Soldado diz ter recebido ordens para operação antiterrorismo na noite da tentativa de golpe
Abdulkadir Kahraman, um cadete militar que foi preso por envolvimento na tentativa fracassada de golpe em julho do ano passado na Turquia, disse durante seu julgamento em Ancara, na terça-feira, que seu comandante ordenou que as tropas se preparassem para uma operação na noite de 15 de julho, pois havia ocorrido um atentado terrorista na capital.
Durante uma audiência em um tribunal especial na Prisão Sincan de Ancara, onde 330 suspeitos enfrentam múltiplas sentenças de prisão perpétua por ligações com a tentativa de golpe, Kahraman disse que seu comandante reuniu 48 soldados, incluindo ele, em um pátio em sua base militar em Ancara, onde lhes foi dada munição, pois o comandante alegava que havia ocorrido um atentado terrorista em Ancara.
“Nos disseram que havíamos sido treinados para aquele dia e que nunca pensássemos duas vezes para usarmos nossas armas, quando necessário”, disse ele.
Kahraman também disse que foram convencidos de que estavam partindo para uma operação antiterrorismo, depois de verem alguns compatriotas aplaudindo-os na frente do quartel.
“Contudo, outros cidadãos nos contaram que o que estávamos fazendo era errado e nos atacaram. Contamos a eles que estávamos lá por causa de um atentado terrorista. Então voltamos para o quartel”, acrescentou ele.
Outros suspeitos também ofereceram um depoimento similar durante a audiência.
O Chefe de Estado-Maior, General Hulusi Akar, e o Comandante da Gendarmeria turca, General Yasar Guler, estão entre os queixosos no caso em que 330 suspeitos foram indiciados, 245 dos quais estavam no tribunal para a audiência.
Os suspeitos são acusados de “tentarem derrubar a ordem constitucional, tentarem derrubar o governo e o parlamento ou impedi-los de desempenhar seus deveres, assassinato e filiação em uma organização terrorista”.
Outro suspeito, o Sargento Especial Can Tasci, disse que reuniu os soldados para escutarem ao comandante da companhia, Oguz Serdar Ozgur, que lhes havia dito que “a situação estava crítica e que poderiam ir lá fora como uma unidade”.
Tasci, no entanto, disse que não possuía conexão alguma com o Hizmet, um movimento global da sociedade civil inspirado nas ideias do erudito islâmico turco radicado nos EUA, Fethullah Gulen, que é acusado, sem nenhuma prova ou sequer evidência, pelas autoridades turcas, de arquitetar o golpe fracassado.
Apesar do fato de Gulen ter negado a acusação e ter clamado por uma investigação internacional sobre o golpe fracassado, o Presidente Recep Tayyip Erdogan – chamando a tentativa de golpe de “um presente de Deus” – e o governo turco lançaram um amplo expurgo com o objetivo de eliminar os simpatizantes do movimento das instituições estatais, desumanizando suas figuras populares e colocando-as sob custódia.
Organizações dos direitos humanos criticaram a erosão dos direitos fundamentais no país, incluindo das liberdades de expressão, associação e reunião.
Em uma declaração em 19 de janeiro, Hugh Williamson, diretor da Human Rights Watch da Europa e da Ásia Central, disse: “Enquanto que o governo tem o completo direito de responsabilizar os envolvidos no golpe, a velocidade e escala das prisões, incluindo dos mais altos juízes, sugere um expurgo em vez de um processo baseado em alguma evidência”.
“Com centenas de milhares de pessoas dispensadas ou detidas sem o devido processo, a mídia independente silenciada e membros do parlamento e que eram da oposição curda na cadeia, a Turquia foi mergulhada em sua pior crise em uma geração”, acrescentou ele.
Mais de 135.000 pessoas, incluindo milhares entre os militares, foram expurgadas devido à sua conexão real ou suposta ao Hizmet desde a tentativa de golpe, de acordo com uma declaração feita pelo Ministro do Trabalho em 10 de janeiro. Desde 1º de fevereiro, 89.775 pessoas estão encarceradas sem acusação, com ainda mais 43.885 em detenção preventiva devido às suas supostas ligações com o movimento.
Fonte: www.turkishminute.com