Presidente turco Erdogan erra em culpar Gulen pelo golpe ocorrido na Turquia
Estou chocado com as acusação do presidente da Turquia Erdogan, destacando o Rev. Fethullah Gulen como instigador do recente golpe militar ocorrido neste pais. Estou chocado, porque tenho familiaridade com o trabalho deste turco sábio. Eu tenho estudado o seu pensamento e aprendi como ele entende a sua missão na sociedade.
Como um teólogo católico empenhado no diálogo inter-religioso, e um estudante do pensamento islâmico contemporâneo, sou um admirador de Fethullah Gulen, sinto-me obrigado a denunciar a ideia absurda de que ele ou o seu movimento, tenham iniciado este ato violento.
Com base na nova doutrina da Igreja no Concílio Vaticano II (1962-65), a solidariedade dos católicos com os seguidores de outras religiões comprometidas com a justiça e a paz é um fenômeno recente. Na verdade, eu tive a honra como teólogo, de ser nomeado para participar na composição da “Nostra aetate”, declaração conciliar da Igreja advogando uma nova abordagem para as religiões do mundo: o respeito, o diálogo, o reconhecimento dos valores comuns e a convicção pela cooperação em apoio ao bem comum.
Nos últimos anos tenho estudado o movimento de renovação (al-Nahda) de pensadores religiosos muçulmanos abertos à democracia e ao pluralismo, e ao mesmo tempo, que mantém a fidelidade da substância de sua fé; eles querem alcançar a modernidade. Como os ortodoxo e os teólogos católicos eles também lutam com este problema em pleno século 20, a ortodoxia e a modernidade. Este trabalho acabou afetando o Concílio Vaticano II.
Fethullah Gulen é parte atuante do movimento de renovação, al-Nahda. Para ele, o Islã é antes de tudo uma religião, um culto de Deus, convocando os fiéis a serem bons e praticarem o bem em suas sociedades. Ele enfatiza a mensagem do Alcorão, em que Deus quer que seu povo pratique a sinceridade, a justiça e a construção de uma sociedade justa e amante da paz.
Para Gulen, um homem voltado para a oração, o Alcorão contém a ética para toda cidadania. Em nome do Islã, ele defende a educação, a produtividade, o diálogo com as ciências e a confraternização universal. Estes são os valores promovidos pelo Hizmet, movimento de Gulen. De caráter religioso, o Hizmet é um movimento educacional. É óbvio que o Hizmet que tem sua base na fé, não tem nenhuma afinidade com atos secularistas ou militares, como foi o caso da organização da recente revolta.
Gulen sempre manteve suas atividades fora da política. Ele afirma: “Os partidos políticos vão e vêm, enquanto o Islã permanece”. No entanto, como ele e seu movimento são representantes da veracidade e da justiça. E por se atrever a questionar o que acontece na política e no governo, eles têm sido alvo de denuncia por mais de uma vez, como inimigos do Estado.
Nos últimos anos, os jornalistas associados ao Hizmet chamaram a atenção para a corrupção e o crescente autoritarismo do governo Erdogan, observações que provocaram a inimizade de Erdogan. O Hizmet foi o bode expiatório para os problemas não resolvidos na Turquia. E agora, depois do golpe, Fethullah Gulen, sábio espiritual da Turquia, é indiciado como seu iniciador. Eu chamo isso de total absurdo.
Publicado por Gregory Baum, Huffington Post, em 10 de Agosto de 2016.
Fonte: http://www.huffingtonpost.ca