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“A esquerda não entende o Islã.” Entrevista com Jean Birnbaum

“A esquerda não entende o Islã.” Entrevista com Jean Birnbaum
abril 20
17:01 2016

“Embora motivado por intenções louváveis, isto é, pela vontade de não condenar toda uma comunidade, é um erro dizer que os terroristas do Califado não têm nada a ver com o Islã.” Parte daí a reflexão de Jean Birnbaum, estudioso francês, além de responsável pelo caderno de livros do Le Monde, que recentemente enviou para as livrarias Un silence religieux (Seuil), um ensaio contracorrente, cujo subtítulo afirma: “A esquerda diante do jihadismo“.

A reportagem é de Fabio Gambaro, publicada no jornal La Repubblica, 15-04-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Segundo o autor, muitos expoentes da esquerda tendem a remover a motivação religiosa dos terroristas por ingenuidade e senso de culpa, mas também porque são filhos do racionalismo iluminista, motivo pelo qual não conseguem compreender a religião como força autônoma capaz de se tornar um verdadeiro agente político.

“Só a verdade é revolucionária, dizia-se uma vez. Portanto, devemos ter a coragem de olhar a realidade na cara, sem adoçá-la. Sempre podemos tentar nos tranquilizar, dizendo-nos que os jovens jihadistas são apenas loucos, monstros ou marginalizados que são manipuladas, mas a realidade é bem diferente. Se um terrorista, cujo discurso se remete continuamente ao Alcorão, mata em nome de Alá, não podemos dizer que as suas ações não têm nada a ver com o Islã. Quem somos nós para negar a sua relação com a fé? Infelizmente, o islamismo é exercido em nome do Islã, embora, felizmente, nem todo o Islã é islamista. Os fanáticos do Califado têm origens sociais e culturais muito diferentes. O único elemento que os une é a sua relação particular com a religião. E, para derrotá-los, devemos entender a motivação autenticamente religiosa das suas escolhas. O que, evidentemente, não significa justificá-los.”

Eis a entrevista.

Não reconhecer a dimensão religiosa do terrorismo islâmico é um erro estratégico?

Porque significa apunhalar nas costas todos aqueles que, no Islã, sabem muito bem que essa relação existe e tentam combatê-la todos os dias. Dentro do mundo muçulmano, está se desenvolvendo uma dura batalha entre duas concepções diferentes do Islã. Devemos reconhecer isso e apoiar todos aqueles que tentam subtrair a fé dos fanáticos que a deturpam, rejeitando um Islã violento, intolerante e homicida. Somente reconhecendo o perigo é possível combatê-lo. O problema é que a violência jihadista não se encaixa nas nossas grades conceituais e, em particular, nas da esquerda francesa que removeu completamente a dimensão religiosa. Falar apenas de pobreza ou de marginalização – dimensões importantes – excluindo a religião é uma maneira de reduzir o problema aos nossos hábitos mentais.

Por que a esquerda não consegue pensar a dimensão religiosa?

A esquerda, em particular a francesa, se construiu no rastro da tradição cartesiana, iluminista e marxista, perseguindo o fantasma do desenraizamento da religião, considerada apenas como uma ilusão, uma quimera. O famoso “ópio dos povos”, de que falava Marx e que a emancipação social devia ter feito desaparecer. Fiel a essa visão, a esquerda renunciou a pensar a religião e a sua força. Mas a fé nem sempre é sintoma de alguma outra coisa. Seguindo os rastros de um erudito como Christian Jambet, eu acho que é preciso reconhecer uma espécie de materialismo espiritual, no sentido de que a fé, longe de ser apenas uma ilusão ou um reflexo, pode se tornar uma força material.

A esse respeito, você presta homenagem a Michel Foucault, que foi um dos primeiros a ressaltar o valor político do Islã, quando viajou para o Irã no início da revolução islâmica…

Foucault soube afirmar a força própria do messianismo religioso, tanto que falou de “política espiritual”. No Irã, ele entendeu que a energia que estava pondo fogo no barril de pólvora era a esperança religiosa, reconhecendo, dentre outras coisas, que no Ocidente não sabemos mais o que é a política inflamada pela fé. Não buscamos mais “a história sonhada”, que, ao contrário, no passado, também foi importante para nós. Justamente porque removemos essa dimensão, hoje nos parecem impossíveis as motivações religiosas da jihad.

Por que tais motivações religiosas abrem espaço para o hiperterrorismo?

O islamismo é uma reação à modernidade ocidental e à tentativa de modernizar o Islã. Ao mesmo tempo, também é uma reação às humilhações que o mundo ocidental infligiu ao mundo muçulmano. Como disse Derrida, todas as comunidades são atravessados pela pulsão de morte, portanto, também as comunidades religiosas, que, mais cedo ou mais tarde, são forçadas a fazer as contas com os problemas identitários, o fundamentalismo e a violência.

No Islã, hoje, porém, há algo de particular, como ressaltam Mohammed Arkoun ou Abdennour Bidar. O Islã se propõe como uma alternativa radical ao mundo contemporâneo, portanto – como todas as vezes que se pretende acabar com um certo mundo – coloca-se a questão da violência. Os jihadistas não querem mudar o mundo, querem destruí-lo.

Em suma, na sua opinião, os jovens que hoje vão à Síria para lutar estariam movidos por um impulso ideal que não sabemos entender?

Não quero absolutamente banalizar o mal ou justificá-lo, mas não se pode pensar que esses jovens são movidos no início apenas pelo ódio e pelo desejo de aniquilar os outros. Quando ouvimos as suas motivações, descobrimos que eles estão indignados com o mundo contemporâneo, que não se reconhecem na democracia e que desejam ir ao encontro dos irmãos do Califado.

Em suma, no início, eles são motivados pela necessidade de justiça e de de fraternidade, por uma forma de esperança para nós incompreensível, que, depois, se manifesta com um rosto odioso e violento. Se não entendemos essa esperança radical, não podemos compreender o que está acontecendo.

Mas, para eles, a esperança não se realiza na terra, mas no além…

Os jihadistas querem acabar com a história, com a política e, sobretudo, com a vida. Daí o desejo e o elogio da morte. Mas tudo isso nasce de uma esperança. A única questão que importa é aquela que foi posta, na sua época, por Kant: o que é lícito esperar? A esquerda, porém, não entende mais a necessidade de esperança dos jovens e não tem nada para lhes propôr. Como consequência, quanto mais a esperança radical profana – a da esquerda que quer mudar o mundo – deserta a realidade, mais se afirma uma esperança radical religiosa, que depois produz as tragédias que conhecemos. Hoje, a esquerda só sabe propor a gestão do presente.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

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