Alta do dólar cria cenário favorável para estrangeiros no Brasil
Enquanto cresce o pessimismo de empresários brasileiros diante do cenário recessivo e da alta do dólar, que amargam o Brasil, investidores estrangeiros encontram diversas oportunidades de crescimento na economia local. Com uma expectativa de oscilação do dólar na faixa de R$ 3,75 e R$ 4,30, o momento é favorável para a aquisição de ativos.
Tal é, em resumo, o quadro que apresentou o economista brasileiro Lucas Bender para empresários turcos que se reuniram na sede da Câmara de Comércio e Indústria Turco-Brasileira (CCIBT), em 18 de fevereiro, no seminário “Crise ou Oportunidade?”.
O palestrante, que avaliava gestoras de recursos e fundos de investimentos pela Fitch Ratings e que atualmente é gestor de recursos, foi apresentado pelo Vice-Presidente da CCIBT, o empresário Fatih Özdemir, para falar em um dos encontros mensais organizados com o objetivo de “fortalecer o conhecimento dos associados a respeito do mercado e do país”.
A reiteração de um ciclo
Após as palavras do Özdemir, o convidado fez um resumo da economia do Brasil, assinalando que, para entender o que está acontecendo hoje, seria preciso observar a trajetória da inflação, o efeito do Plano Real e o boom das commodities.
“A atual conjuntura econômica brasileira pode ser entendida ao observar a história econômica do país, já que muitos processos se repetem ou tem dinâmicas semelhantes para os principais indicadores econômicos”, segundo a sua análise. Para identificar essas “possíveis reiterações de ciclo”, Bender caracterizou quatro fases na evolução do país:
- Anos 80: estagnação e a chamada década perdida
- Anos 90: redemocratização e abertura da economia
- 1998-2003: crise cambial e econômica
- 2003-2015: boom das commodities e estagnação
Confiança dos estrangeiros
“É interessante notar como os investidores estrangeiros usualmente aportam dinheiro no Brasil nos momentos em que os ativos estão baratos e vendem quando eles estão caros, ao contrário de muitos investidores locais, que vendem os ativos quando eles estão baratos”, disse Lucas Bender, que já foi objeto de reportagens em revistas especializadas, como IstoÉ Dinheiro, pelo seu desempenho como gestor de recursos em períodos de crise.
Após mostrar que aproximadamente 50% das movimentações diárias da Bovespa são realizadas por estrangeiros, ele diz que, apesar das notícias negativas sobre o país, não se observa um movimento de saída desses capitais, a exemplo do que acontece em outros países em períodos de crise. O que reforça a tese de “aposta no Brasil”.
“É interessante, ainda, que o investimento estrangeiro aumentou nas épocas de crise no Brasil”, apontou o especialista. “Por conta da alta do dólar, o momento atual é uma oportunidade. As empresas brasileiras estão baratas e com muita dívida, o que as torna uma ótima opção para investidores estrangeiros que desejam se posicionar no mercado local”, resumiu.
Para exemplificar, citou levantamento feito pela PwC, onde só em 8 setores da economia já é possível encontrar 90 bilhões de dólares em ativos à venda.
Alta do Dólar
Quanto ao dólar, o experto (com dez anos trabalhando com gestão e análise de ativos, incluindo a moeda americana) avalia que, nos próximos meses, a cotação deve flutuar entre R$ 3,75 e R$ 4,30, e a retração do PIB, conforme o Boletim FOCUS, chegará a -3,01% em 2016.
Bender disse que a crise vivida pelo Brasil no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff tem cunho político, mais do que econômico. “Caso mudanças políticas ocorram, de tal forma que a expectativa dos agentes econômicos sobre a economia melhore, o dólar poderá cair. Em um primeiro momento, neste cenário, a moeda poderia cair e oscilar entre R$ 3,30 e R$ 2,90. Neste caso, faria sentido que ficasse nesse patamar por um tempo”, segundo ele.
Metas de inflação
A respeito da inflação, que em 2015 fugiu da banda superior no sistema de metas estabelecida pelo Banco Central, 6,5%, o gestor diz que “há uma polêmica entre os agentes do mercado sobre o que está gerando a inflação, se é um repasse de custos ou excesso de demanda. Dependendo do elemento a ser atacado, a política econômica pode mudar”.
Independente do motivo, Bender prevê que 2016 terminará com uma inflação próxima de 7,26% e taxa básica de juros, Selic, em 14,25%, alinhado com o Boletim FOCUS. Ao analisar o comportamento histórico da bolsa de valores, conclui “Não há espaço para posteriores desvalorizações de ativos. Será difícil ver piora na economia, o máximo que veremos será mais do mesmo, até que o governo sinalize mudanças críveis”.
Os empresários turcos
No auditorio encontravam-se empresários da indústria automobilistica, têxtil e de plástico, dentre outras.
“O corte do Finame (financiamento do BNDES para produção e aquisição de máquinas e equipamentos de fabricação brasileira) fez com que houvesse mais espaço para a reposição de peças”, diz Walter Romero, gerente comercial do NSK Group no Brasil, fabricante de autopeças. Şaban İnci, gerente geral da mesma companhia, apontou o dólar e os impostos como as principais dificuldades para a expansão dessa empresa.
Já Fatih Özdemir, de Aras Comércio de Produtos de PVC Ltda., concordou com a percepção de Bender a respeito de um ciclo que estaria se repetindo. “Moro no Brasil há quinze anos e já vi o dólar chegar a R$ 4 (em 2002) e depois cair. Acredito que vai voltar a cair e depois a economia vai voltar a crescer. Agora é hora de marcar posições para estar preparados quando isso acontecer”, concluiu.
Por Carlos Turdera