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Turquia ignora relatores especiais da ONU que investigam violações dos direitos humanos contra o Hizmet

Turquia ignora relatores especiais da ONU que investigam violações dos direitos humanos contra o Hizmet
dezembro 11
20:59 2024

O governo turco se recusou a responder às alegações de repressão sistemática contra indivíduos supostamente participantes do movimento Hizmet feitas por relatores especiais das Nações Unidas, de acordo com documentos oficiais publicados na sexta-feira pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

Em uma carta conjunta datada de 7 de outubro de 2024, sete relatores especiais da ONU questionaram o governo turco sobre medidas de “repressão sistemática contra pessoas ostensivamente participantes do movimento Hizmet, por meio do uso indevido da legislação antiterrorismo, e o impacto concomitante na sociedade civil, nos defensores dos direitos humanos, nos dissidentes políticos e nos jornalistas.”

As acusações giram em torno do tratamento dado pela Turquia a pessoas supostamente participantes do movimento Hizmet, de inspiração nos ensinamentos do falecido clérigo muçulmano Fethullah Gülen.

Em resposta, através de uma nota diplomática datada de 30 de outubro, o governo turco se absteve de responder às alegações dos relatores especiais e, em vez disso, listou acusações contra o movimento Hizmet, solicitando que os “Procedimentos Especiais do Conselho de Direitos Humanos não permitam que o FETÖ e seus membros abusem desses mecanismos, e que descartem suas alegações.”

FETÖ é um acrônimo pejorativo usado para se referir ao movimento Hizmet como uma organização terrorista.

O presidente turco Recep Tayyip Erdoğan tem perseguido participantes do movimento Hizmet desde 2013, quando investigações de corrupção implicaram o então primeiro-ministro Erdoğan, membros de sua família e seu círculo próximo.

Rejeitando as investigações como um golpe e conspiração do Hizmet contra seu governo, Erdoğan designou o movimento como organização terrorista e começou a perseguir seus participantes. A repressão ao movimento foi intensificada após uma tentativa de golpe em 2016, da qual Erdoğan acusou Gülen de ser o mentor. O movimento nega categoricamente qualquer envolvimento no golpe ou em atividades terroristas.

Os relatores destacaram práticas que, segundo eles, violam as leis internacionais de direitos humanos, incluindo prisões arbitrárias, tortura, sequestros transnacionais e abusos de vigilância.

Os relatores da ONU afirmaram que os indivíduos enfrentam repressões intensificadas, envolvendo detenções em massa, desaparecimentos forçados e processos injustos com base em leis antiterrorismo vagas. Entre junho de 2023 e junho de 2024, mais de 8.800 pessoas foram detidas e 1.500 foram acusadas de crimes de terrorismo, segundo os relatores.

Uma das principais preocupações foi o tratamento dado a crianças detidas nessas operações. Em maio de 2024, 16 crianças foram presas em Istambul e supostamente submetidas a pressão psicológica, tortura física e negação de assistência jurídica. Os relatores da ONU descreveram essas ações como claras violações das proteções internacionais aos direitos das crianças previstas na Convenção sobre os Direitos da Criança.

Os relatores também criticaram o uso, pela Turquia, de “listas cinzas” públicas, listas de procurados em que indivíduos — desde jornalistas até defensores dos direitos humanos — são rotulados como terroristas, muitas vezes sem evidências ou devido processo. Essas listas, que incluem fotos e detalhes pessoais, são divulgadas ao público junto com recompensas monetárias por informações que levem à captura dos alvos. Segundo os relatores, essa prática coloca vidas em risco, compromete liberdades e cria uma “economia de assassinos”.

Outra preocupação importante envolveu sequestros transnacionais. Os relatores alegaram que a Turquia tem sistematicamente sequestrado e retornado à força supostos participantes ao movimento Hizmet de outros países, com base em acordos bilaterais de segurança vagos. As vítimas teriam sido detidas em locais secretos, submetidas a tortura e coagidas a confissões usadas em processos judiciais.

O uso indevido de poderes de vigilância também foi alvo de críticas severas. A agência de inteligência da Turquia foi acusada de fabricar evidências do aplicativo de mensagens ByLock para condenar milhares de pessoas sob acusações frágeis de participação no movimento Hizmet. A ONU observou que tais ações carecem de devido processo legal e violam os direitos de privacidade sob as leis internacionais.

O ByLock, anteriormente amplamente disponível online, foi considerado uma ferramenta secreta de comunicação entre apoiadores do movimento desde a tentativa de golpe em 15 de julho de 2016, apesar da ausência de evidências que liguem mensagens do aplicativo ao golpe fracassado.

Os relatores pediram à Turquia que abordasse essas alegações de violações, interrompesse os abusos em curso e garantisse a conformidade com os padrões internacionais de direitos humanos. Eles expressaram preocupação especial com a ampla interpretação das leis antiterrorismo pelo governo, que, segundo eles, tem como alvo atividades políticas legítimas, dissidência e defesa dos direitos humanos.

A carta foi assinada por sete relatores especiais da ONU e um especialista, incluindo Mary Lawlor, relatora especial sobre a situação dos defensores de direitos humanos; Alice Jill Edwards, relatora especial sobre tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes; e Fionnuala Ní Aoláin, relatora especial para a promoção e proteção dos direitos humanos enquanto combate o terrorismo. Outros contribuintes incluíram Gabriella Citroni, presidente-raportadora do Grupo de Trabalho sobre Desaparecimentos Forçados ou Involuntários, e Irene Khan, relatora especial sobre a promoção e proteção do direito à liberdade de opinião e expressão.

Fonte: Turkey snubs UN special rapporteurs probing widespread human rights violations against Gülen movement – Stockholm Center for Freedom

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