Erdogan está certo em se preocupar com o movimento Gulen?
Em maio deste ano, o governo turco formalmente designou o movimento Gulen como uma organização terrorista, com o Presidente Erdogan declarando: “Não vamos dar trégua àqueles que dividem a nação”.
Após a desastrosa tentativa de golpe em julho, o presidente rapidamente colocou a culpa no “Hizmet”, outro termo para os seguidores de Gulen.
Mas o líder do movimento, Fethullah Gulen, que tem vivido os últimos 19 em exílio nos Estados Unidos, já foi um aliado do Presidente Erdogan.
A hostilidade entre eles é o resultado de um divórcio mal-feito entre o AKP de Erdogan e o Hizmet de Gulen, que se iniciou com uma guerra por território em 2011 e resultou no rompimento entra as duas forças mais poderosas dentro do estado turco em 2013.
A partir de 2002, a aliança deles permitiu a Erdogan exercer poder político, enquanto que a influência de Gulen cresceu no serviço público, polícia e judiciário.
Até agora, os esforços de governo turco para fazer com que o Sr. Gulen seja extraditado dos EUA falharam, apesar de que conversas entre as autoridades ocorreram desde o golpe que não obteve sucesso.
“Não há bode expiatório melhor”
Na entrevista desta semana com Tim Sebastian, Ercan Karakoyun, porta-voz do movimento Gulen na Alemanha e diretor da Fundação do Diálogo e da Educação, explicou que para o Presidente Erdogan, não existia bode expiatório melhor que “um movimento de eduacação pacifista em que o líder viva nas montanhas Pocono, seja muito espiritual e tenha uma vida muito reclusa”.
“Sob esse pretexto ele está limpando e expurgando o país todo”, disse o Sr. Karakoyun.
Observadores críticos do Presidente Erdogan chamaram para como rapidamente milhares de pessoas, incluindo funcionários públicos, juízes, educadores, policiais e jornalistas foram detidos após a tentativa de golpe.
Para os observadores, incluindo Johannes Hahn, o Comissionário da União Europeia que está cuidando o pedido de filiação da Turquia, parece que o governo de Erdogan tinha listas já prontas, antes do golpe, de quem deveria ser expurgado.
“As listas estão disponíveis o que indica que foram preparadas e deveriam ser usadas em um certo estágio”, disse Hahn.
E, ao mesmo tempo que o movimento Gulen nega envolvimento na tentativa de golpe – e ele emitiu uma declaração logo após o ocorrido condenando a tentativa – comentadores e observadores dizem que não existem evidências ligando os seguidores, ou até mesmo o próprio Fethullah Gulen, ao golpe.
De acordo com Richard Moore, o Embaixador Britânico na Turquia, “é bem compreendido que [os gulenistas] tinham infiltrado outras instituições, particularmente a polícia e o judiciário.
“Mas acho que ficamos todos surpresos com a escala dessa infiltração entre os militares – mas isso é uma completa surpresa? Não – ocorreram relatos de Gulenistas tentando entrar no exército já na década de 90”.
Uma organização nas sombras?
O think tank do Conselho Europeu de Relações Externas rotulou a organização de “opaca e reservada”, e observa que através de sua participação em julgamentos midiáticos de inimigos políticos que: “Com a ajuda do governo turco, o movimento Gulen criou com sucesso um estado profudo dentro da burocracia turca”.
O grupo – conhecido como Hizmet na Turquia, que significa “serviço” – mantém, contudo, que está engajado apenas em atividades relacionadas à paz e educação.
“Nos chamamos de Hizmet porque não somos um culto, portanto não reduzimos nossas atividades ao Sr. Gulen. E eu acho que as acusações de Erdogan são absurdas porque as pegações de Fethullah Gulen … ele sempre foi [democrático], ele sempre foi alguém que focou nos direitos humanos”, contou o Sr. Karakoyun ao Zona de Conflito.
Mas o líder recluso e a grande riqueza de sua organização projetam uma suspeita sobre o grupo e sua parte na tentativa de golpe fracassada.
Ele construiu um império da educação e tem ligações com a maior rede de escolas autônamas nos EUA, e algumas vieram a estar sub investigação pelo FBI por corrupção.
“É suicídio voltar para a Turquia”
“Erdogan põe seus interesses pessoais acima do estado, ele põe seus interesses pessoais acima da lei e acima do judiciário. E em uma situação como essa, é suicídio voltar para a Turquia”, disse o Sr. Karakoyun quando lhe foi perguntado pelo apresentador Zona de Conflito, Tim Sebastian, se Fethullah Gulen deve voltar para a Turquia para enfrentar um julgamento.
Se de fato a Turquia está se tornando menos democrática e mais autoritária, conforme os críticos do Presidente Erdogan alegam, então a possibilidade de uma audiência justa para seus inimigos parece remota.
Mas e a possibilidade de extradição de Gulen de seu refúgio em Saylorsburg Pensilvânia? A Turquia vem exigindo sua repatriação desde antes da tentativa de golpe, e em agosto deste ano autoridades americanas se encontraram com autoridades turcas para discutirem evidências do envolvimento de Gulen no golpe e também outras supostas atividades ilegais.
Ambos os países ficarão conscientes de sua relação desconfortável e suas recentes tensões que vieram logo em seguida da revolta de julho, quando muitos turcos aceitaram o encorajamento do Ocidente para demonstrarem moderação em sua repercursão que acumula apenas para um apoio ambíguo, na melhor das hipóteses, a seu presidente eleito democraticamente.
Alan MacKenzie, Deutsche Welle (DW)
Fonte: www.fgulen.com