E agora José?
Sei bem que o título chamará a atenção para a literatura. Pois, como é sabido, o mencionado título é trecho do poema “José” de Carlos Drummond de Andrade. Porém, infelizmente, desta vez nos mostrará um caso de quase desespero sobre o futuro de um país. Sim, estarei certamente falando da Turquia.
Foi escrito muitas vezes sobre o surgimento do Partido da “Justiça” e “Desenvolvimento”, AKP, do atual presidente Recep Tayyip Erdogan. Perdão, “ele não tem ligação com seu antigo partido devido à constituição.” O AKP foi fundado em 2001 por um grupo que sofreu perseguição durante o período do golpe pós-moderno em 1997. Diferentemente da corrente que seguiam, o Islã político, eles prometiam mudar seu discurso e se comprometiam com a democracia, liberdades, justiça e desenvolvimento, que são princípios da União Europeia, assim como um dos primeiros objetivos deles foi a integração da Turquia na EU.
Porém, o poder é venenoso; depois do terceiro mandato de primeiro-ministro, Erdogan mudou seu discurso democrático para um discurso autocrático e, ainda mais, queria trazer o sistema presidencialista com a nova constituição, que também prometiam. E, assim, desde 2010, começou uma nova era.
No último domingo, 16 de abril, o presidente Erdogan conseguiu alcançar a seu objetivo. Através de um referendo, o povo turco aprovou uma nova constituição que lhe dará poderes mais amplos, incluindo a dissolução do parlamento, caso queira, a nomeação de juízes do supremo tribunal, entre outros. Já falando destes dois aspectos da nova constituição, entende-se o que está esperando a “Nova Turquia.” Sim, infelizmente, o que será vivenciado na “Nova Turquia” não é um futuro brilhante. Aliás, desde 2013 vivencia-se um período não-brilhante. Muitos críticos, que estão sendo presos ou exilados atualmente, chamaram isso de despotismo e já existe um presidencialismo sendo praticado desde 2014, o ano em que Erdogan foi eleito à presidência da República. Portanto, Erdogan, até em discurso, acabou afirmando que o referendo seria feito para aprovar e oficializar um caso já praticado. E o povo, como indicado antes, aprovou e oficializou o presidencialismo.
Nada a dizer além de um ditado de um poeta árabe, Umar Hayyam:
“Se está apaixonado um povo por seu executor,
Toca, se quiser, sino, faça-o chama da chamada para a oração…”
O que está acontecendo na Turquia é o mesmo, um povo votou em sua execução achando que seria uma libertação. No final das contas, todos se arrependerão, ou receio que será um caso como o da Síria.
Daí eu pergunto, desde já, aqueles que se arrependerão:
E agora José?
A liberdade acabou,
A democracia morreu.
Já não retorno mais.
~ Atilla Kuş ~