Qual a posição do movimento Hizmet diante da questão dos curdos?
Desde que comecei a estudar com apoio dos participantes do Movimento Hizmet, cujo fundador vem sendo acusado pelo governo turco de terrorismo, muitos, a meu redor, me avisaram sobre o movimento. Neste ponto afirmo que sou um curdo da Turquia. A advertência deles era a seguinte: “Cuidado com estas pessoas! Pois eles fazem com que as crianças curdas se posicionem contra seu povo”. Muitos outros da parte turca me disseram que o movimento andava com o PKK, Partido dos Trabalhadores de Curdistão, cuja pricipal característica é ser a “marca da resistência curda” na Turquia. Isto porque quando o movimento começou a se ampliar, os rivais, ou noutras palavras, aqueles que não gostavam do movimento, trocavam as palavras conforme a zona em que estavam. Um dia chegaram aos curdos e disseram que o movimento era nacionalista, outro dia chegaram aos turcos e disseram o contrário. Chegaram aos russos, disseram-lhes que eles eram “Turanistas”, os que querem juntar as nações turcas. No entanto, foram ao Azerbaijão e alegaram que movimento era aliado da Rússia. Isso continuou com alegações de que o movimento trabalhava para a CIA (Centro de Inteligência Americana) e com apoio da Mossad Israelita, mas que ensinava língua turca em 170 países e levava a cultura turca a estes lugares. Constata-se que há muitas contradições absurdas. Deixaremos todos estes assuntos de lado e focaremos mais sobre a questão dos curdos, que permanece no destaque internacionais há décadas.
Em entrevista a NRT, em 04 agosto, Fethullah Gulen, inspirador do Movimento Hizmet, respondeu às perguntas sobre o golpe fracassado em 15 de julho de 2016. Entre as perguntas havia uma sobre a questão dos curdos: qual era a posição do movimento e especificamente a dele diante desta questão. Na realidade, sendo um curdo, não vejo um problema com os curdos na Turquia, mas sim uma questão de jogos políticos no Oriente-Médio por trás deste assunto, que é outra coisa. Mas apesar desta visão, minha, falaremos sobre o assunto. Durante a entrevista, Gulen diz que sua posição, desde o surgimento deste problema, foi a seguinte: “Eu sempre fui a favor de desenvolvimento daquela região, como o Curdistão iraquiano se desenvolveu. Aquela região deveria ser igual ao norte do Iraque… ”
Esta resposta já é suficiente para dizer que o movimento nunca esteve contra os curdos e para eliminar as oposições. Porém, como um exemplo vivo, falarei das realidades das afirmações citadas acima. Como afirmei no início do meu artigo, sou um curdo e estudei com apoio dos participantes do movimento. Estudei em cursos de vestibular gratuitamente, enquanto que outros pagavam para poder estudar nesses cursinhos, morei nos dormitórios do movimento e recebi bolsa de estudo, enquanto outros pagavam para morar nesses dormitórios; e existem muitos outros curdos como eu, sendo alguns deles já são professores, engenheiros, médicos e a maioria deles está presa por estudar com apoio deste movimento e ter ligações com ele. Enquanto eu recebia advertências de que o movimento era perigoso para os curdos, eu via meus professores passando por nossos quartos, as noites, para verificar se estávamos dormindo descobertos e para nos cobrir. Haviam alguns professores que sacrificavam seus domingos para que nós não sentíssemos a ausência das nossas famílias e para que tivéssemos um fim de semana bom.
Porém, no início do Processo de Resolução da Questão Curda, muitos destes dormitórios e cursos em que morávamos e estudávamos gratuitamente, foram queimados e bombardeados pelos simpatizantes do grupo terrorista PKK. Pois, estes cursos e serviços de dormitório, que davam condições para o estudo, preveniam a participação dos jovens neste grupo terrorista e o grupo perdia força e poder na região. Iremos dar alguns exemplos de cursos que foram queimados, e que comprovam que o movimento não se juntava ao grupo terrorista e nem era contra curdos.
Em 18 de abril de 2012, os simpatizantes do PKK queimaram três lugares em Nusaybin, uma cidade localizada próxima à fronteira com Síria, estes eram: uma escola primária pública, uma filial de correio e um curso. O curso foi fundado por professores voluntários que participavam do movimento Hizmet e eram conhecidos pelos moradores locais. Portanto quem apagou o fogo jogado no curso foi o próprio povo.
Em 22 de abril de 2012, em Jizre, um homem vestido com roupa de mulher atacou um curso com um metralhadora. Ninguém morreu pois o ataque aconteceu à noite.
Em 28 de março de 2012, curso, que tem o nome do famoso comandante Saladino, foi atacado com bombas poderosas.
Em 5 de novembro de 2012, na cidade de Agri (Ararat), um curso foi atacado com bombas. A explosão, além do prédio de curso, também afetou as lojas em volta do curso.
Infelizmente, estes são apenas alguns exemplos que podemos mostrar. Porém, há muitas outras tragédias que não tem como serem contadas aqui.
Como já vimos nestes exemplos, o Movimento Hizmet nunca teve, e nunca terá, vínculos com PKK. Uma vez que os dois têm objetivos muito diferentes e distantes um de outro. O PKK, durante sua trajetória que vem desde 1984, sempre se posicionou contra a educação dos jovens, para poder recrutá-los como militantes em suas forças, contra o exército turco. Em contrapartida, o Movimento Hizmet busca resolver os problemas através da educação. Uma outra afirmação vem do Jamil Bayik, um dos líderes do PKK: “Antes de começar os debates para a Solução do Problema com o governo truco, quisemos nos aproximar do Movimento Gulen. Porém, eles evitaram esta aproximação e não quiseram ter vínculos conosco. ”
Entre as afirmações de senhor Gulen, iremos finalizar nosso artigo apresentando estas: “No início do Processo de Solução, eu modestamente enviei uma carta ao Presidente Erdogan, então Primeiro-Ministro, incluindo uma relação de 10 itens sobre a solução do problema e região curda.
- Aquela região deveria ser desenvolvida como norte iraquiano e povo deveria ter sido deixado satisfeita.
- Deveriam ser oferecidas oportunidades de trabalho para os empresários curdos.
- A educação deveria ser revisada. A Língua Curda deveria ter um sistema de escrita padronizado, como o sábio Bediuzzaman havia dito 80 anos atrás: deve-se inaugurar uma universidade na cidade de Van em que o Árabe deve ser obrigatório, o Turco um dever e o curdo deve ser ter uma forma escrita e em que todo mundo possa falar e aprender o idioma curdo.
- E também devem haver postos de saúde e o serviço de médico de família deve funcionar.
- As ações militares conduzidas nesta região deveriam ser feitas de uma forma que deixasse as pessoas satisfeitas e a justiça deveria ser reformada conforme esse princípio.
E desta forma, a sociedade deveria ser abraçada. Porém, Erdogan se recusou a proceder dessa maneira, agindo segundo seu próprio interesse…” (NRT 04 de agosto de 2016).
Por Atilla Kus