Seis jornalistas turcos condenados a prisão perpétua
A justiça turca condenou esta sexta-feira a prisão perpétua seis jornalistas turcos acusados de estarem envolvidos na alegada tentativa de golpe de Estado que aconteceu naquele país em 2016. A decisão foi tomada no mesmo dia em que outro tribunal turco decidiu libertar o jornalista Deniz Yücel, que esteve preso durante um ano sem acusações.
Os seis jornalistas foram considerados culpados por terem ligações ao clérigo muçulmano que Fethullah Gülen, que reside nos EUA e que a Turquia culpa pelo alegado golpe falhado de 15 de julho de 2016. O tribunal de Istambul afirmou que os seis tentavam “abolir a ordem da Constituição da Turquia para trazerem uma nova ordem, estruturada por eles”. Foram acusados também de enviarem mensagens codificadas através da televisão e de colunas nos jornais onde escreviam, onde pediam a saída do Governo do poder.
“A decisão do tribunal em condenar os jornalistas a prisão perpétua pelo trabalho que fazem sem apresentarem provas substanciais do envolvimento dos mesmos numa tentativa de golpe de Estado ameaça diretamente o jornalismo e a liberdade de expressão dos órgãos de comunicação social na Turquia e no mundo”, diz David Kaye, que pertence às Nações Unidas.
Quem são os jornalistas?
Ilicak, de 73 anos, foi uma das primeiras jornalistas turcas detidas em julho de 2016 e escreveu para vários jornais turcos, incluindo o prestigiado Hurriyet. Ahmet Altan, de 67 anos, é um romancista e jornalista que escreveu para alguns jornais incluindo o Hurriyet and Milliyet. Ainda fundou o jornal de oposição Taraf. Já o irmão, Mehmet Altan, de 65 anos, escreveu livros sobre a política turca e dava aulas de economia. Segundo a BBC, o jornalista teve uma ordem do tribunal a seu favor – mas foi anulada esta sexta-feira.
Yakup Simsek, outro dos que foram condenados a prisão perpétua, era diretor de marketing do jornal Zaman (afiliado por Fethullah Gülen) e Fevzi Yazici fazia parte do design do jornal. Gülen já veio negar qualquer envolvimento na tentativa de golpe de Estado.
Desde a tentativa de golpe de Estado naquele país, as autoridades turcas já prenderam mais de 50 mil pessoas e despediram mais de 150 mil trabalhadores como funcionários públicos, jornalistas, professores, polícias e advogados.
366 dias preso sem acusação
O tribunal turco decidiu libertar o jornalista Deniz Yücel, que terá de ir novamente a julgamento. Os procuradores alegaram que a investigação ao jornalista estava completa mas que continuam a lutar para que o jornalista seja condenado a uma pena de 18 anos por, alegadamente, ter espalhado propaganda em nome de uma organização terrorista.
A ordem para libertá-lo foi confirmada pela agência noticiosa turca Anadolu, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros alemão e pelo advogado de defesa de Yücel, que fotografou o jornalista a abraçar a mulher quando foi libertado. O correspondente do alemão “Die Welt” foi detido no dia 14 de fevereiro do ano passado, depois de ter sido chamado para um interrogatório numa esquadra em Istambul. Casou-se na prisão e passou meses numa solitária na prisão de segurança máxima Silivri, a quilómetros da capital turca. Esteve 366 dias detido sem acusações formais.
Originalmente publicado em: http://expresso.sapo.pt