Voz da Turquia

Um triste balanço de desastres, que ceifaram 54.780 vidas na Turquia nas últimas duas décadas sob o governo do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), incluindo o recente incêndio fatal no Hotel Grand Kartal, revela um padrão de negligência governamental, afirmam críticos, segundo o jornal Cumhuriyet.

A lista de desastres é longa e trágica. Os devastadores terremotos de fevereiro de 2023, que afetaram 11 províncias no sul e sudeste do país, mataram dezenas de milhares de pessoas e deixaram milhões desabrigadas, expuseram a falha do governo em aplicar códigos de construção e se preparar para tal desastre. Críticos apontaram para a corrupção generalizada e a falta de transparência na indústria da construção, permitindo que edifícios de baixa qualidade fossem erguidos.

Outro exemplo onde sérias deficiências nos códigos de construção e resposta a emergências foram aparentes foi durante o terremoto de Van em 2011, que tirou mais de 600 vidas.

Além de desastres naturais, tragédias evitáveis também ceifaram inúmeras vidas. Acidentes ferroviários, como o desastre de Çorlu em 2018 que matou 25 pessoas no noroeste da Turquia, foram atribuídos à manutenção inadequada e à falta de investimento na infraestrutura ferroviária.

O desastre na mina de Soma em 2014, no qual 301 mineradores morreram, expôs um histórico de regulamentos de segurança relaxados e falta de supervisão na indústria mineradora. A explosão na mina de Amasra em 2022 que matou 42 mineradores expôs um perigoso desrespeito pela segurança dos trabalhadores.

De fato, a Turquia perdeu pelo menos 2.188 mineradores em acidentes de trabalho desde que o AKP assumiu o poder em novembro de 2002.

O caso mais recente, um incêndio fatal no Hotel Grand Kartal na terça-feira, destaca tragicamente esse padrão de negligência.

O incêndio, que tirou 78 vidas, expôs uma série de falhas de segurança, incluindo alarmes de incêndio não funcionais, ausência de sprinklers e saídas de emergência insuficientes. Especialistas apontaram evidências de inspeções inadequadas e falta de aplicação de regulamentos de segurança.

A resposta do governo a essas tragédias muitas vezes tem sido inadequada. Investigações são frequentemente atrasadas ou mal conduzidas, e a responsabilização dos responsáveis raramente é perseguida. Essa falta de ação tem alimentado a ira pública e erodido a confiança na capacidade do governo de proteger seus cidadãos.

Por exemplo, as vítimas do acidente na mina de Soma esperam por justiça há mais de uma década. Enquanto 51 pessoas foram julgadas, apenas 28 inspetores trabalhistas que trabalhavam para o Ministério do Trabalho e Segurança Social na época foram acusados de negligência no incidente. Outros, como os executivos da empresa responsável, Soma Coal Enterprises, foram absolvidos de todas as acusações e libertados.

Muitos empreiteiros e empresas responsáveis por construir prédios de baixa qualidade foram absolvidos após os terremotos de 6 de fevereiro de 2023. Veli Küçük, secretário-geral da Ordem dos Advogados da Turquia, disse à BBC Turkish que os promotores não encontraram base legal para prosseguir com os casos contra eles. “Funcionários públicos que fecharam os olhos apesar de saberem que esses prédios não resistiriam a um terremoto, juntamente com empreiteiros e empresas coniventes, foram todos absolvidos”, disse Küçük. “Ninguém — desde o governo até as prefeituras locais e os construtores — enfrentou quaisquer consequências pela falta de aderência aos regulamentos de construção.”

Críticos argumentam que esses desastres não são incidentes isolados, mas sim o sintoma de problemas mais profundos: uma falha sistêmica em priorizar a segurança pública e uma cultura de impunidade para aqueles que colocam o lucro acima das pessoas. Eles clamam por reformas urgentes para melhorar os códigos de construção, fortalecer os regulamentos de segurança e garantir a responsabilização dos responsáveis por tragédias evitáveis.

Fonte: Critics cite systemic negligence as Turkey’s disaster toll exceeds 54,000 under AKP rule – Stockholm Center for Freedom