Dificuldades no acordo UE-Turquia bloqueiam migrantes
A implementação do acordo entre a União Europeia e a Turquia para reduzir o fluxo migratório avança lentamente e desata tensões nas ilhas gregas diante da Turquia, onde milhares de migrantes seguem amontoados, apesar da redução do número.
Com a temporada de turismo chegando, cerca de 8.500 migrantes se encontram bloqueados, especialmente em Samos, Quios, Leros, Kos e sobretudo em Lesbos, onde ocorreram confusões no acampamento de Moria que deixaram na noite de quarta-feira três feridos graves.
Estas ilhas dispõem oficialmente de uma capacidade de acolhida para 7.500 pessoas.
Desde que o pacto entrou em vigor, prevendo devolver à Turquia os migrantes que chegaram a partir do dia 20 de março. Incluindo os que solicitam asilo, 411 pessoas, em sua maioria paquistaneses, já foram reenviadas ao país.
A aplicação da parte mais polêmica do acordo, o reenvio dos migrantes que solicitam asilo, inclusive os sírios, segue sendo uma incerteza.
Com a onda de migrantes que pedem asilo para evitar ou atrasar o reenvio ao território turco, o serviço de asilo grego se encontra lotado. Além disso, deve-se levar em conta que menos da metade dos 800 especialistas e intérpretes prometidos como reforço pela UE chegaram às ilhas.
Segundo uma fonte governamental, apenas dois casos de solicitação de asilo haviam sido finalizados no fim de maio, diante das 878 demandas registradas no meio do mês, das quais 772 eram de sírios, tratados de forma prioritária.
No primeiro caso, o primeiro a ser levado a público, o solicitante sírio conseguiu o asilo e evitou ser reenviado ao alegar que a Turquia “não é um país seguro para ele”.
A ONG Pro Asyl afirmou nesta quinta que haviam sido registradas outras dez decisões parecidas.
“Exercício de equilíbrio”
“Os dossiês são tratados caso a caso. A Turquia pode ser considerada insegura por um sírio, mas outro pode pensar que não é porque vive com sua família ali”, explicou à AFP a mesma fonte governamental.
O governo grego de esquerda busca também encontrar um “exercício de equilíbrio” entre a pressão dos defensores dos direitos dos refugiados e a de seus sócios europeus.
“O que é certo é que há muita demora”, apesar de o limite estipulado para tomar a decisão é de 15 dias, advertiu Georges Kosmopoulos, da Anistia Internacional.
Durante a longa espera, exceto quando conseguem falsos documentos na rede de traficantes, os migrantes não podem abandonar as ilhas, ainda que possam circular livremente depois de um primeiro período de retenção de 25 dias.
O amontoamento dos campos, a falta de condições higiênicas decentes e uma má distribuição de alimentos provocam cada vez mais tensões entre os migrantes e os habitantes.
Em Lesbos, Quios e Kos, as confusões sucedem as manifestações. As ONGs estão preocupadas com a crescente insegurança das mulheres e crianças migrantes.
Os migrantes das ilhas estão “exasperados e ansiosos”, comentou nesta quinta o porta-voz em Lesbos do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), Boris Sheshirkov, após o incidente ocorrido no acampamento de Moria.
Fonte: www.portalraj.com.br