Plebiscito pela Independência do Curdistão Pode Mexer com o Mercado de Petróleo?
Em junho de 2017, o Governo Regional do Curdistão (GRC) anunciou que em 25 de setembro de 2017 seria realizado um plebiscito sobre a independência curda. Atualmente, o GRC possui autonomia nas áreas do norte do Iraque, onde a população de curdos iraquianos é maior, mesmo embora essa área seja, tecnicamente, parte do Iraque.
O plebiscito tem o potencial de incomodar tanto alianças geopolíticas como mercados de petróleo. A região designada pelo GRC para um futuro Curdistão independente inclui territórios que não são oficialmente parte da região autônoma do Curdistão, mas estão atualmente sob controle das forças curdas Peshmerga. Essas áreas adicionais incluem uma quantidade significativa de recursos de petróleo localizadas no norte do Iraque. O GRC deveria controlar apenas 6% dos recursos de petróleo do Iraque, mas atualmente controla cerca de 20%.
Se o GRC decidir pela independência e for capaz de manter militarmente essa independência, há o potencial de um Curdistão independente controlar aproximadamente 28,5 milhões de barris das reservas de petróleo bruto. Isso colocaria o novo país entre os principais produtores de petróleo no mundo, pouco acima da Nigéria.
Do ponto de vista puramente do mercado de petróleo, o plebiscito pode não impactar os mercados de petróleo no curto ou longo prazo, porque o GRC provavelmente continuará a produzir o petróleo no mesmo nível ou em níveis similares ao que atualmente é produzido. Por outro lado, o plebiscito apresenta uma variedade de questões regionais que poderão mexer nos preços do petróleo dependendo de como eles farão tudo isso.
Se o GRC declarar independência, aonde irá o seu petróleo?
O petróleo curdo é atualmente levado ao mercado através do oleoduto Ceyphan, que o leva a dois portos na Turquia. Tradicionalmente, a Turquia tem se oposto veementemente a um Curdistão independente. O governo turco considera o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, na sigla em curdo) da Turquia um grupo terrorista. A Turquia poderia fechar o oleoduto Ceyphan ou um Curdistão independente poderia temer a distribuição de seu petróleo através do território de um vizinho rival. De forma alternativa, os curdos poderia tentar apaziguar a Turquia refazendo sua oferta de vender a este país uma participação nos campos petrolíferos do GRC.
Um Curdistão independente causará discórdia na Opep?
Se 20% dos recursos atuais de petróleo do Iraque estiverem sob o controle de um estado curdo novo e independente, outros membros da Opep poderão tentar levar o GRC para a Opep para manter este petróleo nos termos dos acordos do cartel. Se membros poderosos da Opep como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Kuwait se aproximarem do GRC de uma maneira que reconheçam internacionalmente a independência curda, eles poderiam causar sérios problemas com o Iraque e o Irã. Um sinal de que isso pode acontecer seria um possível convite da Opep para que um representante do GRC participasse de sua próxima reunião em Viena em novembro.
Se a Opep não conseguir levar os 20% do petróleo iraquiano controlado pelo GRC para o cartel, isso poderia causar discórdia com importantes países externos à Opep que participam do pacto de cortes na produção. A Rússia e o Cazaquistão já expressaram seu descontentamento com a incapacidade da Opep limitar a produção de petróleo em países membros como a Líbia e a Nigéria. Um produtor incontrolável em um Curdistão independente poderia preocupar ainda mais os participantes do acordo de cortes na produção que são externos à Opep. Para manter o acordo de cortes na produção, seria importante manter o petróleo curdo dentro do cartel.
O plebiscito da independência curda representa um desconhecido significativo aos mercados de petróleo. Ninguém sabe como o processo se desdobrará e como alianças geopolíticas e de petróleo serão refeitas.
Muitas vezes, grandes eventos acabam tendo pequenos resultados, mas algumas vezes eles levam a mudanças regionais imprevistas e reequilibram o poder econômico e geopolítico. Uma declaração de independência do Curdistão apresentará um país novo e não árabe no coração do Oriente Médio e ninguém pode prever qual será o resultado.
Por Ellen R. Wald, Ph.D.
Originalmente publicado em: https://br.investing.com/