Um olhar dos acadêmicos brasilerios para a Turquia
Um grupo de acadêmicos brasileiros viajaram para a Turquia em convite do Centro Cultural Brasil Turquia (CCBT) e eles escreveram este relatório na volta para o Brasil.
***
Apresentação
A Turquia é um Estado independente, de maioria islâmica e minorias de cristãos e judeus. Sua localização entre os continentes europeu e asiático dá a esse território uma posição geopolítica privilegiada. Com uma herança cultural milenar, hoje a nação é uma república constitucional democrática, secular e unitária. Desde 1963, é membro associado da União Europeia. Mas vem despontando como a mais nova nação que possivelmente poderá integrar o mercado comum europeu, em particular depois que a presidente alemã Angela Merkel sinalizou a perspectiva de apoio à sua candidatura em troca de cooperação na contenção do fluxo de imigrantes na região.
Visando um maior estreitamento binacional, tanto cultural como academicamente, a direção do IEA-USP aceitou o convite do Centro Cultural Brasil-Turquia (CCBT) para participar durante 10 dias de visitas a universidades, canais de mídia e, em particular da Bienal
Internacional de Arte de Istambul. Um dos eventos de maior destaque nesta viagem foi o debate Novos Movimentos Sociais na Turquia e no Brasil, organizado conjuntamente com o CCBT, o IEA-USP e o iFHC-Instituto Fernando Henrique Cardoso.
Esta oportunidade colocou os participantes das comitivas em contato com as atividades desenvolvidas pelo Gülen Movement Schools, um movimento ativo na área educacional, com parcerias em universidades privadas e escolas em mais de 180 países. O movimento iniciou um diálogo inter-religioso para a difusão da cultura e religião islâmicas que, para o fundador do movimento, Muhammed Fethullah Gülen, passam por um momento de desgaste de imagem devido às ações de radicais.
O movimento é também conhecido na Turquia como Hizmet (“serviço”, em português). Além da educação, também possui investimentos substanciais em mídia e cultura. Trata-se de um movimento pacifista que investe em uma interface moderna do Islão como alternativa ao tradicionalismo — muito preocupado com a manutenção de rituais e práticas antigas — e principalmente daqueles movimentos ditos integristas ou fundamentalistas.
Duas etapas
A visita do IEA à Turquia aconteceu em duas partes. Na primeira, o diretor Martin Grossmann integrou a Comitiva Artístico-Cultural Brasileira que participou, entre os dias 30 de agosto e 05 de setembro, de visitas a monumentos históricos, além de atividades e exposições da 14a Bienal de Istambul. Martin Grossmann juntou-se ao grupo a partir do dia 02 de setembro, ou seja, nos dias correspondentes à visita oficial à Bienal de Istambul.
Na segunda parte, entre os dias 05 e 12 de setembro, a Comitiva Acadêmica, formada pelo diretor do IEA-USP, pelo diretor executivo do iFHC, Sérgio Fausto e por Lourival Sant’Anna, do Instituto Fernand Braudel, conheceu as instalações e atividades apoiadas pelo Gülen Movement nas cidades de Istambul, Esmirna e Ankara.
Comitiva Artístico-Cultural, de 30 de agosto a 05 de setembro
O tema da 14a Bienal de Istambul remete a significados religiosos, culturais, artísticos, científicos e simbólicos. “Saltwater: A Theory of Thought Forms” (Água salgada: Uma Teoria de Formas Pensantes) inspirou as instalações em mais de 30 espaços espalhados pela cidade turca, como museus, bancos, garagens e jardins.
A curadoria está a cargo da norte-americana Carolyn Christov-Bakargiev que, entre outros eventos, comandou a 13a edição da aclamada Documenta de Kassel, na Alemanha, considerada a mais importante mostra de arte contemporânea do mundo.
