Erdogan pode perder?
A questão a respeito das eleições antecipadas da Turquia em 24 de junho não é que candidato ou partido vencerá. Isto é, o povo turco ficará sabendo a resposta para uma pergunta mais importante: Erdogan pode perder?
Recep Tayyip Erdogan e seu governante Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) venceram 12 eleições desde novembro de 2002. Entre cinco eleições parlamentares, apenas uma vez, em 7 de junho de 2015, o AKP não conseguiu formar um governo de partido único, apesar de ter angariado 40,5 por cento dos votos. Logo após esse resultado, Erdogan forçou uma repetição da eleição, e cinco meses depois, em 1 de novembro de 2015, o AKP retomou o regime majoritário por 49,5 por cento.
“Houve uma indecisão em 7 de junho, e nós pagamos por isso,” disse Erdogan em uma reunião do partido em 27 de abril. Entre junho e novembro, o ataque terrorista mais mortal na história da Turquia ocorreu, matando 109 pessoas. Também, o AKP terminou o processo de paz com as milícias curdas armadas depois de 7 de junho, quando o Partido Democrático Popular, que é pró-curdos, excedeu o limite de 10 por cento na eleição e interferiu com os sonhos presidenciais de Erdogan.
Contudo, as eleições de 7 de junho ainda foram na maior parte consideradas como sendo uma aberração. Desde que Erdogan expandiu seu poder através da burocracia e da mídia, acredita-se que o povo turco esteja votando sob condições injustas.
“Não há dúvidas que o Sr. Erdogan, no poder como primeiro-ministro e presidente pelos últimos 15 anos, vai vencer de enxurrada. Sensível a críticas, bombástico e cada vez mais intolerante a qualquer oposição, ele se assegurou de que ninguém mais possa vencer,” argumentou o The Times em um artigo publicado em 7 de maio. Ele descreveu as condições das eleições antecipadas como “nem livres, em justas.”
Uma análise forense eleitoral escrita por cinco cientistas políticos proeminentes depois de um referendo constitucional realizado em 16 de abril de 2017 concluiu que “em particular a nossa análise sugere a existência de votos múltiplos e falsos em cerca de 6 por cento das seções eleitorais e um efeito combinado com manipulação eleitoral que foi simplesmente grande o suficiente para mudar o resultado do referendo de ‘Não’ para ‘Sim’.”
Antes de Erdogan decidir formar uma aliança com o Partido do Movimento Nacionalista (MHP) antes do referendo, o AKP tinha obtido 49,5 por cento dos votos além dos 11,9 por cento do MHP nas eleições de 1º de novembro de 2015. No entanto, o esforço conjunto deles no referendo apenas resultou em uma vitória por um milímetro. Até os mitos cercando a tentativa fracassada de golpe de 15 de julho não conseguiu impulsionar a aposta deles.
É por isso que a oposição turca está mais otimista quanto às eleições antecipadas. Dessa vez, o Partido IYI (Bom) de Meral Aksener poderia ganhar o suficiente de eleitores nacionalistas do MHP de Devlet Bahceli, enquanto que o Partido da Felicidade (SP) de Temel Karamollaoglu pode prejudicar o AKP ao atrair o apoio de islamitas resentidos.
Ainda assim, é preciso apoio curdo para se derrotar Erdogan na corrida presidencial. O HDP, aqui, pode fornecer uma maioria para a oposição no Parlamento e também servir como um fator determinante para o posto mais alto na política turca. Se o HDP passar do limite dos 10 por cento e se juntar às forças de oposição em uma segunda rodada de votos, Erdogan poderia perder.
Uma nota esperançosa sobre o esperado apoio do HDP à aliança CHP-IYI-SP é que o candidato do CHP, Muharrem Ince, visitou Selahattin Demirtas, que é curdo, do HDP na cadeia em 9 de maio. E também, Karamollaoglu do SP está tentando fazer declarações simpáticas aos curdos durante sua campanha. Contudo, a nacionalista Aksener ainda é um ponto de interrogação para muitos eleitores curdos.
Todo o resto posto de lado, as flutuações selvagens da economia turca, a polarização paralisante entre a sociedade e a sempre acalorada agenda política, tudo dá grande apoio à oposição turca.
Fonte: www.turkishminute.com