O Movimento Gülen e a Importância da Educação
Enquanto o grito por valores democráticos, direitos humanos e diálogo intercultural é frequentemente ouvido, a ameaça global de guerra, terrorismo, aumento da distância entre ricos e pobres, fome, desnutrição, aquecimento global, poluição, e muitos outros problemas sociais e culturais, representam um verdadeiro desafio para os cidadãos do mundo. Enfrentar estes desafios é a principal preocupação de intelectuais e políticos, hoje em dia. Apesar da existência de alguns pessimistas, há uma série de iniciativas que trabalham para o bem comum e fazem um grande esforço para erradicar estes problemas. O Movimento Gülen é uma das iniciativas mais influentes a serem levadas em consideração neste contexto. A questão sobre como as atividades educativas formais e informais do Movimento contribuem para a solução de problemas locais e globais é a segunda preocupação deste artigo. Finalmente, levando em consideração a extensão das atividades educacionais globais do Movimento, esta apresentação lida com a abordagem de Gülen sobre a diversidade cultural e religiosa e sua relação nas sociedades modernas.
Introdução
O movimento Gülen é uma das iniciativas mais influentes a serem levadas em consideração neste contexto. Fethullah Gülen é um estudioso muçulmano turco cujos ideias inspiraram e influenciaram muitos intelectuais turcos, educadores, estudantes, empresários, políticos e jornalistas, dentro e fora da Turquia a estabelecer escolas e centros educativos e interculturais em mais de 120 países. Após resumir, brevemente, algumas características importantes da globalização, este artigo fornece uma descrição geral do Movimento e suas principais características na formação da pessoa ideal, que é capaz de internalizar as qualidades de autodisciplina, diálogo e a noção de serviço para a humanidade (khidmah). A questão sobre como as atividades educativas formais e informais do Movimento contribuem para a solução de problemas, locais e globais, é a segunda preocupação deste trabalho. Finalmente, como extensão das atividades educacionais globais do movimento, o artigo trata da abordagem de Gülen sobre a diversidade cultural e religiosa e sua relação nas sociedades modernas.
Globalização
A globalização é multidimensional, portanto, difícil de ser definida. Esse caráter indefinido está fortemente relacionado a valores econômicos, políticos, sociais, culturais e éticos no mundo. Para alguns, o processo de globalização é um pesadelo, que provoca vários problemas. Ela é considerada uma grande ameaça às tradições e culturas locais por enfraquecer as fronteiras convencionais ou a coesão interna de comunidades com o objetivo da criação de estruturas econômicas e sociais maiores (Steger, 2003).
Para outros, a globalização é uma maneira única de progresso. Basta examinar o desenvolvimento de tecnologias de informação e de comunicação de massa para perceber como as pessoas estão envolvidas neste processo inevitável. Entre esses dois entendimentos radicais de globalização, existem vários discursos que enunciam abordagens mais cautelosas. Quando se leva em consideração o discurso de um muçulmano sobre globalização, percebe-se que ele não é muito diferente da discussão moderna sobre o assunto. Há céticos radicais que a consideram uma grande ameaça para o Islã e uma conspiração contra os muçulmanos em todo o mundo. Especialmente após o colapso da União Soviética e a grande tragédia do 11 de setembro de 2001, a crítica e ataques contra o Islã, em toda parte, levaram muitos muçulmanos a desconfiarem do discurso geral de globalização.
Em um mundo que está em constante e acelerada mudança, é fácil imaginar que há muitas outras abordagens sobre globalização a serem confrontadas. O Movimento Gülen, neste aspecto, é único, pois é aberto a mudanças, mas também respeita seus próprios valores e identidade tradicionais. Em outras palavras, o Movimento Gülen não exibe uma reflexão antiglobalista (não é reacionário), mas produziu uma visão antiglobalização (proativista), que tem o seu próprio selo.
Principais características do Movimento e da importância da educação
Como muitos pesquisadores explicam, o Movimento teve origem na Turquia, onde a riqueza cultural e religiosa (e mística) do não-colonizado Estado Otomano ainda são preservados (Gülen, 2004). Embora religião e cultura desempenhem um papel significativo no Movimento Gülen, elas não são uma reação fundamentalista ao Ocidente e à modernidade nem uma completa aceitação dos mesmos. O Movimento é aberto a reconhecer a contribuição de outros, na verdade, ele é extremamente positivo sobre o uso de tecnologias de comunicação em massa a serviço da humanidade, e consciente sobre o fato de a globalização remover fronteiras entre nações e unir pessoas. A questão sobre como muçulmanos podem ser envolvidos e contribuir para este processo reside em sua compreensão da humanidade e sobre como servir a humanidade de uma forma global.
