Clérigo turco nega envolvimento em tentativa de golpe
Do seu exílio em um complexo nos Poconos, o clérigo acusado pelo governo turco de liderar uma tentativa fracassada de golpe no ano passado, Fethullah Gulen, nega qualquer envolvimento.
MARY LOUISE KELLY, APRESENTADORA:
Este semana marca um ano desde que um golpe fracassado sacudiu a Turquia. Elementos das forças armadas turcas bombardearam prédios do governo, bloquearam pontes em Istambul e tentaram depôr o Presidente Recep Tayyip Erdogan. Mais de 260 pessoas foram mortas. As forças de Erdogan conseguiram recuperar o controle no dia seguinte. Erdogan acusa um erudito islâmico de liderar o golpe.
O nome desse homem é Fethullah Gulen, e ele vive não na Turquia mas em Saylorsburg, Pensilvânia, EUA. Ele raramente dá entrevistas, mas o nosso colega, apresentador do All Things Considered, Robert Siegel, encontrou-se com Gulen em seu complexo na Pensilvânia ontem. E Robert se junta a nós agora. Bom dia. Nunca consegue-se dizer isso no ar mas bom dia.
ROBERT SIEGEL: Bom dia, Mary Louise.
KELLY: Conte pra gente um pouco mais sobre Gulen, incluindo como ele acabou indo viver nos Poconos.
SIEGEL: Ele é um erudito e pregador muçulmano turco muito famoso que ao longo das décadas adquiriu uma quantidade muito vasta de seguidores na Turquia. Seus seguidores se transformaram em um movimento que criou uma rede de escolas na Turquia e pelo mundo, incluindo dezenas de escolas autônomas aqui nos EUA. Os turcos seculares desconfiam profundamente dele como o líder de um tipo de estado sombrio conspiracional. Em 1999, ele veio para cá para cuidados médicos e, dado o fato que ele havia sido preso em alguns golpes anteriores, decidiu que seria mais seguro permanecer nos Estados Unidos, onde vive em o que uma vez foi um acampamento de verão nas Montanhas Pocono.
KELLY: Agora, devemos reparar que a Turquia quer ele de volta. Eles estão pedindo aos EUA que extraditem ele. O que ele diz a respeito disso?
SIEGEL: Bem, este é um homem que por alguns anos esteve, na verdade, aliado com o Presidente Erdogan. Eles brigaram. Isso foi cerca de um ano antes da tentativa de golpe. E conforme o golpe progrediu, Erdogan culpou instantaneamente os gulenistas – seus seguidores – e Gulen pela tentativa. Ele diz que está sendo feito de bode expiatório. Ele diz que enquanto muitos turcos pensam esses milhares de gulenistas seguem cada comando seu, ele me esclareceu nesse ponto que simplesmente não é o caso.
FETHULLAH GULEN: (Através de intérprete) a percepção de que eu controlo tudo isso, que eu falo para as pessoas fazerem coisas e que elas estão fazendo, não existe algo assim. Conforme eu disse para um legislador, se há qualquer suspeita ou sigilo, eles devem conduzir investigações profundas e expôr. Não me está claro o que que é tão secreto, mas eles devem enviar a ação policial e serviços de inteligência deles para descobrir. Eu apoio isso firmemente.
SIEGEL: Na verdade, o governo turco pediu aos EUA que extraditasse Fethullah Gulen para que ele pudesse ser posto em julgamento por instigar o golpe, para ser julgado como um terrorista lá na Turquia.
KELLY: Existe alguma evidência, a propósito, para sustentar essa alegação de que ele orquestrou o golpe?
SIEGEL: Existe evidência de que havia oficiais gulenistas envolvidos no golpe. Quanto a evidências de Gulen comandando e instigando o golpe, em uma palavra, não.
KELLY: Você mencionou que ele ainda tem uma vasta quantidade de seguidores na Turquia apesar de ter vivido aqui por anos. O que está acontecendo com eles?
SIEGEL: Eis aqui alguns números – 50.000 prisões desde o golpe de julho passado, 140.000 pessoas expurgadas de seus empregos. De acordo com o governo turco, quase mil empresas e outras instituições confiscadas de organizações ou indivíduos gulenistas, totalizando um valor de cerca de 11 bilhões de dólares em propriedades.
KELLY: OK. Muito obrigada, Robert.
SIEGEL: Obrigado, Mary Louise.
Fonte: www.npr.org