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Um gênero diferente de golpe?

Um gênero diferente de golpe?
outubro 07
09:34 2016

Pode ser que você nunca tenha ouvido falar em Fethullah Gülen, o líder muçulmano mais influente no mundo. De fato, isto poderia ser real até a semana passada.

Gülen, um imã turco “recluso”, residente na Pensilvânia (em exílio auto-imposto), tem milhões de seguidores em todo o mundo, mas ele está fora dos holofotes no palco dos americanos de classe média. Na semana passada, no entanto, ele bateu o ranking nos noticiários, quando o presidente Erdogan (Turquia), pediu aos EUA a sua extradição, alegando que ele estaria no comando da tentativa de golpe recentemente ocorrida na Turquia.

É possível isto? Que sabemos a respeito de Gülen? Quanto os americanos deveriam se importar? Ofereço algumas reflexões pessoais:

Eu não conheci o Sr. Gülen, mas você pode saber muito sobre alguém, quando conhece seus amigos e admiradores, eu tive o privilégio de ter muitos dos seguidores de Fethullah Gülen como amigos íntimos. Por mais de uma década, tenho uma parceria formal com as organizações do Hizmet, (Hizmet em turco significa “serviço”, o nome é utilizado para identificar as organizações inspiradas por Gülen) para locar e desenvolver eventos interculturais e inter-religiosos. Como acadêmico, tenho participado das conferências focalizadas no Hizmet. Tenho estudado os escritos de Fethullah Gülen, de seus seguidores, críticos e de estudiosos não filiados, estes estudos me oferecem importantes avaliações externas (Nesta última categoria, eu recomendo especialmente dois livros: do ex-analista da CIA Graham Fuller “Turkey and the Arab Spring and Turkish scholar “ e Hakan Yavuz “ Toward an Islamic Enlightenment: The Gülen Movement”).
De maneira menos formal e mais importante, passei incontáveis horas com os seguidores de Fethullah Gülen, em cafés, partilha de vida, conversas sobre nossas famílias e credos. Eu compartilhei o auditório e salas de aula discutindo e às vezes debatendo teologia e política. Eu viajei para a Turquia muitas vezes, visitei organizações, empresas, escolas, serviços e meios de comunicação filiados ao Hizmet. Vendo e ouvindo, eu não apenas soube, mas vi e ouvi o que essas organizações fazem e por quem o fazem. Eu fui abençoado pela visita às casas de apoio de Fethullah Gülen por toda a Turquia, desfrutando da cozinha e do chá turco enquanto aprendia sobre o seu trabalho e os seus sonhos, conhecendo seus idosos e seus filhos. Ao ser calorosamente apresentado por pessoas inspiradas pelo Sr. Gülen, fui ajudado na organização de uma oportunidade para alojar o meu filho de 20 anos de idade, em um jornal turco durante o verão em Istambul. Além disso, como um apaixonado que sou sobre o desenvolvimento sustentável na África Oriental (www.kibogroup.org), interagi com os médicos do Hizmet na construção de uma clínica em Uganda, junto aos homens de negócios do Hizmet que trabalhavam para a redução da pobreza na Tanzânia.

Todas essas experiências moldaram minhas perspectivas para avaliar o Sr. Gülen. E diante do atual estado de confusão que recai sobre ele, eu tenho as seguintes considerações:

Em primeiro, um aviso: a Turquia é tão importante quanto confusa. Sua importância é destacada pela sua localização – tanto geograficamente como ideologicamente – entre a Europa e o Oriente Médio. A confusão vem à superfície quando se tenta desvendar as múltiplas camadas de sua história e sociedade, incluindo o secularismo radical, europeização e as adesões à UE; relatórios misteriosos de um estado “paralelo” ou estado “profundo”; um século de golpes e reformas; legados confusos e muitas vezes atrozes com os armênios e os curdos; a luta entre a forma mais corrente e as formas heterodoxas do Islã; recentes protestos populares e repressão do governo sobre a mídia e os militares; a proximidade com a crise síria e a luta contra o ISIS. Daí você adiciona a esta mistura o golpe fracassado da semana passada.

Tudo isso deve dar informação para uma avaliação de Gülen, sua influência e seus detratores. Por parte de seus críticos, considerando todas estas pressões cruzadas, torna-se menos surpreendente que não haja consenso, alguns considerando-o como um radical islâmico e outros considerando-o um liberal perigoso. Como é que vamos desvendar tudo isso? Se apenas a complexidade dos fatos podem nos dar razões para ser cuidadosos e humildes em todas as avaliações!

Isto nos convida para uma outra consideração importante: Devemos considerar não apenas o que as pessoas dizem sobre Gülen, mas o que ele diz de si mesmo. Décadas de discursos e publicações tornaram isso possível e revelaram muito de seus atributos. Por exemplo, Gülen defende uma forma de humanismo de metodologia sufi (mística tradicional islâmica). Ele busca relações de colaboração através das fronteiras religiosas, culturais e nacionais. Ele está preocupado com os pobres e marginalizados em todo o mundo. Ele promove ativamente a liberdade de imprensa e da democracia. Ele condena de forma contínua a violência e o terrorismo. Como um líder muçulmano, muitas vezes ele se opõe à construção de mais mesquitas em favor de hospitais e escolas. Ele exorta seus seguidores a servirem de maneira não política e não violenta, chamando-os a agir “sem mãos contra aqueles que te atacam, sem discurso contra os que vos maldizem.” E nesta semana, apesar de suas disputas bem documentadas contra Erdoğan, ele acrescentou sua voz à lista daqueles que denunciaram a tentativa de golpe.

Em todos esses pontos, a posição de Gülen é pública e consistente.

Há questões legítimas nas preocupações com o Hizmet? Sim. Alguns identificaram questões sobre a falta de transparência do movimento e sua hierarquia organizacional, outros acham que deveria haver investigações (os livros que listei acima ajuda a esclarecer a este respeito). Mas há evidências para suspeitar de flagrante hipocrisia e má intenção, porque alguns críticos implicam com o movimento? Existem razões para se imaginar uma grande conspiração? Estão os seus vários admiradores turcos e não turcos – incluindo eu mesmo – simplesmente enganados?

Neste momento faltam evidências convincentes. No entanto, o tempo dirá a verdade. Li recentemente, quando na morte, que Martin Luther King Jr. acumulou uma alarmante baixa de aprovação. A História resgatou de forma adequada a sua credibilidade. O que vão dizer sobre a história de Gülen? Não sou profeta, mas se nós avaliarmos as pessoas pelos seus amigos e os líderes pelo frutos de suas declarações e ações, o clérigo recluso na Pensilvânia tende a ser um homem honrado. Parece que, se houve um golpe que ele tenha tentado orquestrar estando lá nas montanhas Poconos, é um golpe contra a ignorância e a intolerância, um medo que cada vez mais cerca a Turquia.

O que quer que a história nos ensine sobre Gülen, minha resposta a esse tipo de golpe é simples: Sigam-me!

Escrito por John Barton, do Huffington Post, em 22 de julho de 2016

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