Grupo jihadista amplia presença entre os turcos na Alemanha
Um imã radical, cujos ensinamentos inspiraram inúmeros jihadistas, incluindo o assassino de um embaixador russo na Turquia, expandiu sua influência na Alemanha, que abriga uma diáspora turca de aproximadamente três milhões de pessoas.
Hüsnü Aktaş, um clérigo de 73 anos com histórico de prisão por atividades radicais, estabeleceu fortes conexões com o imã turco nascido na Alemanha, Muharrem Çakır, segundo uma investigação do Nordic Monitor.
Çakır, um clérigo turco de 50 anos, foi influenciado ideologicamente por Aktaş durante seus anos de formação na Turquia, o que moldou profundamente sua visão de mundo. Notório por sua postura fortemente antiocidental e antiamericana, Çakır compartilha abertamente essas opiniões em suas redes sociais.
Çakır lidera, na Alemanha, uma congregação conhecida como Hanif, à qual ele frequentemente prega em turco e alemão. Ele compartilha esses sermões no YouTube e viaja regularmente à Turquia para encontrar Aktaş, trocar ideias sobre atividades coordenadas e fazer discursos.
Operando por meio das organizações alemãs “Hanif Sport-und Kulturverein e.V.” e “Hanif Moschee Bildungszentrum e.V.” em Dortmund, Renânia do Norte-Vestfália, Çakır vem promovendo ativamente a ideologia de Aktaş dentro das comunidades muçulmanas da Alemanha, que são em sua maioria compostas por turcos.
Esse desenvolvimento apresenta desafios significativos para a segurança nacional da Alemanha, considerando o histórico preocupante de Aktaş. Ele já radicalizou inúmeras pessoas, defende a instauração de um califado e incentiva ativamente seus seguidores a participarem do jihad. Além disso, Aktaş apresenta uma postura veementemente antissemita, frequentemente promovendo teorias conspiratórias sobre as comunidades judaicas em seus discursos.
Aktaş enfrentou seu primeiro julgamento por visões e atividades radicais em 1969, enquanto estudava na faculdade de teologia da Universidade de Ancara. Ele foi preso novamente em 28 de novembro de 1984 sob acusações semelhantes e levado a um tribunal militar, mas foi liberado em 12 de dezembro de 1985 enquanto aguardava julgamento. Impenitente, ele continuou suas atividades radicais e fundou a *Fundação Vahdet* (“Fundação Vahdet de Educação, Solidariedade e Amizade”) em 1º de julho de 1988.
A fundação liderada por Aktaş foi posteriormente implicada em fornecer apoio a um grupo checheno que sequestrou um ferry em janeiro de 1996. O navio estava prestes a sair da província de Trabzon, no Mar Negro, em direção a Sochi. A acusação de 1997 contra Aktaş e sua fundação revelou que os sequestradores receberam ajuda direta da organização.
Os sequestradores mantiveram 177 passageiros e 55 tripulantes reféns a bordo do ferry, desviando-o para Istambul. O objetivo era chamar a atenção para a causa chechena contra a Rússia e exigir a libertação de combatentes chechenos cercados por forças russas. Após um impasse de 72 horas, todos os sequestradores foram presos. Apesar de terem sido julgados e condenados, a maioria dos detidos escapou da prisão sob circunstâncias suspeitas.
O nome de Aktaş ressurgiu durante a investigação do assassinato do embaixador russo Andrei Karlov em 19 de dezembro de 2016, em Ancara. O assassino, Mevlüt Mert Altıntaş, um policial de 22 anos, foi influenciado por clérigos radicais, incluindo Aktaş.
A investigação revelou que o policial radicalizado havia frequentado os sermões de Aktaş. Em depoimento ao promotor, Aktaş afirmou não se lembrar da presença do assassino em suas palestras, mas reconheceu que um de seus alunos, Mustafa Akalın, pediu desculpas posteriormente por levar Altıntaş a um desses encontros. Aktaş também alegou não lembrar o conteúdo dos sermões que Altıntaş poderia ter assistido.
No entanto, Enes Asım Silin, um militante turco da Al-Qaeda e suspeito no caso Karlov, apresentou uma versão diferente. Em depoimento dado em 18 de janeiro de 2017, Silin relatou uma conversa com o assassino, na qual Altıntaş revelou que Aktaş havia orientado-o a pedir demissão da polícia, alegando que a profissão era incompatível com os princípios religiosos. Altıntaş, considerando deixar a polícia, estava avaliando a possibilidade de unir-se a combatentes jihadistas na Síria.
O grupo Vahdet é amplamente conhecido pela publicação da revista “Misak” desde 1989. A organização também mantém um site com o mesmo nome: [http://www.misak.com.tr/](http://www.misak.com.tr/). Uma análise dos artigos da revista e do website revela forte apoio a atividades jihadistas armadas, especialmente na Síria. A publicação exibe entrevistas com jihadistas turcos que lutaram na Síria e incentiva abertamente o recrutamento para atividades militantes semelhantes.
É evidente que Aktaş recebeu proteção do governo islâmico do presidente Recep Tayyip Erdoğan. Embora devesse ter sido incluído como suspeito no caso do assassinato do embaixador russo, a promotoria pública classificou-o como testemunha. A conexão de Erdoğan com Aktaş remonta a vários anos. Em 1989, ambos foram palestrantes em um painel organizado por islamistas para discutir o futuro do movimento islâmico na Turquia.
Protegido de qualquer repressão graças ao apoio político oferecido pelo governo, Aktaş expandiu suas operações dentro e fora da Turquia, estabelecendo mesquitas e outros espaços para aumentar sua base de seguidores. Recentemente, o grupo construiu um grande complexo na região de Ovacık, em Ancara, capital da Turquia.
*Por Abdullah Bozkurt/Estocolmo*
Fonte: Jihadist Vahdet group increases footprint in Germany’s Turkish Muslim communities – Nordic Monitor
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