Refugiados ameaçam se matar se forem expulsos da Grécia para Turquia
Refugiados sírios e afegãos detidos num campo provisório na ilha grega de Chios ameaçaram se suicidar caso sejam expulsos para a Turquia, como prevê o acordo firmado entre a União Europeia (UE) e Ancara para os viajantes que cruzaram ilegalmente o mar Egeu rumo à Grécia desde 20 de março.
Um dos detentos, o afegão Souaob Nouri disse ao jornal inglês “The Guardian”: “Se nos deportarem, nós nos matamos. Não vamos voltar [para a Turquia]”.
Um homem ao lado dele, que se identificou apenas como Akimi, afirmou: “Não somos terroristas, apenas refugiados. As condições aqui estão muito ruins. Não há água, batem em grávidas. Por que nos tratam assim? Tudo o que queremos é asilo”.
O cenário do campo de Chios é tenso desde semana passada, quando cerca de 800 pessoas escaparam do local após confronto com agentes e seguiram para o centro da ilha. Também são precárias as condições no campo de Moria, na ilha de Lesbos, onde há cerca de três mil migrantes e refugiados – em torno de 90% já manifestaram interesse de asilo na Grécia.
Preocupado com a situação, o papa Francisco visitará Lesbos no próximo dia 16, anunciou o Vaticano nesta quinta-feira. Em 2013, ele foi à ilha italiana de Lampedusa, que naquela época era o principal ponto de chegada de migrantes e refugiados na Europa.
Os protestos de refugiados também foram registrados no campo de Idomeni, na fronteira com a Macedônia, onde cerca de 12 mil aguardam pelo desbloqueio da passagem para tentar chegar a países da Europa Central, em especial a Alemanha.
Em uma manifestação no porto de Pireus, cidade vizinha a Atenas, crianças e bebês foram levantados ao ar, e a imprensa grega disse que um homem chegou a ameaçar jogar um bebê contra os policiais que faziam o cerco ao protesto.
A expulsão de refugiados e migrantes começou na segunda-feira, quando 202 pessoas foram colocadas em barcos turcos e partiram de Chios e Lesbos rumo ao porto turco de Dikili. No dia seguinte, o governo grego anunciou a suspensão temporária das deportações, afirmando que precisava de mais tempo para analisar os pedidos de asilo daqueles que pretendiam permanecer na Grécia.
A decisão ocorreu em meio à denúncia do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) de que ao menos 13 dos 202 expulsos tinham “expressado interesse” em pedir asilo, o que deveria impedir as autoridades gregas de enviá-los à Turquia. O grupo teria sido expulso por “engano”.
Vindas do Afeganistão e da República Democrática do Congo, essas 13 pessoas estão em um remoto campo na cidade turca de Pehlivanköy, montado com dinheiro da UE após o acordo do mês passado e que foi projetado para receber os deportados da Grécia. Autoridades turcas têm negado o acesso de jornalistas a esse grupo.
Na quarta-feira, o vice-ministro grego de Relações Exteriores para Assuntos Europeus, Nikos Xydakis, disse que a grande demanda por processos de asilo e a estrutura insuficiente do país para avaliá-los devem levar a uma suspensão de duas semanas das deportações, que voltariam apenas no fim do mês.
Dos 400 especialistas em processos de asilo solicitados inicialmente por Atenas desde a entrada em vigor do acordo com a Turquia, apenas 30 haviam chegado de outros países da UE até o último fim de semana. No total, há 52,4 mil migrantes e refugiados em solo grego, dos quais cerca de 5.000 chegaram após 20 de março e estão sujeitos, portanto, a serem expulsos para a Turquia.
Fonte: www.valor.com.br