Para Gülen, o valor da nossa velha Terra se origina em seus nobres habitantes, ou seja, a humanidade. Atender a este ilustre residente é nossa tarefa terrena mais honrada (Gülen, 2004). A razão de o ser humano ser tão importante, de acordo com Gülen, reside em sua plena confiança e dependência de Deus. Porque amamos a Deus, devemos amar e respeitar Sua melhor criação. Se uma pessoa ama a Deus, sente uma inclinação profunda a cada uma de Suas criações (Gülen, 1998). Este amor não é uma proclamação estática ou uma noção abstrata, é, de fato, uma imersão transcendental que vêm diretamente da compreensão de Gülen sobre o Islã. Ele acredita que o amor é a arma mais forte e mais poderosa do universo (Unal, 1998). Este sonho de amor universal só pode ser realizado por “pessoas de ideais.”
Gülen vê a realização da pessoa de ideais como o maior objetivo da existência humana. Ele os chama de “geração de ouro” e vê suas atividades, em nível global, como um sinal de esperança para a salvação de toda a humanidade.
A palavra-chave na construção da geração de ouro é educação. Gülen passou mais de 40 anos incentivando e inspirando pessoas a sua volta a investirem, material e espiritualmente, em educação. Para Gülen, a educação é um dever sublime que se manifesta o nome Divino, Rabb (Pedagogo, Educador, Sustentador) (Gülen, 2002). Esta é uma noção muito importante que liga os seres humanos a Deus. A vida real, diz Gülen, só é possível através do conhecimento. Quem negligencia ensino e aprendizagem pode ser considerado morto. Para Gülen, a razão pela qual fomos criados é de aprender, comunicar e ensinar (Gülen, 2004).
Gülen é insistente sobre educação para várias razões. Ela não somente forma indivíduos, mas também é o fator mais importante para mudança social positiva. Além disso, ele vê a educação como linguagem mais eficaz nas relações com outros. A educação é o objetivo dos objetivos. Portanto, ninguém pode ser indiferente ou desinteressado sobre a educação de seus filhos. Em suas próprias palavras, as pessoas que educam seus jovens de hoje, estão, na verdade, investindo nos próximos 25 anos (Gülen, 2004). No entanto, apesar da existência de uma grande variedade de escolas por toda parte, Gülen, expressa muitas vezes a sua insatisfação com o sistema educacional existente. Há inúmeras escolas públicas e privadas, mas elas não conseguem atender todas as necessidades das crianças. Gülen frequentemente repete que as pessoas responsáveis pela educação dos jovens, no período moderno, não desenvolveram uma abordagem holística da educação. Esta falha resulta na criação de uma geração de jovens sem ideais, como se fossem cadáveres animados (Gülen, 2004). A pressão da globalização neste processo não pode ser negada. Instituições de ensino têm estado sob pressão para se concentrarem mais em atender às demandas da economia, ao invés de objetivos mais sublimes e uma educação voltada para o mercado de trabalho, muitas vezes, cega as pessoas para a necessidade de se criar crianças física e espiritualmente saudáveis. Concluindo, uma educação sobre competição global, com valores ausentes e voltada ao trabalho atende às necessidades físicas das crianças, mas nunca atendem seu potencial ético e espiritual.
Esta é a essência da filosofia educacional de Gülen. Para ele, treinar o físico das crianças é fácil, mas muito poucos treinam, ao mesmo tempo, as mentes e corações dos alunos (Gülen, 2004). Em sua opinião, a distinção entre a mente e coração dos alunos, nos sistemas de ensino modernos, é uma calamidade para todos. Hoje, de acordo com Gülen, este erro ainda se repete. Apesar da produção de muitos grandes cientistas pelos sistemas educacionais contemporâneos, homens e mulheres modernos, em todo o mundo, não conseguem estabelecer a verdadeira felicidade. Na verdade, esta educação unilateral aumenta as crises nas sociedades e só produz uma juventude sem ideais. Assim, há uma grande necessidade de abordagens novas e frescas para os sistemas de ensino atuais (Gülen, 2004), também é urgente redefinir o quadro de conhecimento. Gülen acredita que, no período moderno, o conhecimento é limitado a teorias vazias e pedaços não absorvidos de aprendizagem que despertam desconfiança nas mentes e trevas no coração, é um amontoado de lixo em torno do qual as almas desesperadas e confusas se debatem (Gülen, 2004). No entanto, ele vê a abordagem de Bediuzzaman Said Nursi como única solução para este dilema. O propósito da educação é fazer do conhecimento um guia para si mesmo e para os outros. Alcançar tal objetivo é ver a educação como iluminação para mente na ciência e conhecimento e luz para o coração na fé e virtude.
