Rússia e Turquia removem restrições comerciais
O vice primeiro-ministro turco, Mehmet Simsek, e sua contraparte russa, Arkady Dvorkovich, assinaram na última segunda-feira (22 de maio) um acordo que levanta as últimas restrições comerciais impostas mutuamente, após a derrubada de um caça russo pela Força Aérea turca na Síria, em novembro de 2015. Essa ação, embora essencialmente econômica, representa mais um passo na reaproximação política entre os dois países.
O acordo foi costurado após um encontro entre o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e seu homólogo russo, Vladimir Putin, ter ocorrido em Moscou, em 5 de maio. Na reunião as partes concordaram que todas as restrições comerciais seriam abolidas, afora a importação pela Rússia de tomates turcos. A questão dos tomates se tornou problemática já que despertava grande interesse dos produtores da Turquia, que, antes das restrições,exportavam cerca de 70% de seus tomates para o mercado russo. Putin alegou que grandes investimentos teriam sido feitos para que produtores locais pudessem suprir a demanda do fruto para o mercado interno, e que as importações de tomate seriam restabelecidas após um período de transição.
As relações entre Moscou e Ancara, que haviam atingido seu ponto mais baixo com a incidente do caça em 2015, voltaram a se estreitar após a tentativa fracassada de Golpe de Estado sofrida pela Turquia, em julho de 2016. Erdogan atribuiu a responsabilidade pela tentativa de golpe ao clérigo Fethullah Gulen, que é opositor de seu regime e vive exilado nos Estados unidos. As relações entre Gulen e os EUA também foram alvo da desconfiança de Erdogan, que passou aacusar os americanos de terem participação no atentado ao seu governo. Na medida em que as relações turco-americanas se deterioravam, a Rússia voltou a ser um parceiro em potencial.
Esse processo de reaproximação é relevante por levar a reformulação da arquitetura geoestratégica regional, agora com uma participação mais distante do Ocidente. Essa nova dinâmica pôde ser observada no recente acordo firmado entre Turquia, Rússia e Irã para a imposição de zonas seguras no território sírio, em mais uma tentativa de dar fim à guerra civil no país. Na ocasião, as potências ocidentais foram excluídas das tratativas e a nova cooperação russo-turca pôde ser observada.
Rodrigo Monteiro de Carvalho
Originalmente publicado em: http://www.jornal.ceiri.com.br