Comércio bilateral entre Brasil e Turquia quadruplicou em dez anos
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), troca entre os dois países passou de US$ 530 milhões em 2004 para US$ 2,102 bilhões em 2013
Apesar de não serem grandes parceiros de negócios, a corrente de comércio entre o Brasil e a Turquia deu um salto nas últimas décadas, passando de US$ 530 milhões em 2004 para uma soma de US$ 2,102 bilhões no ano passado.
Até agosto deste ano, as trocas comerciais entre os dois acumulam US$ 1,4 bilhões. E o saldo da nossa balança com o país euroasiático está em US$ 53 milhões.
Tanto pela sua localização geográfica, como pela sua importância política regional, a Turquia possibilita acesso aos mercados europeu, asiático e do Oriente Médio.
“A Turquia tem um acordo de preferência comercial com a União Europeia (UE) desde 2004. Portanto, uma solidificação do comércio bilateral entre o Brasil e esse país nos abriria portas para o mercado europeu”, afirma o professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Marcus Vinicius de Freitas.
Desde 2004, quando foi firmado o Acordo de Associação com a União Europeia, as trocas comerciais entre a Turquia e o bloco econômico têm se elevado durante os anos, afirma o professor.
Internacionalização
Freitas afirma que a melhor forma de o Brasil tornar mais sólida a sua relação com a Turquia é por meio da internacionalização de empresas entre os dois países. “A maior parte do comércio internacional ocorre intraindústria, de matriz vendendo a subsidiária”, afirma Freitas.
“Portanto, a relação bilateral entre os dois se fortaleceria se mais empresas brasileiras abrissem filiais na Turquia, entendo aquela região como um hub de expansão ao Oriente Médio, à Ásia e ao leste da Europa”, diz. “O Brasil também é uma região estratégica para a Turquia, podendo ser um hub também de acesso ao grande mercado da América Latina”, completa.
Uma das empresas brasileiras que estão hoje na Turquia é a Metalfrio. A empresa se estabeleceu no país em 2005, quando passou a fabricar refrigeradores destinados ao mercado europeu. Em 2008, a partir de uma estratégia de expansão global e foco nos mercados emergentes, entrou na Europa Oriental e o Oriente Médio.
Os produtos básicos lideram a pauta de exportação brasileira à Turquia, com soja, café e minério de ferro.
No entanto, produtos semimanufaturados e manufaturados também são vendidos ao país euroasiático, como parte de motores, fumo, tubos de aço, entre outros.
Possibilidades
Freitas diz que, tendo em vista a alta competitividade dos produtos chineses, uma forma de o Brasil adicionar maior valor agregado às suas exportações à Turquia é investir na manufatura de alimentos, como a fabricação de enlatados de grãos e frutas. “O Brasil também poderia exportar sua tecnologia em desenvolvimento agrícola”, diz o professor da FAAP. Outra oportunidade de negócio é o setor militar, já que a Turquia é um grande consumidor desses produtos.
Já a maior parte dos produtos importados pelo Brasil da Turquia são manufaturados, como barras de ferros, partes de veículos, alumínio, maquinário, ferro fundido, pérolas, etc.
O comércio internacional entre os dois países, em números, ainda é muito pequeno. O Brasil representa apenas 0,9% das exportações totais da Turquia. E se posicionou, em 2013, em 33º lugar entre os fornecedores do mercado turco com 0,6% do total.
A Turquia foi, em 2013, o 41º parceiro comercial brasileiro, com participação de 0,44% no comércio em nosso comércio exterior. Entre 2009 e 2013, o intercâmbio comercial brasileiro com o país cresceu 108%, de US$ 1,01 bilhão para US$ 2,1 bilhões. Nesse período as exportações aumentaram 57% e as importações, em 187%. Todos esses dados são do BrasilGlobalNet.
Salto
Freitas explica que a maior aproximação comercial e diplomática do Brasil com a Turquia passou a ocorrer em meados da década 2000, quando o país passou por diversas reformas em sua economia.
Essas mudanças foram implementadas a partir de 2003, pelo então primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan – hoje presidente da Turquia – e tiveram um caráter liberalizante.
“Com a redução das taxas de juros, houve um aumento da renda per capita da população”, cita Freitas. “A Turquia conseguiu se consolidar como um líder naquela região, o que faz ter mais ambições econômicas em termos globais”. complementa o professor.
“O essencial para a aproximação dos dois países foi a diversificação das parcerias brasileiras em seu comércio exterior, a partir da crise financeira de 2008. Isso passou a atrair maior interesse dos turcos no Brasil”, diz.
Potencial
O professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UNB), Roberto Goulart, afirma que o acordo nuclear assinado pelo Irã, proposto pelo Brasil e pela Turquia em 2010, também é outro exemplo de aproximação diplomática.
Apesar de ter uma troca comercial “residual”, diz o professor, o Brasil e a Turquia têm potencial para se aproximarem, já que são duas potências com influências políticas regionais. Para ele, a relação diplomática entre os dois países pode ajudar a aumentar o volume de negócios.
Por Paula Salati do jornal DCI (Diário Comércio, Indústria & Serviços). Disponível aqui.
Fonte: www.brasilturquia.com.br