Gülen também encontra referências no Alcorão sobre este conceito (Gülen, 1995). Ele interpreta sabiamente o termo corânico al-sirat al-mustaqim (caminho reto, Alcorão, 1:5) como um caminho do meio para usar em uma ampla variedade de questões sociais e éticas. Este meio termo pode ser descrito como uma ênfase extrema em se evitar excessos e deficiências e se encontrar um equilíbrio entre materialismo e espiritualismo, racionalismo e misticismo, mundanismo e ascetismo, coração e mente, a tradição e modernidade (Kuru, 2003). Este caminho do meio abre as portas da educação para muitos. Pais conservadores, hesitantes, enfrentam grandes dificuldades em permitir que seus filhos recebam uma educação moderna, sob o risco de perder sua fé, porém, a alternativa seria manter a fé, às custas de perderem uma chance de acesso a uma educação de alto padrão, nas escolas seculares modernas.
Para alcançar um objetivo tão importante, Gülen, em contraste a muitos muçulmanos, colocou a educação, com ênfase especial sobre a ética, no centro de seu próprio Movimento. A educação é a maneira mais eficaz de competir com os outros em uma escala global. Seu modelo educacional não exclui ninguém. Na verdade, sua natureza universalmente acessível capacita muitos grupos marginalizados a continuarem sua educação neste modelo. Esta é uma maneira de levar um sistema educacional igual e justo para todos, e não a natureza desigual e injusta da educação global, e, assim, melhorar as condições dos pobres. Lembrando que, como descrito acima há escolas em quase todas as partes do mundo, em vários ambientes e diferentes condições sociais, contudo, seu principal foco é o desenvolvimento da compreensão ética de questões globais, em vez de ensinar religião.
Também é importante notar que Gülen faz uma clara distinção entre o educador e o professor, afirmando que os educadores são muito limitados em nosso mundo moderno (Gülen, 1996). Apesar de sua abertura a novas tecnologias e a contribuição de outros, os educadores do Movimento Gülen compartilham uma visão pedagógica em comum e têm currículo, recursos humanos e materiais semelhantes (Michel, 2003) baseados em redes de informação avançada e infraestrutura de comunicação. Esta consciência coletiva é uma tentativa única para responder e enfrentar a natureza do desafio da globalização.
Eles são muito pacientes para alcançar seu objetivo e preferem usar um caminho lógico para convencer os alunos ao invés de forçar ou se impor. O objetivo não é usar os alunos para fins próprios, mas treiná-los para o benefício da humanidade. A adoção desta missão pessoal é de primordial importância para este projeto educacional, portanto os professores consideram cada indivíduo como um mundo diferente e tentam encontrar um caminho para seus corações (Gülen, 2004). Neste processo, a noção de tamthil (representação; temsil em turco) vem à tona. Tamthil significa ensinar valores através do exemplo. Gülen acredita que esta é a maneira mais eficaz de se preparar os alunos para o futuro. A ação adequada é mais influente do que palavras. Desta forma, ele acredita que tanto o professor quanto aluno internalizam os valores fundamentais da educação. Dito de outra forma, eles não só ensinam, mas também mostram como usar o conhecimento. Tal conquista na qualidade da educação, o caráter moral exemplar de professores e seu impacto sobre o comportamento do aluno, fazem a escola mais atraente, no período moderno.
Mais uma vez, no projeto de Gülen, esta interação não é unilateral ou bilateral (professor-aluno), mas multidimensional e inclui família, ambiente escolar e os meios de comunicação de massa. Gülen argumenta que o resultado desejado só pode ser alcançado mediante a cooperação de todas estas partes. Caso contrário, a existência de tendências opostas entre estas instituições vitais sujeitariam os alunos às influências contraditórias que os distrairiam e dissipariam sua energia. Em particular, meios de comunicação devem contribuir para a educação das novas gerações, seguindo a política de educação aprovada pela comunidade (Gülen, 2004). Este é o sonho de Gülen, como líder de um movimento gigante. Ele orienta seus seguidores a estabelecerem várias instituições para satisfazerem esta necessidade global.
