o Ramadã, o debate sobre a tolerância também está presente.
O Coletivo para as Liberdades Individuais, no qual participam várias ONGs, pediu às autoridades que “garantam as liberdades durante o Ramadã” e não fechem restaurantes ou cafés.
Na China, na região de Xinjiang (noroeste), onde vivem 10 milhões de uigures, muçulmanos de língua turca, o Partido Comunista no poder impôs restrições para celebrar este mês do jejum.
Fonte: g1.globo.com