A Segunda Guerra Entre Israel e o Líbano, Dez Anos Depois
Em 12 de julho de 2006, teve início a Segunda Guerra entre Israel e o Líbano. Do lado libanês, a responsabilidade pela eclosão da conflagração deve ser atribuída ao grupo insurgente Hezbollah que, ao sequestrar dois espiões israelenses e matar sete soldados daquele país, fez elevar as hostilidades, deflagrando o conflito. Israel respondeu prontamente com a Operação Justa Recompensa, atingindo aproximadamente 40 locais no sul do Líbano. A infraestrutura do país ficou praticamente destruída após 34 dias de batalhas entre Israel, o Hezbollah e, em menor proporção, as Forças Armadas libanesas. Hoje, 10 anos depois, apesar da ausência de confrontos diretos, a sanha entre o Hezbollah e Israel continua latente, não estando descartada, para o futuro, a possibilidade de um novo enfrentamento. Segundo analistas, outro embate entre Israel e o Líbano será proporcionalmente mais devastador do que aquele que aconteceu em 2006 pois, somado ao fato de a infraestrutura do Hezbollah se encontrar dispersa em áreas civis, sendo tratada por Israel como alvo militar, os radicais xiitas contam, hoje, com maior experiência militar, nomeadamente, a partir do longo período de Guerra na Síria e das melhorias em sua capacidade ofensiva. Atualmente, o grupo conta com 45.000 combatentes e 100.000 mísseis possuindo ainda, de entre outros, aviões não tripulados e melhorias na recolha de informações. Por outro lado, Israel se considera preparado para inibir as forças do Hezbollah.
Para o Líbano, um conflito significa o aumento dos problemas que comprometem o país de modo avassalador. O país vive, hoje, os reflexos do conflito na vizinha Síria e enfrenta dificuldades políticas em virtude das práticas públicas sectárias, e, também, do problema da recolha do lixo em Beirute. Por outro lado, o Líbano é, na atualidade, o país com o maior número per capita de refugiados do mundo sendo que, 1,5 milhão são sírios. Manter-se afastado de conflitos é, para o Líbano, a melhor alternativa, mas isto está na dependência do Hezbollah que é, na verdade, um Estado dentro do Estado. No último domingo, 10 de julho, o Chefe do Estado Maior de Israel, Tenente-General Gadi Eisenkot, prometeu que as Forças de Defesa de Israel (IDF) irão derrotar o Hezbollah em caso de novo conflito. O Tenente-General fez a seguinte afirmação: “Os nossos inimigos do norte estão a examinar-nos durante todo o tempo. Estou certo de que, no momento da verdade, vamos manter-nos firmes e provar que as IDF constituem um poder pronto, poderoso e decisivo sob o ponto de vista militar”, tendo acrescentado que a ameaça do Hezbollah permanece e que as IDF estão “preparadas para todos os cenários”.
O Líbano continua politicamente dividido numa altura em que o Hezbollah, considerado por especialistas um protetorado do Irã, é mais poderoso do que em 2006. Embora o desgaste na Guerra Civil da Síria nos leve a supor um enfraquecimento dos fundamentalistas xiitas, a capacidade de combate alimentada pela ideologia radical permanece forte e aquilo que tem travado, de fato, o Hezbollah não é o receio de Israel, mas a sociedade libanesa. Para Omri Nir, pesquisador especialista no Líbano, da
Universidade Hebraica de Jerusalém, “após 10 anos, o que se destaca na maioria da sociedade libanesa são as memórias da guerra, que se transformaram em fator de restrição. Para o Hezbollah, não é apenas o medo de Israel, mas por temer ser visto
pelo público como um grupo libanês que pode levar mais violência ao Líbano”. Se, por um lado, o Hezbollah tem os seus apoiantes, por outro, há aqueles que compreendem a questão de outro modo. Conforme afirmou um entrevistado do jornal Ynetnews, “o fosso que existe, no Líbano, após a guerra ficou mais largo depois que o Hezbollah se transformou numa força incontrolável. A guerra deu ao Hezbollah uma quantidade de poder incomum, porque eles acreditaram que tinham triunfado como nenhum país árabe antes”. Enquanto as memórias dos combates de 2006 permanecem vivas nas mentes dos libaneses, analistas acreditam que o Hezbollah está se preparando para a Terceira Guerra contra Israel, o que poderá acontecer a qualquer momento.
Marli Barros Dias