Empresário turco-brasileiro preso no Brasil enfrenta extradição para a Turquia por ligações com o Hizmet

O turco-brasileiro Mustafa Göktepe foi preso em São Paulo na quarta-feira após um pedido de extradição do governo turco por suas ligações com o movimento Hizmet, informou o jornal brasileiro Folha de S.Paulo.
A prisão, ordenada pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino, é provisória e permanecerá em vigor enquanto o tribunal analisa se concede a extradição.
Göktepe, de 47 anos, mora no Brasil há duas décadas e se naturalizou cidadão em 2012. Ele é casado com uma brasileira e tem duas filhas, de 8 e 13 anos, ambas nascidas no Brasil. Figura conhecida na comunidade turco-brasileira, ele opera uma rede de restaurantes turcos que emprega mais de 100 pessoas. Ele também é presidente do Instituto Pelo Diálogo Intercultural, uma ONG brasileira focada na promoção do diálogo intercultural.
O presidente Recep Tayyip Erdoğan tem perseguido participantes do movimento Hizmet, um grupo religioso inspirado no falecido clérigo muçulmano Fethullah Gülen, desde que investigações de corrupção reveladas em dezembro de 2013 implicaram o então primeiro-ministro Erdoğan, bem como alguns membros de sua família e círculo íntimo.
Rejeitando as investigações como um golpe do Hizmet e uma conspiração contra seu governo, Erdoğan designou o movimento como uma organização terrorista e começou a perseguir seus participantes. Ele prendeu milhares, incluindo muitos promotores, juízes e policiais envolvidos nas investigações.
Ele intensificou a repressão ao movimento após um golpe fracassado em 2016, do qual acusou Gülen de ser o mentor. O movimento nega veementemente o envolvimento na tentativa de golpe ou em qualquer atividade terrorista.
O advogado de Göktepe, Beto Vasconcelos, criticou a prisão como politicamente motivada e disse que o pedido de extradição carece de mérito legal sob as leis brasileiras e internacionais. “Além de ser brasileiro naturalizado, casado com brasileira e pai de duas filhas brasileiras, Mustafa é um líder na defesa da tolerância política e religiosa e na defesa da democracia”, disse Vasconcelos.
Ele acrescentou que a defesa agirá rapidamente para contestar a detenção. “Estamos tomando medidas para solicitar a revogação de sua prisão”, disse Vasconcelos, “confiantes de que o Supremo Tribunal Federal, assim que for informado dos fatos pela defesa, o fará.”
Desde a tentativa de golpe em julho de 2016, a repressão da Turquia a dissidentes políticos se expandiu para um fenômeno global, marcado por esforços sistemáticos para silenciar críticos no exterior. O governo Erdoğan empregou uma gama de táticas coercitivas, incluindo extradições ilegais, vigilância, pressão diplomática e o abuso de mecanismos legais internacionais, incluindo a INTERPOL.
Este é o terceiro pedido de extradição feito pelo governo turco contra participantes do movimento Hizmet residentes no Brasil. Em ambos os casos anteriores, o Supremo Tribunal Federal rejeitou os pedidos, citando motivação política e falta de base legal.
Em 2019, as autoridades turcas buscaram a extradição de Ali Sipahi, cidadão brasileiro naturalizado, participante do movimento Hizmet e sócio de Göktepe. Ele foi brevemente detido sob medida preventiva, mas o STF negou por unanimidade o pedido de extradição.
Em 2022, o Supremo Tribunal Federal negou o pedido de extradição de outro participante do movimento Hizmet, o empresário Yakup Sagar, também acusado de terrorismo pelo governo turco.
Em sua cobertura do caso, a CNN Brasil observou que nenhum outro país além da Turquia designa o movimento Hizmet como uma organização terrorista e que pedidos de extradição semelhantes têm sido rotineiramente negados por tribunais em todo o mundo. A emissora também apontou preocupações sobre a falta de independência judicial na Turquia, onde o presidente Erdoğan exerce amplo controle sobre o sistema legal, minando o devido processo e a liberdade de expressão.
O caso de Göktepe surge em meio a preocupações internacionais generalizadas sobre os esforços de repressão transnacional da Turquia. Organizações como a Human Rights Watch e a Freedom House identificaram a Turquia como um dos principais perpetradores da supressão transfronteiriça da dissidência, citando um padrão de pedidos de extradição politicamente motivados, vigilância e pressão sobre os governos anfitriões. O Departamento de Estado dos EUA e as Nações Unidas também manifestaram preocupação com o uso indevido de mecanismos internacionais por Ancara para perseguir críticos no exterior, alertando que tais práticas minam as normas legais internacionais e colocam em risco os direitos de indivíduos exilados.
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