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Investigação das autoridades italianas oferece insights sobre as guerras de clãs da máfia turca

Investigação das autoridades italianas oferece insights sobre as guerras de clãs da máfia turca
agosto 15
00:06 2024

Uma extensa investigação dos promotores de Milão revelou o funcionamento interno de uma rede mafiosa turca violenta e poderosa liderada por Barış Boyun, descobrindo detalhes intrincados sobre as guerras da máfia em curso, tráfico de drogas, contrabando de armas e operações ilegais abrangendo vários países, segundo a mídia turca.

O arquivo do promotor de Milão, do qual vários documentos também foram vistos pelo Turkish Minute, lança luz sobre a feroz rivalidade entre dois grandes grupos mafiosos turcos: a família Saral, liderada por Alaattin Saral; e os Şahinler, liderados por Sedat Şahin. Boyun, um notório líder da máfia, teria se aliado aos Şahinler em sua luta contínua contra os Sarals. A animosidade de Boyun em relação aos Sarals é profunda. Conversas telefônicas grampeadas revelam suas intenções de assassinar tanto Alaattin Saral quanto seu irmão, Burhanettin Saral.

A investigação também lança luz sobre o extenso império criminoso de Boyun, que inclui a produção e tráfico de drogas por toda a Europa. De acordo com o escritório do promotor de Milão, citado pela mídia turca, Boyun montou uma fábrica na Bulgária para produzir MDMA, comumente conhecido como ecstasy. Sua rede abrange vários países europeus, com um depósito de armas na Suíça abastecido com metralhadoras, M16s, Uzis e Glocks, garantindo sua capacidade de armar e equipar seus homens para qualquer operação.

A influência de Boyun no comércio de drogas é considerável, pois sua organização supervisionava o contrabando de grandes quantidades de drogas da América do Sul para a Turquia, principalmente através do porto de Ambarlı em Istambul. As drogas eram escondidas em contêineres de fundo duplo, e a operação era facilitada por funcionários corruptos da alfândega e policiais na Turquia.

O arquivo do promotor de Milão também liga Boyun a uma série de atos violentos, incluindo assassinatos na Turquia e na Europa. Um desses incidentes diz respeito ao assassinato de Veysel Erol, um cidadão turco, em Berlim em 10 de março de 2024. A investigação detalha como Boyun orquestrou o assassinato e coordenou o ataque com seus cúmplices via aplicativos de mensagens criptografadas.

Em outro caso, Boyun planejou um assalto à mão armada a uma joalheria em Istambul. O ataque, que foi realizado na noite de 26 a 27 de fevereiro, envolveu duas pessoas em motocicletas que dispararam 14 tiros contra as persianas e janelas da loja. A investigação das autoridades italianas sobre o incidente revelou um planejamento e execução meticulosos, implicando ainda mais Boyun no crime organizado.

A investigação também analisa a corrupção dentro das instituições estatais turcas que permitiram que a organização de Boyun prosperasse. De acordo com o arquivo, a rede de Boyun incluía contatos influentes dentro do estado turco que facilitavam suas atividades criminosas. Essas conexões permitiram que ele manipulasse o sistema legal, evitasse processos e continuasse suas atividades ilegais com relativa impunidade.

As declarações de Boyun, que foram registradas pelas autoridades italianas, refletem sua crença de que o estado protege certos líderes da máfia e ataca outros. Em uma entrevista, Boyun explica: “O estado está eliminando todos os líderes da máfia curda enquanto protege os líderes da máfia turca. Alaattin, Çakıcı, os Sarals, Sedat Peker — todos eles são da região do Mar Negro.”

As descobertas detalhadas das autoridades italianas fornecem um vislumbre raro do mundo violento das guerras da máfia turca e oferecem insights cruciais sobre as operações, rivalidades e conexões estatais que permitem que essas organizações criminosas persistam.

De acordo com o Índice Global de Crime Organizado de 2023 da Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional (GI-TOC), o governo turco está envolvido nas crescentes atividades de crime organizado do país.

O índice, que classifica os países em uma escala de um a 10 em termos de criminalidade, coloca a Turquia em 14º lugar entre 193 estados membros da ONU, com uma pontuação de criminalidade de 7,03.

Embora a Turquia tenha caído ligeiramente nas classificações globais desde o índice de 2021, continua sendo o principal país europeu em crime organizado, um status exacerbado por seu alegado envolvimento estatal em várias atividades ilegais. O relatório destaca as preocupantes ligações entre grupos mafiosos e funcionários do governo, sugerindo que essas relações proporcionam às organizações criminosas imunidade à aplicação da lei e à justiça, enquanto as práticas de aplicação da lei parecem inconsistentes e politicamente tendenciosas.

O relatório aponta para o papel crescente da Turquia no comércio global de drogas, particularmente no tráfico de cocaína, que aumentou significativamente nos últimos anos. A localização estratégica da Turquia, combinada com a experiência de grupos criminosos no tráfico de drogas, tornou o país um importante ponto de transbordo para a cocaína da América do Sul.

Além disso, o índice levanta preocupações de que o governo turco esteja usando mecanismos internacionais de aplicação da lei, como a INTERPOL, para fins políticos e visando jornalistas, ativistas e opositores políticos no exterior, complicando ainda mais a luta da Turquia contra o crime organizado.

Fonte: Investigation by Italian authorities offers insight into Turkish mafia clan wars  

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