A organização espacial das exposições obrigava os visitantes a usarem diversos meios de transporte que esta cidade (uma das maiores cidades do globo) oferece: de trens a bicicletas, de metro a ônibus barcose um barco para cruzar o estreito de Bósforo e que também propiciam acesso a trabalhos instalados em ilhas e/ou à beira das águas. Esses deslocamentos permitiam um contato qualitativo com a cidade, algo a que dificilmente um turista padrão tem acesso. O estreito liga o Mar Negro (ao norte) ao Mar de Mármara (ao sul) bem como marca a divisa dos continentes Ásia e Europa.
Esta presença em Istambul, por ocasião da abertura da Bienal (realizada em 2 de setembro), facilitou o contato da comitiva com importantes lideranças e expoentes do universo da arte contemporânea mundial e local.
Comitiva Acadêmica, de 05 a 12 de setembro
O início da programação no dia 05 incluiu visitas ao Palácio Topkapi, ao Museu Santa Sofia, à Sisterna, à Mesquita Sultan Ahmet e ao Grand Bazaar, finalizando com um jantar com a presença, entre outros, de Seyfettin Gürsel, diretor da Faculdade de Economia da Universidade Bahcesehir, de Istambul; de Cengiz Çandar, ex-correspondente de guerra; e dos jornalistas Yavuz Baydar e Sahin Alpay.
No dia 7 de setembro, o diretor do IEA foi um dos palestrantes no workshop Novos Movimentos Sociais na Turquia e no Brasil, ao lado de Sérgio Fausto, Lourival Sant’Anna, Yavuz Baydar e Oguzhan Tekin, diretor executivo do Istanbul Institute. O evento aconteceu no Centro de Mídia da Universidade Ipek, em Istambul, e reuniu especialistas em mídia digital, jornalismo, história, política e movimentos sociais dos dois países, entre eles Erkan Saka, relações públicas da Faculty of Communication da Istanbul Bilgi University; Emrah Ulker, editor internacional da TV Bugün; Erkan Kindam, editor do jornal Marstab. O grupo visitou a Fundação dos Jornalistas e Escritores da Turquia, onde foi recebido por Ibrahim Anli, secretário geral da Abant Platform.
Na sequência, o grupo conheceu a “Kimse Yok Mu?” (Tem Alguém Aí?, em português), uma organização humanitária especializada no atendimento a emergências em desastres. Esta é a única ONG da Turquia entre as 100 melhores ONGs do mundo, segundo ranking de 2015 da Geneva Global.
Também fez parte da programação uma visita à Universidade Fatih, em Istambul, com as presenças do Cevdet Meriç, presidente da instituição; Hikmet Dundar Karagoz, diretor de Cooperação Estratégica; e Osman Koroglu, da Faculdade de Artes e Ciências. Ainda em Istambul, o grupo visitou o Jewish Museum of Turkey e o jornal Zaman, o mais vendido da Turquia e único com escritório de representação no Brasil. O grupo fez contato com Sahin Alpay; Yavuz Baydar; Abdulhamit Bilici e Sevgi Akarcesme, colunistas do Today’s Zaman.
Em Esmirna, além de visitar Éfaso, cidade greco-romana da Antiguidade, o grupo foi recebido na Gediz University pelo reitor Seyfullah Çevik; por Muhammet Akdis e Mustafa Gunes, ambos vice-reitores; Mustafa Namli e Zeynep Sahin Mencutek, do escritório de relações internacionais; alguns professores e Ali Tamer Bozoklar, consul honorário do Brasil nesta cidade.
Em Ancara, a visita aconteceu na Graduate School of Social Sciences, da Ipek University, com as presenças do diretor Bestami Bilgiç e de Hakki Tas, professor de Ciências Politicas.
Nesta cidade, o grupo foi recebido na Embaixada Brasileira pelo embaixador Antonio Luis Espinola Salgado; pelo ministro conselheiro Miguel Griesbach de Pereira Franco e pelo segundo secretário Diogo Almeida. Por fim, visitaram o Museu das Civilizações da Anatólia.