Por que a Turquia é contra os EUA apoiem os curdos contra o ISIS?
O presidente Donald Trump anunciou que irá armar milícias curdas para lutarem contra o ISIS, também conhecido como Grupo Estado Islâmico ou Daesh. Esta decisão irritou profundamente o governo de Recep Tayyp Erdogan na Turquia. Afinal, a principal milícia curda apoiada pelos EUA é o YPG. E o YPG é o braço do PKK na Síria. O PKK, para quem não sabe, é uma organização separatista curda na Turquia responsável por dezenas de atentados terroristas.
Na visão da Turquia, aliada história dos EUA e integrante da OTAN, o apoio americano ao YPG e outras milícias curdas equivaleria aos americanos apoiarem o Hezbollah. O Hezbollah, assim como o YPG, luta contra o ISIS. Mas, ao mesmo tempo, o grupo xiita libanês é acusado de terrorismo por uma série de nações e por Israel, outro aliado americano. No caso israelense, os americanos valorizam mais a aliança entre os dois países do que o fato de o Hezbollah lutar contra o ISIS. Lutar contra o ISIS não inocenta ninguém. Por que então no caso do YPG seria diferente?
O problema é que os EUA não possuem muitas alternativas para lutar contra o ISIS na Síria por terra. Não há como apoiar o regime de Bashar al Assad, acusado de crimes de guerra. E tampouco é viável apoiar os grupos rebeldes, já que os mais poderosos são extremistas e ligados à Al Qaeda. Os curdos, porém, possuem boas relações com os EUA e não são extremistas. Além disso, as milícias curdas, como o YPG, não lutam contra Assad – o objetivo deles não é tomar o poder em Damasco, mas apenas construir uma área autônoma conhecida como Rojava na fronteira da Síria com a Turquia. Desta forma, não haverá resistência da Rússia, do Irã e do regime sírio ao apoio americano ao YPG.
Mas este objetivo dos curdos de construírem uma área autônoma (Rojava) é justamente o que irrita a Turquia, pois pode incentivar o PKK a aprofundar o separatismo no território curdo. Alguns poderão perguntar o motivo de a Turquia não se irritar com o Curdistão iraquiano. A diferença é que o Curdistão iraquiano não tem ligação com o PKK.
Gustavo Chacra