Turquia é um país de gangues, diz Yucel
Deniz Yucel, um jornalista turco-alemão que passou mais de um ano em detenção preventiva na Turquia, criticou Muharrem Ince, que foi candidato presidencial do Partido Popular Republicano (CHP), por suas declarações sobre o pastor americano Andrew Brunson, chamando o governo turco de “um estado de gangues que chantageia outros com reféns.”
Comentando sobre a ameaça da administração dos EUA de impor “grandes sanções” à Turquia pela longa detenção do Pastor Brunson, Ince em sua conta no Twitter alegou que isso era devido à fraqueza do regime de um homem só na Turquia, citando os casos de Yucel e Brunson como exemplos.
“Sr. Ince, a Turquia de hoje não é um estado que esteja exposto às chantagens de outros. É um estado de gangues que tenta fazer chantagens pegando os cidadãos de outros países como reféns,” disse Yucel, citando a mensagem de Ince no Twitter.
“Você pode um dia compreender a diferença de aprender as lições como verdade para o CHP,” acrescentou Yucel.
O 2º Supremo Tribunal Criminal de Esmirna, na quarta-feira, decidiu mudar Brunson da detenção preventiva, onde ele estava sendo mantido desde outubro de 2016, para a prisão domiciliar em Esmirna, mas proibido de deixar as premissas ou o país. O mesmo tribunal, na semana passada, decidiu manter Brunson, que enfrenta 35 anos, na cadeia, marcando a próxima audiência para 12 de outubro.
“Os Estados Unidos vai impor grandes sanções à Turquia pela longa detenção do Pastor Andrew Brunson, um ótimo cristão, homem de família e incrível ser humano. Ele está sofrendo grandemente. Este homem de fé inocente deve ser solto imediatamente!” tuitou o presidente americano Donald Trump na quinta-feira de manhã, logo após um tweet do Vice-Presidente Mike Pence que dizia: “Se a Turquia não tomar uma ação imediata para libertar este homem de fé inocente e mandar ele para casa nos EUA, os Estados Unidos vai impor sanções significativas à Turquia até que o Pastor Andrew Brunson esteja livre.”
Yucel estava trabalhando como um correspondente da Die Welt na Turquia quando foi elevado sob custódia pela polícia em Istambul, em 14 de fevereiro de 2017. Um mandato para sua prisão foi emitido pouco tempo depois. Em março, o jornalista de 43 anos foi transferido para a prisão de segurança máxima de Silivri. Muitos defensores da imprensa e dos direitos consideraram ele como um refém do governo da Turquia.
Após um longo processo de barganha política, Yucel foi solto em 16 de fevereiro de 2018 por um tribunal de Istambul, depois de um ano passado na Prisão de Silivri.
A agência de notícias estatal Anadolu informou que os promotores haviam entrado com um indiciamento contra Yucel buscando uma condenação de 4 a 18 anos. Foi na audiência em que o repórter foi indiciado que o tribunal ordenou que ele fosse liberto até o início do julgamento, mas acreditou-se que fosse um passo de procedimento que foi necessário para providenciar sua soltura.
O presidente Recep Tayyip Erdogan acusou Yucel de atuar como um agente alemão e um representante do terrorista Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
“Esse foi um dia muito interessante. Foi dada uma decisão judicial enquanto eu estava deixando a prisão [de Silivri]. Uma decisão do 3º Tribunal Penal de Paz datada de 13 de fevereiro [de 2018]: Continuação da prisão. Apesar dessa decisão eu fui solto. Por que fui solto hoje, por que fui preso um ano atrás, eu ainda não sei,” disse Yucel em um vídeo postado nas mídias socias depois que chegou na Alemanha.
“Seja o que for. Sei que nem minha prisão no ano passado — eu fui levado como refém — nem minha soltura hoje está relacionada à lei ou ao estado de direito. Sei disse muito bem. Acho que todo mundo que veja essa situação consegue entender isso,” acrescentou ele.
“Existe muita coisa para se dizer, mas isso é tudo por hora.”