Cinco perguntas sobre a atual situação na Turquia
Através destes cinco perguntas abaixo poderemos entender o contraste entre a Turquia pré-golpe e a Turquia pós-golpe. Veremos o impacto sobre a economia e sobre o turismo.
1- A Turquia é um dos países que mais esteve à frente no combate contra o terrorismo, assinando diversos acordos e tratados internacionais, especialmente no âmbito de segurança. O país, apesar de demonstrar amplo engajamento em resolver questões relacionadas a atividades terroristas em seu território, não parece ter internalizado as ações propostas em ditos tratados, e nenhuma melhoria em relação a percepção de risco e instabilidade na região aparenta ser notada. A população tem sentido, de alguma maneira, mudanças em relação à políticas de segurança? Como são recebidas as medidas propostas por Erdogan? E como o próprio governo pretende internalizá-las?
– A população está sentindo na pele as mudanças porque faz parte do dia a dia deles. Porque estão explodindo bombas nas ruas turísticas, nas estações de metrô e ônibus. Os acordos internacionais precisam ser compatíveis com as políticas domésticas para poder serem internalizados. Qual país abertamente pode declarar apoio ao terrorismo? O mundo sabe que a Turquia deu todo apoio logístico e bélico aos grupos terroristas e outros não são, que fazem oposição para derrubar Assad na Síria. O EI (Estado Islâmico) organizava piqueniques para recrutar terroristas na Turquia. Quando houve uma pressão dos Estados Unidos, a Turquia foi obrigada a parar de dar apoio. Depois começaram a explodir as bombas na Turquia. Outro exemplo pode ser a questão curda. Na política internacional Erdogan parece dar apoio ao aliados contra o EI. Mas ele não quer que os EUA forneça apoio bélico aos YPG (Grupos Curdos da Síria na linha de frente) no combate contra EI. Erdogan finalizou o processo de paz com os curdos porque o partido curdo HDP declarou abertamente que não vai permitir a Erdogan mudar do sistema parlamentar para o sistema presidencialista. Depois disso Erdogan começou a demonizar os curdos e a explodir bombas novamente com autores suspeitos.
Para poder internalizar os acordos, na máquina do Estado Turco, deve funcionar de acordo com as autoridades de um país democrático e civilizado. Parece que, enquanto continuarem as políticas ambíguas de Erdogan não há como internalizar os deveres dos acordos internacionais.
2- A criação da TURSAB em 1972 teve o objetivo de unificar e de apoiar as agências e associações referente ao turismo, desenvolvendo o setor no país. Sabe-se que a Tursab é um órgão estatal, controlada pelo ministério do turismo, mas qual a real influência desta agência no processo decisório da Turquia?
A Tursab não é uma organização estatal, possuindo um tipo de estrutura autônoma e sendo administrada por um conselho com um Presidente que são todos eleitos pelos votos de agências de viagens que são membros plenos. Portanto, ela é mais do setor privado que um órgão estatal. Aparentemente, os membros do conselho e o presidente não são funcionários do governo. Quanto a isso, eles representam as agências de viagem (a divisão de vendas, ao que parece), que é uma das principais partes na indústria do turismo. Contudo, existem alguns outros atores na indústria do turismo, tais como os hotéis, companhia aéreas, companhias de ônibus (essas 3 podem ser chamadas de fornecedoras), e recentemente apareceram portais de internet independentes. Quanto a isso, a Tursab, sendo a única representando as agências de viagens, possui um poder e papel limitados em toda a indústria do turismo por natureza. A Tursab não toma as decisões na indústria turística, mas tem o objetivo de proteger os direitos e benefícios de seus membros perante a lei e no mercado. Algumas vezes eles influenciam a legislação, mas normalmente permanecem fracos nisso pois nunca podem levantar suas vozes contra os órgãos legislativos, pois a Tursab não é forte como fornecedora mas apenas como um tipo de agente que ganha comissão ou taxas. O outro principal papel da Tursab é promover a Turquia como um destino mundialmente, ao fazer alguns estabelecimentos de comércio transfronteira e participando de feiras de turismo em outros países feitas por seus colegas.
3- A Turquia está passando por um momento de instabilidade, principalmente após a aprovação do referendo que dá a Erdogan maior poder. Na sua opinião, o referendo afetará o setor do turismo? Erdogan tem interesse em mudar algo no ministério do turismo?
