Liberdade de imprensa na Turquia se deteriora ainda mais em 2024, aponta relatório
O terceiro trimestre de 2024 marcou uma intensificação na erosão das liberdades na Turquia, de acordo com um relatório da Agenda de Liberdade de Expressão e Imprensa (Ífade ve Basın Özgürlüğü Gündemi).
O relatório destaca a contínua pressão legal sobre a imprensa, observando que 10 jornalistas enfrentaram nove novas ações judiciais apenas no terceiro trimestre. Foram realizadas audiências iniciais em pelo menos 11 outros casos, enquanto oito jornalistas foram detidos e 14 permaneceram sob investigação durante o período. Embora os processos judiciais envolvendo jornalistas tenham diminuído ligeiramente durante o recesso judicial anual da Turquia, o número de casos aumentou drasticamente em setembro, refletindo o que os próprios jornalistas chamaram de um “retorno ao dever de tribunal”.
No total, 89 jornalistas e funcionários da mídia, juntamente com um jornal, enfrentaram julgamento em pelo menos 70 processos ao longo do ano, dos quais 17 chegaram a um veredicto. Dezesseis jornalistas foram absolvidos, enquanto nove receberam penas de prisão que, no total, representam mais de 50 anos de confinamento, e dois foram multados em um valor combinado de 33.320 liras turcas (aproximadamente 969 dólares).
O relatório também apontou restrições à liberdade de imprensa e o aumento das ameaças contra aqueles que atuam no setor de mídia. A Autoridade de Tecnologias da Informação e Comunicação (BTK) impôs limitações de acesso ao Instagram, que possui milhões de usuários na Turquia. Separadamente, o Conselho Supremo de Rádio e Televisão (RTÜK), órgão regulador de transmissões da Turquia, revogou recentemente a licença de transmissão da Açık Radyo por não cumprimento de uma penalidade anterior. O presidente do RTÜK, Ebubekir Şahin, anunciou que entrevistas de rua com o público poderiam ser “monitoradas”, já que poderiam estar potencialmente contribuindo para “desinformação”. Poucos dias depois, as autoridades detiveram um cidadão que havia criticado a proibição do Instagram e as políticas do governo em uma entrevista no YouTube, aumentando as preocupações com a repressão à liberdade de expressão.
Jornalistas também relataram um aumento significativo de ameaças, incluindo ameaças de morte. Cinco jornalistas que cobriam o julgamento de assassinato de Sinan Ateş, ex-líder dos Lobos Cinzentos, a ala paramilitar do Partido do Movimento Nacionalista (MHP), de extrema-direita, foram ameaçados por um alto funcionário dos Lobos Cinzentos. As autoridades arquivaram as queixas criminais dos jornalistas relacionadas a essas ameaças.
O MHP, um parceiro chave da coalizão do governo turco, divulgou publicamente os nomes e afiliações de indivíduos que comentaram sobre o caso de Ateş.
Em outro incidente, um vídeo circulando on-line alegava que um contrato para tirar a vida de um jornalista havia sido encomendado. Embora prisões tenham sido feitas, os suspeitos foram liberados pouco depois.
O relatório também detalhou ataques a jornalistas feitos por autoridades locais. Em um dos casos, um jornalista relatou ter sido ameaçado e agredido por um prefeito de distrito após publicar uma matéria sobre supostas irregularidades em contratos de aquisição. Na noite anterior a uma audiência judicial relacionada ao caso, uma mensagem ameaçadora foi escrita no vidro traseiro do carro do jornalista.
A censura online desenfreada na Turquia também tem aparecido nos relatórios de organizações internacionais.
Em um relatório da Freedom House, com sede em Washington, foi observado que as autoridades turcas frequentemente censuram conteúdo online e assediam pessoas por suas postagens em redes sociais. A Turquia foi classificada como o país com a pior pontuação na Europa em termos de liberdade online.
A Turquia obteve 31 pontos em um índice de 100 pontos, no qual as pontuações variam de 0 (menos livre) a 100 (mais livre). Os outros dois países com piores pontuações na Europa são a Hungria, com uma pontuação de 69, e a Sérvia, com 70, de acordo com o relatório “Freedom on the Net 2024” (Liberdade na Internet 2024).
As autoridades turcas frequentemente bloqueiam temporariamente o acesso a redes sociais, incluindo Facebook, X, Wikipedia, e, mais recentemente, o Instagram, que permaneceu bloqueado por nove dias em agosto, ação que novamente recebeu condenação internacional.
O governo do presidente Recep Tayyip Erdoğan é regularmente acusado de silenciar a liberdade de expressão e reprimir pessoas que criticam seu governo nas redes sociais.
Milhares de pessoas enfrentam investigações, são processadas e podem ser condenadas à prisão na Turquia por expressarem opiniões contrárias ao governo nas plataformas de mídia social.
Grupos de direitos humanos rotineiramente acusam a Turquia de minar a liberdade de imprensa por prender jornalistas e fechar veículos de mídia críticos, especialmente desde que o presidente Erdoğan sobreviveu a uma tentativa de golpe em julho de 2016.
Fonte: Press freedom in Turkey further eroded in Q3 of 2024, report finds
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