Para procurador, há indícios de que turco preso em SP é perseguido
Ali Sipahi foi detido pela Polícia Federal atendendo pedido do governo da Turquia. Ele tem ligação com grupo opositor que o governo de Recep Erdogan considera terrorista, embora internacionalmente não seja considerado assim.
A acusação de terrorismo que o governo da Turquia faz contra Ali Sipahi, que está detido na sede da Polícia Federal em São Paulo desde o dia 5 de abril, é aparentemente frágil, o que pode indicar perseguição por parte do governo daquele país, de acordo com o coordenador do grupo de trabalho sobre migrações e refúgios do Ministério Público Federal (MPF), Fabiano de Moraes.
Sipahi é um pequeno empresário que vive no Brasil desde 2007, é brasileiro naturalizado e está ligado ao chamado Movimento Hizmet, que o governo turco classifica como terrorista, apesar de a ONU não o listar como entidade dessa natureza.
O governo turco pediu sua extradição e, por isso, ele foi detido na sede da PF e aguarda uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre seu caso.
A Procuradoria Geral da República (PGR) ainda vai se manifestar quanto ao mérito do caso, e o grupo de trabalho sobre migrantes e refugiados pretende encaminhar informações para auxiliar no parecer.
As informações que Moraes vai passar não são especificamente sobre Sipahi, mas, sim, sobre as circunstâncias políticas na Turquia.
“O Movimento Hizmet é considerado terrorista pelo governo turco, mas os Estados Unidos, a União Europeia e a ONU, não o classificam assim. Não há nenhum indicativo maior de que seja, de fato, uma organização terrorista”, afirma Moraes.
Ele considera que a Turquia desde 2016 vive um estado de exceção, com prisões de opositores e destituição de juízes e promotores.
Resposta da embaixada
Em resposta, a embaixada da Turquia afirma que o Hizmet é um grupo terrorista e o acusa de estar por trás de uma tentativa de golpe contra o governo de Recep Erdogan, em 15 de julho de 2016.
“O chamado Hizmet, como outras organizações terroristas, tem sua própria fé e base ideológica peculiar e uma narrativa que permite que seus membros suportem dificuldades, sacrifiquem suas relações pessoais e façam qualquer coisa, incluindo atos criminosos, para alcançar seus objetivos”, diz a embaixada.
Em nota, a embaixada lista uma série de acusações contra a organização, como falsificar documentos oficiais, lavagem de dinheiro e assassinatos –para o governo turco, o Hizmet está por trás de uma tentativa de golpe de estado de 2016, que terminou com 251 mortos)..
A organização “não é uma ameaça apenas para a Turquia, mas para qualquer país em que ela esteja ativa, incluindo o Brasil”.
Os próximos passos
Ali Sipahi será interrogado nesta sexta-feira (3), em uma sessão presidida por um desembargador da Justiça Federal.
Depois disso, o processo seguirá para a PGR, que vai emitir um parecer sobre o caso. É nessa fase que o grupo de trabalho vai contribuir com informações.
O ministro do STF responsável pela relatoria do caso, então, prepara o seu voto e leva a questão à turma, que terá que decidir se Ali será extraditado ou não para a Turquia.