Rumo à Paz Global e Tolerância
Assim como a educação, outra atividade importante iniciada por Gülen, na causa da paz mundial, é a sua ênfase ilimitada sobre a noção de tolerância, diálogo e relações interculturais e inter-religiosas. Como Enes Ergene (2005) apontou, atividades de diálogo são uma extensão da luta educacional global de Gülen, e também servem para a educação da humanidade. Embora ele tenha sido severamente criticado por algumas pessoas, Gülen, bravamente, argumenta que o diálogo está, principalmente, relacionado à religião e é, portanto, um dever religioso (Ergene, 2005). Gülen insiste, constantemente, na natureza religiosa das reuniões, pois as fontes islâmicas básicas aconselham os muçulmanos ao diálogo com representantes de outras religiões.
Assim, para Gülen, uma das funções primordiais da educação é promover a compreensão intercultural. A falha em compreender a natureza diversa da sociedade, na educação, alimenta o domínio homogêneo e monocultural em muitas culturas hospedeiras. A negação ou desconsideração da diversidade que já existe na sociedade leva à uma má representação das minorias. Esse partidarismo é a raiz de todos os tumultos e conflitos sociais. Em um mundo cada vez mais globalizado, é preciso saber quem será o seu futuro vizinho. Além disso, assim como vizinhos, países também precisam uns dos outros, em uma escala global. Um dos fatores mais importantes aqui é eliminar as causas que separam as pessoas, como a discriminação com base na cor, raça, crença e etnia. Educação, Gülen afirma, pode erradicar esses males (Williams, 2000).
Mantendo esta crença, firmemente, o Movimento Gülen trabalha arduamente para promover a tolerância, tanto dentro quanto fora da Turquia. Para Gülen, diálogo e tolerância significam aceitar todas as pessoas, independentemente do seu status, e aprender a viver juntos. Neste sentido, a educação é considerada unificadora. Tolerância e diálogo precisam ser ensinados nas escolas. Ensinar as diferenças e passar uma imagem precisa do outro cria oportunidades para se seguir em frente. Gülen acredita que esta é uma chave para a melhoria nas relações entre as nações do mundo. Religiosamente falando, no entendimento de Gülen, o que é bom para todos, também, é bom no Islã (e outras religiões). A educação é a forma de se transmitir esses valores universais.
Nas escolas do Movimento Gülen, uma educação voltada para tolerância está sendo praticada energicamente, e é justo dizer que a diversidade é parte de seu sistema de ensino atual. Em muitos países, alunos de diferentes origens étnicas, culturais e religiosas estudam na mesma atmosfera pacífica, nessas escolas. Por exemplo, na Bósnia, alunos croatas e sérvios – embora sejam minoria – estudam pacificamente ao lado de estudantes bósnios, apesar da guerra brutal. Esta é uma indicação forte de que as escolas do Movimento Gülen conseguiram estabelecer uma atmosfera não-sectária em seu sistema educacional, sem deixar de respeitar as diferenças culturais e religiosas.
Além das escolas, nos últimos dez anos, temos visto uma grande explosão na criação de centros culturais e inter-religiosos para promover o diálogo e a tolerância. Comunicadores do Movimento Gülen sentiram a necessidade de uma formação geral em atividades interculturais e foram além das escolas para atender a esta necessidade. Estes centros têm um papel complementar à educação escolar e tiveram um grande impacto sobre a coesão interna das sociedades. Além disso, esses centros também contribuem para a integração das minorias em países diferentes, sem perder suas próprias identidades e culturas.
Hoje, apesar de muitas boas ações e do autosacrifício de pessoas, em todo o mundo, ainda há muitos que controlam pela força, e há intolerância entre os diferentes grupos intra e internacionais. Após o 11 de Setembro, o Islã e os muçulmanos, em particular, têm sido muito afetados pela desinformação global. A guerra contra o terror está sendo transformada em guerra contra os muçulmanos, e a maioria dos muçulmanos estão sendo vistos como terroristas ou a maioria dos terroristas estão sendo vistos como os muçulmanos. Os esforços de alguns meios de comunicação em massa e os erros de alguns indivíduos prejudicam ainda mais a imagem dos muçulmanos e do Islã, em todo o mundo. O que estamos enfrentando hoje é realmente um choque de ignorância ao invés do choque de civilização. Gülen sinceramente acredita que se alguém quiser ganhar o coração das pessoas oprimidas e quiser resolver o conflito, o caminho mais seguro é educação e diálogo. Infelizmente, a violência alimenta violência. Este é um fato comprovado experimentalmente. É fácil destruir, mas é muito difícil reconstruir.
