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  • Jornalistas estão entre dezenas de detidos durante protestos devido à remoção de prefeitos curdos Durante o segundo dia de manifestações, desencadeadas pela destituição de três prefeitos curdos no sudeste da Turquia, uma região de maioria curda, a polícia deteve várias pessoas, entre elas dois jornalistas....
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  • Turquia: Proposta de lei de ‘agentes de influência’ é um ataque à sociedade civil e deve ser rejeitada Mais de 80 organizações apelaram ao parlamento turco para rejeitar a emenda proposta à legislação de espionagem do país. Se aprovada, a emenda poderia comprometer gravemente a liberdade de operação das organizações da sociedade civil na Turquia. A votação no parlamento está iminente, e várias outras entidades emitiram declarações análogas, instando os legisladores a descartarem a medida....
  • Relação EUA-Turquia dificilmente será revitalizada com eleição americana Especialistas indicam que o desfecho da acirrada eleição presidencial dos EUA na terça-feira deve ter um impacto limitado nas já tênues relações entre Washington e Ancara, embora a interação entre os presidentes possa ser um fator de influência....
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  • O malabarismo da Turquia nos BRICS Durante a Cúpula dos BRICS em Kazan, Rússia, esta semana, a Turquia emergiu como um novo membro participante. Revelações de um oficial do Kremlin no mês passado indicaram que Ancara havia feito um pedido formal para se juntar ao grupo, seguindo demonstrações de interesse ao longo dos anos. Um representante do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), liderado pelo presidente turco Recep Tayyip Erdogan, confirmou que "um processo está em curso"....

O eclipse da democracia, na Turquia, após o referendo pró-Recep Tayyip Erdoğan

O eclipse da democracia, na Turquia, após o referendo pró-Recep Tayyip Erdoğan
abril 19
17:42 2017

A Turquia, importante país euroasiático, vive presentemente a indeterminação quanto ao futuro do regime democrático. No último domingo, 16 de abril, foi submetida à consulta popular a continuidade do sistema político parlamentarista ou a adoção do presidencialismo. A segunda opção saiu vencedora por uma margem relativamente pequena, isto é, o “sim” obteve 51,2 % contra 48,8% do “não. A oposição contestou a vitória e alegou ter havido irregularidades durante o processo de votação, em várias regiões do país. O resultado apertado revela uma divisão da população turca, o que poderá significar instabilidade e conflito no seio da sociedade. A iniciativa de alterar o sistema político da Turquia partiu do atual Governo e seus aliados sob a argumentação de que a revisão constitucional é uma medida necessária para garantir a segurança e a estabilidade do país que, em 2016, sofreu 20 atentados terroristas e um Golpe de Estado falhado que resultou na morte de 248 pessoas, 1400 feridos, prisões e despedimentos de aproximadamente 200 mil pessoas. As justificativas apresentadas como uma solução para os problemas poderão agravá-los porque, na prática, o que se verifica é um jogo para aumentar os poderes do presidente Recep Tayyip Erdoğan.

A reforma constitucional, aprovada pelo Parlamento turco em janeiro, e que agora foi referendada pelo voto popular, dá a Erdoğan a possibilidade de centralizar o poder e engessar a democracia. O maior número de alterações à Constituição alguma vez proposto em referendo desde a criação da República da Turquia, em 1923, para além de pôr fim ao cargo de primeiro-ministro,” amplia os poderes do presidente” que, de entre outras medidas, poderá intervir diretamente no poder judiciário e impor o estado de emergência sem a necessidade de aprovação pelo Parlamento. As mudanças também atingem as eleições presidenciais e legislativas, as quais serão realizadas conjuntamente e estão agendadas para novembro de 2019, criando ainda a possibilidade de Erdoğan permanecer no comando da Turquia até 2029. Neste contexto, o que deve ser analisado não é somente a alteração do sistema político, mas a estrutura do Estado que, desde há alguns anos, foi sendo modificada gradativamente pelo atual Governo e transformada, sobretudo a partir de 2016, num aparelho de repressão e de perseguição aos seus opositores e à imprensa livre e independente.

Os episódios da história recente da Turquia, nomeadamente, a tentativa fracassada de Golpe de Estado em julho de 2016, atribuída pelas autoridades do país ao clérigo e humanista Fethullah Gülen, compõem a farsa que permitiu desencadear a prisão de jornalistas, professores, funcionários públicos e de outras categorias profissionais contrárias à situação vigente. As circunstâncias comprovam o modo como a Turquia vem sendo conduzida nos últimos anos e, a partir disso, nos aponta a direção em que está caminhando. As ações levadas a cabo por Erdoğan há algum tempo revelam que ele mudou de postura ao longo dos anos, colocando em dúvida o seu comprometimento com a democracia. De acordo com a BBC, em certa ocasião, o chefe político turco “comparou a democracia com um ônibus que você pega até seu destino e depois desce”. Deste modo, várias análises indicam que o presidencialismo é a alternativa que Erdoğan encontrou para exercer o poder de acordo com a sua vontade, mas respaldado pela aprovação popular. O apoio público conquistado por Erdoğan, de acordo com analistas, está relacionado ao uso da máquina pública que se encontra em suas mãos. Destaca-se, neste caso, a utilização de políticas sociais, o controle da mídia, o discurso islamista e o medo generalizado para conquistar o apoio de uma parcela significativa da população, sobretudo, dos menos favorecidos. Se persistir a tendência do modelo de administração idealizado por Erdoğan e corroborado pela reforma constitucional, a vitória do “sim” eclipsará a democracia naquele país, na medida em que o contrapoder exercido pela oposição turca se tornará frágil, estando condenado ao desaparecimento, o que permitirá a instalação de um regime autocrático.

Marli Barros Dias

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