Tutores demitem 600 jornalistas do grupo Feza
Cerca de 600 jornalistas foram demitidos dos jornais Zaman e Today’s Zaman, da agência de notícias Cihan e da emissora de TV Irmak, depois que tutores foram designados para a direção do grupo de mídia Feza em uma jogada liderada pelo governo em 3 de março de 2016, reportou o jornal turco Yeni Hayat na quinta-feira.
Os tutores Sezai Sengonul, Tahsin Kaplan e Metin Ilhan mudaram a linha editorial do grupo, de crítica em vergonhosamente pró-governo imediatamente após suas nomeações.
O Zaman era o jornal mais vendido antes da nomeação dos tutores, com 635.000 cópias por dia. Contudo, a circulação despencou para 5.000, devido à mudança na linha editorial, em apenas alguns dias.
Em 6 e 7 de março, o acervo de 20 anos do jornal Zaman, o primeiro jornal online na Turquia, foi destruído com uma proibição sobre o acesso a todos os artigos de notícia.
Policiais vagaram pelos corredores do jornal por um mês depois da tomada de controle. Caminhões blindados com canhões d’água (TOMA) foram deixados na entrada do jornal por três meses. Guardas de segurança privada mantinham vigia em muitos pontos, incluindo as entradas para a sala de oração e do acervo do jornal.
Publicações como o Zaman Kitap, a revista Ailem, a revista satírica Puff e também a emissora de TV Irmak foram fechadas pelos tutores supostamente para poupar dinheiro, enquanto que cerca de 100 novos funcionários foram contratados para o jornal Zaman e para a agência de notícias Chan com solários mais altos.
Tutores também confiscaram a Distribuição de Mídia Chan – que distribuía 1,1 milhão de jornais diariamente – , interrompendo a distribuição de várias publicações, incluindo os jornais Zaman, Ozgur Dusunce, Meydan, Taraf, Yeni Asya e a revista semanal Aksiyon. Os tutores demitiram cerca de 2.000 funcionários da Distribuição de Mídia Chan, que estava entre 500 melhores empresas na Turquia antes de ser confiscada.
A polícia invadiu a sede do jornal Zaman e usou gás de pimenta contra milhares de leitores depois, em 4 de março, depois que o juiz de Istambul Fevzi Keles nomeou tutores para assumirem a direção do Grupo de Mídia Feza, desferindo um novo golpe a já convalida liberdade de imprensa na Turquia.
A decisão foi emitida pelo 6º Tribunal Penal de Paz de Istambul a pedido Promotor Público Chefe, de Istambul, Fuzuli Aydogdu, que alegou que o grupo de mídia agia sob ordens do que é chamado de “Organização Terrorista Fethullahista/Estrutura de Estado Paralelo”, exaltando o grupo e ajudando-o alcançar seus objetivos em suas publicações.
O promotor também alegou que o suposto grupo terrorista está cooperando com a organização terrorista do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) para derrubar o governo turco e que funcionários de alto escalão dos dois grupos tiveram reuniões no exterior.
A tomada de controle do grupo de mídia, que atraiu condenação pelo mundo todo por ser ainda mais um golpe na liberdade de imprensa, veio como parte da decorrente guerra do Presidente Recep Tayyip Erdogan contra o movimento Gulen.
Erdogan lançou uma guerra contra o movimento, logo após a publicação da investigação de corrupção no final de 2013, em que o círculo interno de Erdogan foi envolvido. Erdogan acusa o movimento de planejar a investigação para derrubar seu governo e estabelecer uma “estrutura paralela” dentro do estado. Contudo, o movimento, inspirado pelo intelectual turco-islâmico residente nos EUA Fethullah Gulen, fortemente nega a alegação.
Erdogan também se refere ao movimento como uma organização terrorista apesar de não existir ordem judicial na Turquia reconhecendo o movimento como tal.
Tradução de: Renato José Lima Trevisan
Fonte: www.turkishminute.com