O que está por detrás do tango entre Turquia e Irã ?
A visita surpresa do ministro das relações exteriores Mohammad Javad Zarif em 12 de agosto à Turquia pode ser sempre lembrada em Ancara, tento quanto em Teerã, por ter aberto um novo capítulo na cooperação regional entre os dois vizinhos. A visita foi a primeira feita por um funcionário iraniano desde o golpe fracassado de 15 de julho para derrubar o presidente turco Recep Tayyip Erdogan. Sendo assim, isso foi parte do show de solidariedade de Teerã que começou durante a tentativa de golpe, com ligações de Zarif, Ali Shamkhani, o secretário do Supremo Conselho da Segurança Nacional do Irã, e Qasem Soleimani, o presidente da ala de operações externas da Divisão da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), a Força Quds.
“Zarif foi a Ancara para discutir relações bilaterais e a Síria”, um alto funcionário iraniano contou ao Al-Monitor sob condição de permanecer anônimo, sem fornecer nenhuma informação específica. Para se ter uma ideia do que se transcorreu na reunião de três horas na reunião de três horas com Erdogan e em suas conversas com o Primeiro-Ministro Binali Yildirim e o Ministro das Relações exteriores Mevlut Cavusoglu, o Al-Monitor teve que cavar mais fundo, em vários lugares.
“É um exagero dizer que o Irã e a Turquia concordaram em que fazer na Síria”, uma fonte diplomática iraniana falou ao Al-Monitor. “O bom é que agora existe uma base firme em que se firmar, e boa vontade, e é óbvio que a Turquia mostrou estar pronta para ir adiante na discussão de opções sérias a se delinear, juntamente ao Irã e à Rússia, uma estratégia de escape séria que colocaria um fim ao derramamento de sangue na Síria”.
Quanto a Teerã, está claro que não existe chance de uma solução na Síria sem um parceiro regional sério, e esse parceiro tem que ser ou a Turquia ou a Arábia Saudita. Dado que as relações de Teerã com Riade ficam piores a cada dia – no meio de uma guerra de palavras, os conflitos no Iêmen e na Síria mais as tensões com o Bahrain e o Líbano – uma reaproximação saudita-iraniana é um sonho improvável de se tornar realidade a qualquer momento no futuro próximo.
Em contraste, a Turquia e o Irã preservaram boas relações apesar de diferenças agudas quanto a crise na Síria. De fato, um exemplo marcante é como, conforme a batalha de Alepo progredia, Zarif e Erdogan estavam orando juntos nas orações de sexta-feira na mesquita presidencial em Ancara.
Tanto a Turquia quanto o Irã sentem o calor da Síria, mas eles também acreditam que se render não é uma opção. A Turquia está pronta para conversar, talvez sobre muitas coisas, entre elas o futuro do provocante presidente da Síria, Bashar al-Assad, incluindo quantos meses ele pode permanecer ou se pode se candidatar na próxima eleição do país. Tudo isso está nos planos, mas isso não significa que a Turquia esteja desistindo de seus objetivos na Síria, devastada pela guerra.
O Irã também está pronto para conversar, e o futuro de Assad é parte da conversa que Teerã está disposta a ter. Isso não é, contudo, a mesma coisa que o Irã estar disposto a desistir dos sacrifícios feitos pelos membros do IRGC mortos em combate na Síria e muitos combatentes do Hezbollah, iraquianos e afegãos que perderam suas vidas depois de terem unido forças sob a bandeira do “eixo da resistência”. Tanto o Irã quanto a Turquia estão tentando preservar seus interesses conforme discutem um consenso em potencial. Dessa forma, a melhor aproximação para os dois países é focar nos interesses em comum ou ameaças em comum enquanto estiverem na mesa de negociação.
Uma das principais ameaças que os dois países, e também a Síria, enfrentam é a perspectiva do surgimento de um estado curdo independente, apesar das diferenças entre os curdos, que estão espalhados através dos territórios do Irã, Iraque, Síria e Turquia. O desafio curdo no Irã pode não ser idêntico àquele na Turquia, mas o perigo de um efeito dominó na região é tão forte que nenhuma das partes quer correr quaisquer riscos. Nessa equação, a Rússia também tem um papel a desempenhar no impedimento de qualquer tentativa de conquistar um estado curdo independente na Síria.
O interesse compartilhado em evitar o surgimento de um estado curdo põe o Irã e a Turquia em sincronia quando o assunto é exercer todos os esforços possíveis para manter a Síria unida e sub um regime centralizado. Em outras palavras, o Irã e a Turquia podem estar no caminho para mais uma vez serem capazes de alcançarem um consenso. Nessa perspectiva, outro funcionário iraniano que conversou com o Al-Monitor sob condição de anonimato disse que além das reuniões de alto nível públicas que ocorreram ou que estão agendadas para ocorrer entre políticos iranianos e turcos, há reuniões militares e de segurança acontecendo por detrás das cortinas.
O funcionário iraniano também disse: “Provavelmente não saberemos se Haj Qasem [Soleimani] visitou Istambul ou Ancara, ou se um funcionário de segurança turco de alto nível veio a Tabriz ou Teerã. Em termos práticos, esses homens são os que podem ajudar a delinear os planos [para como dar a ignição na cooperação entre Irã e Turquia]”.
Em 19 de agosto, o ministro das relações exteriores do Irã anunciou que Cavusoglu havia feito uma visita não anunciada a Teerã no dia anterior, com seu contrapartida iraniano, Zarif, por cinco horas. O porta-voz do ministro das relações exteriores iraniano Bahram Qassemi disse que o diplomata turco “fez uma visita a Teerã para averiguar os acordos e consultas feitos entre os dois países durante a visita de Zarif a Ancara na semana passada”. Qassemi destacou que durante a visita de Zarif, os dois lados tinham concordado em ter conversas intensas em vários níveis e que altos funcionários fariam várias reuniões em vários níveis no futuro próximo.
Um funcionário iraniano disse sob condição de anonimato: “A visita [de Cavusoglu] foi para fornecer respostas [às perguntas iranianas] sobre várias questões que surgiram nas últimas reuniões [de 12 de agosto], mas a questão importante aqui é que parece que a visita de Erdogan a Teerã está sendo preparada”.
Ali Hashem
Fonte: www.al-monitor.com