“Sem futuro. Outra vez.”: Na fronteira da Turquia
“Somos peões num jogo, não é?”, perguntou ao Expresso um dos sírios que encontramos na fronteira entre a Turquia e a Grécia. Nesta breve língua de terra recolhemos relatos de pessoas que acusam as autoridades de violência e roubo. Outras, que não querem ajuda material, só gritam: “Open the door! Open the door!” Milhares de migrantes que estavam há anos à espera de oportunidade para tentar chegar à Europa lançaram-se nessa tentativa nas últimas semanas, quando a Turquia, tentando pressionar a UE a enviar mais dinheiro, abriu as fronteiras
“Open the door, open the door, open the door!”. O cântico entoado por centenas de refugiados ouvia-se nos campos agrícolas que circundam o antes bucólico posto fronteiriço de Pazarkule-Kastanies, na fronteira entre a Grécia e a Turquia, 250 quilômetros a noroeste de Istambul.
Ao longe, veem-se os imponentes minaretes da impressionante mesquita de Selimiye, na cidade de Edirne, construída no século XVI pelo arquiteto otomano Mimar Sinan para o Sultão Selim II. Do outro lado da torre de controlo militar grega, uma ou outra pequena aldeia grega perdida no meio da floresta densa do extremo nordeste do país helênico.
“E se os gregos não abrirem a fronteira? Que vão fazer?” O Expresso fez a mesma pergunta a Ali, o iraniano, Mahmut, o afegão, Amar, o sírio, ou Farah, o somali, no caminho de terra batida entre o posto fronteiriço e a aldeia turca mais próxima, Eskikaraagaç. A resposta foi comum: um encolher de ombros, um desviar de olhar, uma expressão vazia. “Não sei.”
A falta de perspetivas e a ausência de futuro marcaram os dois dias que este repórter passou no epicentro da mais recente crise de refugiados da Europa, que pôs Bruxelas e muitas capitais em alvoroço e desencadeou cimeiras, reuniões e mais promessas de dinheiro.