Hoje, a coesão de nossas sociedades multiculturais depende dessa compreensão mútua, envolvimento proativo, cooperação entre comunidades e respeito. De acordo com Gülen, este é um dever religioso e somos responsáveis pela preparação de nosso mundo futuro. Em suas centenas de escolas e muitos centros interculturais, o Movimento Gülen tenta estabelecer uma linguagem comum para uma melhor compreensão.
Conclusão
Conforme exposto acima, o caminho do meio é a principal característica do Movimento Gülen. O Movimento está ciente das questões e problemas globais e acredita sinceramente que estes problemas só podem ser resolvidos através da cooperação global. O Movimento tenta desenvolver um senso de cultura baseada no Islã da Turquia e no Sufismo da Anatólia para preservar sua própria identidade, mas, ao mesmo tempo, está pronto e aberto a mudanças. Nesta conjuntura, a educação, desenvolvimento moral, espiritual, tolerância e diálogo desempenham um papel significativo. A ausência de qualquer um desses conceitos pode levar um movimento muito civilizado ao autoritarismo ou tirania. Infelizmente, muitos programas autoritários não conseguiram levar a paz e desenvolvimento material e espiritual ao mundo. Os sistemas que não reconhecem valores éticos e dependem exclusivamente do poder não têm nada a contribuir para o progresso global de toda a humanidade. Guerras sucessivas, no início do terceiro milênio, têm demonstrado que é impossível controlar as pessoas matando-as ou oprimindo-as. Assim, se faz necessário o desenvolvimento de um movimento global que cubra ou envolva cada dimensão do indivíduo. Para fazê-lo, não há solução imediata. Gülen e seus seguidores escolheram a educação e encontros interculturais para formação de um novo homem e mulher (humano ideal/al-insan al-kamil). Este não é um movimento educacional rígido. Focando em dar o exemplo (tamthil), professores do movimento fazem grande esforço para mostrar aos alunos como internalizar valores morais e tolerância. Pois a falta de fé e valores éticos é a causa base de todos os conflitos e problemas no mundo, a raison d’être (razão de ser) do Movimento Gülen é estabelecer um ambiente onde o coração e a mente do aluno estejam simultaneamente satisfeitos. Assim, o movimento tenta domesticar o positivismo excessivo com ênfase nas dimensões interiores e espirituais do Islã. Esta não é uma abordagem exclusivista, embora retire sua energia da fé islâmica. Quanto à globalização, o lema “Porque amamos o Criador, amamos todas as Suas criaturas” (Ergene, 2005, 17) é o ponto de partida. Assim, o grande número de escolas e centros de diálogo, em mais de 120 países, em conjunto com diversas interações, são a melhor maneira de servir os cidadãos do mundo.
Membros do Movimento estão praticando globalização vividamente e contribuindo para contemporizar e modernizar muçulmanos, sem perder sua fé de forma alguma, e sem nenhuma intenção política ou ideológica oculta. Devido ao fato de seres humanos serem criaturas, potencialmente, respeitosas e capazes de alcançar objetivos, o Movimento Gülen é muito otimista sobre o futuro do planeta. Se preservarmos um ambiente civilizado, justo e livre para preparar o caminho para a educação de pessoas favorecidas e desfavorecidas, não haverá barreiras para transformar o mundo num paraíso. O Movimento tem valores, potencialmente, globais e universais que podem construir pontes entre Oriente e Ocidente.
Prof Dr. İsmail Albayrak
*Fethullah Gülen Chair in the Study of Islam and Muslim-Catholic Relations at Australian Catholic University (Cadeira de Fethullah Gülen no Estudo do Islã e Relações Muçulmanos-Católicos da Universidade Católica Australiana)
Extraído do artigo apresentado na International Fethullah Gülen Conference (Conferência Internacional Fethullah Gülen), 19-21 de outubro de 2010, Indonésia