O inimigo bate à sua porta
O autoritarismo paira sobre a Turquia como um céu de nuvens escuras. A Turquia subestima uma ameaça que está ao seu lado: o Estado Islâmico no Iraque e no Levante (ISIS), como chamam a si próprio após a declaração em Raqqa : o “califado”, Estado Islâmico (EI).
O problema e as atrocidades do ISIS não desaparecem quando a fim de evitar o uso da palavra Islã, o chamamos por seu nome árabe: “Daesh “. Se vamos ou não virar o rosto diante do grande problema que representa o extremismo, ou o ISIS, este é o principal problema sob os ombros do mundo muçulmano. No entanto, ao menos na Turquia, há uma constante negação, como pudemos ver em um dos mais mortais ataques terroristas na história da república, que teve lugar na cidade Ancara em outubro. O ISIS não declarou a autoria do atentado, apesar de todas as provas.
O fato de que o atual governo na Turquia vem acabando com o jornalismo, certamente desempenha um papel no relativo desconhecimento do ISIS pela sociedade. As histórias mais abrangentes e informativas sobre o ISIS vêm dos meios de comunicação ocidentais. Não é preciso viajar para Raqqa, cidade síria secular, para se ter uma visão sobre ISIS. Surgiu uma extensa reportagem no The New York Times, sobre as “noivas do ISIS” que sofreram abusos pelos militantes e que estavam se dirigindo para o sul da Turquia. Mesmo assim, os turcos, tem um conhecimento muito distante da realidade, de acordo com relatos dos estrangeiros, as movimentações do ISIS acontecem dentro de nossas fronteiras.
Após os ataques de Paris, que para alguns, reavivou o “choque de civilizações” em meio a crescentes temores de extremismo no Ocidente, as objeções – por vezes acompanhadas raivosamente – estão em ascensão com aqueles que dizem “este não é o verdadeiro Islã. “no entanto, apesar da gravidade das atrocidades do ISIS, poucas condenações a eles, se ouviram por parte dos países muçulmanos. Também deveria ser debatido, se as vozes contra o extremismo são altas o suficiente para serem ouvidas pelo mundo islâmico. No entanto, um fato bastante curioso torna-se evidente quando se analisa os estilos de vida dos terroristas ISIS, que dizem agir em nome de Deus: Quase nenhum deles são realmente religiosos! Pelo contrário, como foi visto com os autores dos ataques de Paris, alguns frequentam bares gays e usam álcool e drogas. E certamente não são muçulmanos praticantes.
Aparentemente, existem redes do ISIS que fornecem imigrantes que possuem uma identidade presa em diferentes civilizações, sentimentos de pertença e poder.
É claro que seria reducionista a explicação a respeito das atrocidades do ISIS, pela simples afirmação de falta de ideologia e piedade. O apelo inicial do ISIS para muitos dos jovens imigrantes da segunda geração, devem ser analisados cuidadosamente. Quando você assistir a documentários feitos por meios de comunicação, como a do VICE, perceba que alguns dos recrutas que vão para Raqqa vivem o sonho de uma “era de felicidade”, um califado uma imitação vivida pelos profetas. Neste exato momento, é essencial notarmos que os textos sagrados não devem ser interpretados com base exclusivamente no seu sentido literal, mas sim, através do contesto em que eles nasceram.
É muito importante que os estudiosos islâmicos apareçam claramente para denunciar o extremismo, como faz por exemplo Fethullah Gulen. Lembrar a todos que o Islã considera a morte de um indivíduo inocente, como a matança de toda a humanidade. Como Gulen enfatizou em um artigo recente do Wall Street Journal, os muçulmanos não devem refugiar-se como vítima para erradicar o radicalismo. Acho surpreendente que na Turquia, muitos daqueles que perguntam pelo verdadeiro Islã, não são capazes de ver como o movimento Hizmet, inspirado por Fethullah Gulen, tem se destacando com seu compromisso na educação e na convivência pacífica. Nada mais é do que falta de visão. Aqueles que se familiarizaram com o movimento Hizmet são plenamente capazes de ver os recursos que o movimento oferece. Eles não são afetados pela “Hizmetfobia” um estigma que o Hizmet vive hoje na Turquia.
ISIS continuará a ser uma dor de cabeça para a Turquia e os muçulmanos nos dias que estão por vir. O remédio para este problema reside em primeiro lugar em se levar a sério o que esta acontecendo, através de um diagnóstico preciso. Infelizmente parece ter sido tarde demais para a Turquia reconhecer o inimigo bate à sua porta.
por Sevgi Akarçeşme, para o jornal Zaman em 28 de novembro de 2015.
Fonte: http://fgulen.com