Turquia culpa os suspeitos de sempre pelo assassinato do embaixador russo
O policial fora de serviço Mevlut Mert Altintas assassinou Andrey Gennadyevich Karlov, embaixador da Rússia na Turquia, em uma galeria de arte na capital turca Ancara em 19 de dez. Forças policiais subsequentemente mataram Altintas em um tiroteio.
O que sabemos até agora sobre o episódio é o seguinte: Karlov habitualmente gostava de se misturar com o povo local e portanto raramente viajava com um time de segurança muito grande. Portanto, ele estava correndo um grave risco quando participou de uma exibição de fotos temática da Rússia em uma galeria de arte em frente da embaixada americana no distrito de classe alta de Cankaya em Ancara. Altintas, 22, que estava servindo em um esquadrão da tropa de choque na capital turca, conseguiu entrar na galeria com uma pistola pois estava com sua carteira de identificação de policial. Relata-se que Karlov não tinha guarda-costas dentro do estabelecimento.
Em uma angustiante fotografia tirada imediatamente antes de Altintas atirar em Karlov, os dois homens aparecem no mesmo quadro. Gravações em vídeo mostram Altintas gritando para os que observavam aterrorizados “não se esqueçam de Alepo” e “não se esqueçam da Síria”, depois de recitar um poema religioso usado pelo grupo extremista Jabhat al-Nusra, em que o que recita jura lealdade ao Profeta Muhammad e faz um voto dizendo que se engajaria na jihad. O assassino aparentemente pensou que atirando em um homem desarmado pelas costas, vingaria a morte de civis sírios em Alepo nas mãos do regime sírio que é apoiado pela Rússia.
O episódio, que veio logo após uma série de ataques terroristas na incessável luta entre o governo turco e o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), suscita possibilidades desagradáveis para o futuro da Turquia.
Especialmente preocupantes são os comentários de certos órgãos de mídia e autoridades do governo que culpam todos menos o estado Turco – sejam os Estados Unidos e os gulenistas, ou até o time de segurança da embaixada russa. Por exemplo, o jornal pró-governo Yeni Akit chamou os Estados Unidos de “um inimigo que se parece com um amigo” por “abrigar” Fethullah Gulen, um pregador turco que mora na Pensilvânia. Turcos de todo os espectros políticos acreditam que os seguidores de Gulen no estado turco estavam por detrás da tentativa de golpe de 15 de julho de 2016 para derrubar o governo do Presidente Recep Tayyip Erdogan e seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP).
As observações de Burhan Kuzu, funcionário de alto escalão do AKP, foram igualmente estranhas. Kuzu, um professor de direito constitucional e voz influente no partido, disse em uma entrevista na televisão: “Vamos deixar a nossa própria permissividade de lado, mas porque os russos não tinham seus próprios meios de proteção?” Sob a Convenção de Viena, o país que hospeda é o único responsável por proteger diplomatas e complexos diplomáticos.
Além destas respostas desajeitadas, o assassinato do embaixador suscita prospectos assustadores para a Turquia. Para começar, ainda não está claro se Altintas agiu como um “lobo solitário” ou se existem outros atacantes radicalizados em potencial dentro dos serviços militar e de segurança turcos que causariam um caos e estragos similares nos próximos dias. E ainda mais, as declarações russas oficiais, enquanto que contraditórias, tem sido também vagamente ameaçadoras, deixando claro que Moscou espera a completa cooperação de Ancara na investigação e também na Síria.
Em uma época que a Turquia enfrenta problemas em casa e na região e suas relações com os aliados da OTAN estão em um nível baixo recorde, pode-se perguntar se Moscou poderia usar a morte de seu embaixador para puxar Ancara para ainda mais longe do Ocidente.
Barin Kayaoglu
Fonte: www.al-monitor.com