Relatório da ONU denuncia violações de direitos humanos pela Turquia no norte da Síria
A Comissão Internacional Independente de Inquérito da ONU sobre a República Árabe da Síria divulgou um relatório implicando a Turquia em uma série de violações de direitos humanos no norte da Síria entre janeiro e junho de 2024.
O relatório, apresentado ao Conselho de Direitos Humanos durante sua 57ª sessão, detalha o envolvimento direto da Turquia em ataques aéreos, abusos de detenção e outras violações cometidas em áreas sob seu controle.
Forças turcas e facções da coalizão do Exército Nacional Sírio (ENS), um grupo armado apoiado pela Turquia, foram responsabilizadas por detenções arbitrárias, tortura, violência sexual e ataques contra civis, constituindo potenciais crimes de guerra.
O relatório destacou vários incidentes de ataques aéreos realizados por forças turcas que visaram infraestruturas civis. Um desses ataques, em 15 de janeiro, destruiu a estação de energia de Swediyah, cortando a eletricidade de mais de um milhão de pessoas e impactando severamente o acesso à água e ao combustível. A comissão concluiu que esses ataques aéreos violaram o direito humanitário internacional, observando a ausência de alvos militares próximos às áreas afetadas.
Outra série de ataques, no final de maio, feriu sete civis, incluindo duas crianças, durante um ataque a um posto de controle das Forças Democráticas Sírias (SDF) na vila de Tal Hamis.
Em Afrin, civis foram detidos pela polícia militar do ENS e submetidos a espancamentos severos com canos e cabos enquanto estavam retidos em condições desumanas. De acordo com o relatório, um homem curdo detido em Afrin descreveu como foi repetidamente espancado enquanto algemado e vendado durante os interrogatórios.
O relatório também revelou casos de violência sexual e baseada em gênero em áreas sob controle turco. Uma mulher curda que tentava viajar para a Turquia em 2022 foi estuprada em grupo por membros do ENS, e outra mulher foi sexualmente agredida em sua casa em Afrin por um membro da Divisão Sultan Murad do ENS em 2023.
Esses incidentes foram parte de um padrão maior de abusos, incluindo detenções incomunicáveis e tortura em várias instalações de detenção no norte da Síria.
Além dos abusos físicos, facções apoiadas pela Turquia se envolveram em confiscação de propriedades e extorsão. Em Afrin, a Brigada Sultan Suleiman Shah impôs “impostos” exorbitantes a proprietários de terras curdos, com um homem forçado a pagar mais de US$ 8.000 sob ameaça de violência.
A presença militar da Turquia na Síria continua sendo controversa. Enquanto Ancara insiste que suas operações visam a proteger a segurança nacional e reassentar refugiados, críticos argumentam que o impacto real tem sido devastador para os civis, com abusos contínuos das forças turcas e seus aliados.
O relatório da comissão pede que a Turquia investigue essas violações e responsabilize os culpados, ao mesmo tempo que instiga os órgãos internacionais a enfrentarem a deterioração da situação dos direitos humanos na Síria. Apesar desses apelos, o relatório indica que a impunidade por tais violações continua sendo um desafio significativo na região.