As Alianças Emergentes na Síria e o Destino do Oriente Médio
Na altura em que a guerra na Síria completa seis anos, o destino da região está a ser traçado pelas forças emergentes, globais e regionais, que encontraram naquele conflito o caminho para cumprir com os seus objetivos. A intervenção das alianças e das rivalidades mundiais e locais visa as conquistas para o futuro, as quais impactam decisivamente sobre o destino da Síria e da região mais do que a própria guerra. Os acordos entre os patrocinadores e as milícias insurgentes determinam as movimentações militares que, em certa medida, não são definidas exclusivamente pelo comando dos grupos beligerantes, mas sob a orientação de seus financiadores que, estrategicamente, alteram ou não o modo de atuação de seus subordinados, conforme as vitórias e as derrotas nos campos de batalha, a partir de uma perspectiva de conquistas a longo prazo.
O entendimento entre as potências e as suas milícias, segundo informações, contribui para equilibrar as forças políticas entre os poderes. Neste contexto, os antigos impérios, Rússia, Turquia e Irã, ambicionam o destaque de outrora por meio de trocas que poderão dividir a região. De acordo com o jornal Ha’aretz, “a Rússia usa os curdos na Síria como uma barganha contra a Turquia, cuja cooperação com o Exército Livre da Síria cria tensão entre Ancara e Teerã”. Enquanto isto, a Jordânia, cujos ataques contra o Estado Islâmico ao Sul da Síria estimulam o pacto russo-jordaniano e, por extensão, com o regime de Bashar al-Assad. Neste novo cenário a partir da Síria, a Arábia Saudita, aliada do Ocidente, falhou na tentativa de estabelecer a hegemonia no mundo árabe em oposição ao Irã, um tradicional inimigo. Paralelamente a este fato, os EUA, aliado saudita de peso no Oriente Médio, de momento estão perdendo espaço, principalmente para a Rússia e para a Turquia, que se tornaram mais visíveis no conflito sírio. O triunvirato russo-iraniano-turco, em ascensão, assinala uma circunstância nova entre os três países que nunca foram, ao longo da História, aliados naturais.
Os desdobramentos do conflito armado sírio têm mostrado, ao longo do tempo, que certos desentendimentos entre alguns atores presentes naquele confronto armado estão sendo resolvidos tomando por base não apenas os princípios da diplomacia ou da necessidade de entendimento entre os povos, mas os interesses estratégicos de cada parte. Isto pode ser exemplificado pela Rússia e a Turquia que, em novembro de 2016, tiveram sérios problemas quando a Força Aérea Turca abateu o Sukhoi Su-24 russo, acusado de ter violado o espaço aéreo turco. Esta questão foi superada pela reaproximação entre os dois países, especialmente quando negociaram a trégua na Síria em finais de dezembro daquele ano. As negociações parecem tomar corpo, também para além da Síria. Recentemente, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, afirmou que já não tem interesse em pertencer à União Europeia e que, hoje, a Turquia pretende aderir à Organização de Cooperação de Xangai (SCO). Esta adesão é importante para Ancara, que vai integrar uma organização internacional na qual já se encontram os países turco-falantes como o Azerbaijão, o Cazaquistão e o Quirguistão. Paralelamente, a Turquia está a manter conversações com a Rússia relativamente à compra de avançados sistemas de defesa antiaérea de longo alcance. A aliança entre a Rússia e a Turquia é notória e, da mesma maneira, percebe-se a alternância das relações entre Teerã e Ancara. Em conformidade com o que vem sendo noticiado, desde a Primavera Árabe, em 2011, a rivalidade entre a Turquia e o Irã não é, no presente, alimentada pela ideologia política, mas entre sunitas e xiitas. Os antagonismos mas, sobretudo, as alianças entre as potências emergentes vão desenhando o futuro do Oriente Médio, situação que, para muitos analistas, terá reflexos no resto do mundo.
Marli Barros Dias
Publicado em: http://www.jornal.ceiri.com.br/