Erdogan quer se tornar um presidente muito forte para tomar decisões rápidas e únicas a favor do país, ou assim se diz. Sua principal ideia é desenvolver a Turquia através de mais investimentos estrangeiros. É assim que ele venceu todas as eleições na Turquia durante os últimos 15 anos. Contudo, ele tem alguns planos escondidos também: ele quer mudar o atual regime para um mais religioso e tem o objetivo de ser o líder supremo do mundo islâmico. Ao fazer isso, ele já fica contra os maiores princípios de Kemal Ataturk, o fundador da república da Turquia. Em resposta ao seu questionamento acima, ele não apenas vai mudar a atual política do Ministério do Turismo, mas do Estado inteiro através de sua visão e ambição pessoais. Não há um único órgão governamental que reste na Turquia que não tenha medo de Erdogan. Aparentemente, Erdogan é popular com a metade da população tanto quanto é odiado pela outra metade. Isso em parte se parece com a posição de Lula no Brasil. A Turquia tinha sido o destino número 6, de acordo com o número de visitantes, no mundo até 3 anos atrás, com massivos investimentos no turismo. Mas, devido aos ataques políticos e especialmente aos atentados terroristas que vem ocorrendo nos últimos 2 anos, a indústria do turismo fui muito destruída. Apesar de a indústria turística na Turquia ter sempre sido bem dinâmica e acostumada a todos os tipos de crises nos últimos 20anos, nós podemos dizer que o período mais difícil será em 2017 e em diante. Devido ao resultado do último referendo na Turquia, Erdogan é agora a única pessoa responsável pelas coisas ruins ou boas quanto ao público e será julgado e avaliado durante as próximas eleições em 2019 pelos eleitores.
4- O lobby é uma prática comum utilizada por empresas, agências e organizações com o objetivo de engajar um determinado ator (neste caso, o governo) a realizar uma ação que vá beneficiar o seu negócio. No caso da Turquia, existem ações de grandes corporações que são engajadas por meio do lobby? Essas ações estão relacionados aos deputados de uma bancada, por exemplo a bancada do turismo?
Sim, certamente. Fazer lobby sempre foi importante na Turquia. Contudo, para analisar a situação na Turquia com mais precisão, devemos notar o fato de que as pessoas na Turquia estão divididas em 2 partes, partidários de Erdogan e de seu partido governante AKP estão em um dos lados, e a oposição a Erdogan e ao AKP no outro lado. Ambos os lados são considerados como representando igualmente metade da população, aproximadamente. O partido governante AKP e Erdogan financiam e apoiam seus partidários muito mais que a oposição, apesar do fato de que o governo pertence e deve representar igualmente 100% da população. Erdogan normalmente considera seus 50% de partidários como mais importante que o 50% de oposição e, de acordo com isso, o lobby dos 50% de Erdogan é muito mais eficiente e forte do que qualquer outro.
5- A Turquia que já foi a sexta nação mais visitada do mundo viu sua demanda referente ao turismo cair drasticamente após diversos ataques terroristas e instabilidade política que impactam negativamente o país. O governo estima que ainda este ano a Turquia consiga recuperar boa parte do setor devido aos planos de ação que vem implementando, porém os fatos não aparentam mostrar esta realidade. Só em 2016 a Turquia perdeu cerca de 30% de seus turistas se comparado ao ano de 2014 e o setor não aparenta nenhuma melhoria a curto prazo. Na sua percepção, como a demanda tem sido afetada em relação a este setor?
Vamos destacar alguns números dos visitantes que entram de acordo com sua origem e destino da seguinte forma: a Turquia teve 30 milhões de visitantes em 2015, 5 milhões de russos, 5 milhões de alemães dão 10 milhões e são as 2 principais nações do mundo do total de visitantes. Pelo outro lado, 10 milhões de visitantes que chegam em Istambul e os outros 10 milhões que visitam Antália representam 66% do total de turistas, vindo de duas cidades na Turquia. Quando uma bomba explodiu em Istambul matando 10 alemães e quando o caça de guerra russo havia sido abatido pelas Forças Aéreas Turcas, tanto os turistas alemães quanto os russos quase pararam de vir para a Turquia por todo o ano de 2016. E ainda mais, as explosões enormes no Aeroporto de Istambul e a tentativa de golpe militar, posteriormente, afetaram o turismo ainda mais dramaticamente. Para substituir os alemães e russos, a indústria de turismo turca tem priorizado mercados árabes e também o mercado doméstico turco para encher os hotéis vazios em 2016. Isso foi parcialmente resolvido e reduziu a influência enorme dos danos da perda de mercado da Rússia e da Alemanha. No começo de 2017, todos os problemas que vinham ocorrendo entre a Rússia e a Turquia foram reduzidos e existe uma grande expectativa de que os russos retornassem à Turquia em 2017. O número de linhas aéreas e seus voos aumentaram enormemente de ambos os lados dos governos. Contudo, ainda há problemas políticos entre os governo turco, alemão e holandês e isso afeta negativamente os visitantes alemães e holandeses na Turquia em 2017. Quanto a isso, de acordo com os dados finais extraídos, haverá um aumento no número de visitantes russos e árabes mas infelizmente o número de turistas europeus permanecerá mais baixo do que costumava ser até 2014, como no caso daqueles velhos e bons dias. Enquanto isso, a construção do maior aeroporto do mundo em Istambul tem continuado e aparentemente ele vai abrir em fevereiro de 2018, que aumentará naturalmente o número de voos aterrizando na Turquia. Mesmo assim, tudo depende da tensão política e o nível de segurança no país, que estão um pouco desconhecidos até agora.