Porque a Turquia despencou do paraíso?
AKP (Partido da Justiça e do desenvolvimento) chegou ao cenário político da Turquia em 2002. Erdogan era um político conhecido como prefeito de Istambul. Ele tinha sido preso por ter recitado um poema e acabou formando um partido político após sua saída de prisão.
O estado, a burocracia e o comércio foram tomados pela elite da Turquia e naquele momento o país estava sofrendo por causa da falha das coalizões partidárias, crises econômicas muito fortes, domínio do exército pelo parlamento, falta de liberdade de expressão e abusos de diretos humanos. O partido do Erdogan foi uma saída para o povo, que foi negligenciado, discriminado e pressionado pelo estado. E também representou uma saída pois prometia mais liberdade, democracia, dialogo, aproximação com a União Europa e prosperidade para a Turquia. Ele era uma pessoa modesta, falando a mesma língua que o povo, comia a mesma comida e vivia num apartamento alugado.
Ele recebeu apoio de todos os grupos de minoria como os curdos, Aleitas, classe de empresários pequenos, grupos religiosos, inclusive o Movimento Gülen. Seu partido venceu as eleições e Erdogan conseguir chegar ao poder sem precisar fazer alguma aliança com outros partidos. No seu primeiro e segundo mandato ele seguiu uma linha pluralista e conseguiu executar um plano de economia bem-sucedido, como nunca visto antes, aproveitando o ambiente favorável aos países emergentes. Também conseguiram construir uma política externa de forma pacífica e resolveram muitos problemas regionais. Apesar das críticas das elites e pressão do exército, ele consegui ficar no governo com apoio da sociedade civil.
Esta história de sucesso foi manchada em três ocasiões: manifestações populares, Primavera Árabe e escândalo de corrupção.
Em 2010, na sua terceira campanha eleitoral, ele prometeu fazer uma constituição nova para tirar o peso do exército dos ombros do sistema parlamentar. Ele venceu as eleições mais uma vez e consegui mandar os chefes do exército para a cadeia através de um referendum. A partir de início do terceiro mandato, a linha pluralista, moderada e pacifica do AKP foi mudada para uma linha mais centralizada, autoritária e desequilibrada. Começaram a perseguir à oposição, criar leis que somente servem para beneficiar o seu partido e transformar a sociedade através de obrigações e proibições. Neste cenário começaram as primeiras separações do partido e as críticas dos grupos aliados, como o Movimento Gülen. Esta tendência autoritária resultou nas manifestações populares na Praça de Taksim . Ele preferiu reprimir estas manifestações usando a força, polarizando o povo e adotando um discurso mais duro.
A política externa da Turquia também começou a mudar quando surgiu Primavera Árabe. Erdogan quis aproveitar este momento histórico para estender a influência da Turquia e também para se tornar um líder regional. Por este motivo, deu apoio aberto a Irmandade Muçulmana no Egito, povos contra ditadores e a oposição na Síria. Assim, o país perdeu credibilidade na região e importou a crise no Oriente Médio para a Turquia. A economia começou perder valores e apareceram novas crises nas fronteiras com outros países, como Rússia.
Quando se aproximou o fim do seu terceiro mandato, uma investigação policial revelou um grande escândalo de corrupção, grampos telefônicos, em que vários ministros, políticos, empresários e até próprio Erdogan negociando, todos eles foram acusados de receber propinas e a fazerem lavagem de dinheiro. Durante seu primeiro e segundo mandato, ele tinha conseguido transformar uma boa parte da mídia em uma linha editorial pró-governista. Quando as coisas começaram piorar, Erdogan utilizou a imprensa no seu domínio, inclusive TV estatal, como uma ferramenta para guardar sua popularidade e esconder as informações de investigação do povo. No primeiro cenário, ele não aceitou e disse que isto era uma tentativa de golpe para o governo e para sua família. Na segunda etapa, ele começou sua campanha eleitoral para ser eleito como presidente, pedindo votos para combater “os golpistas”. Assim criou um inimigo virtual chamado “estado paralelo”, atribuindo esta investigação policial e decisão judicial aos seguidores do movimento Gülen. Ele consegui vencer as eleições e foi eleito como presidente (premiê) e reverteu o julgamento de corrupção para um julgamento de golpe. Para concretizar a sua defesa, ele declarou uma “caça às bruxas” e criou uma corte especial, formada por uma equipe de juízes comprados, para fundamentar seu autoritarismo.
Esta declaração foi o início de uma queda forte dos valores democráticos no país. A partir deste momento, começou uma perseguição aberta às entidades do movimento, fechando as escolas e hospitais, processando os empresários e recentemente tomando controle dos jornais. Durante um tempo, esta perseguição foi ampliada e incluiu todos os grupos e indivíduos até jornalistas, acadêmicos, funcionários públicos que não eram fiéis a Erdogan.
Por Kamil Ergin