Raiva cresce na Turquia conforme total de mortes pelo terremoto passa de 20.000 e esperanças de resgate diminuem
Conforme as temperaturas despencaram, a raiva começou a subir na Turquia por causa da resposta do governo a dois enormes terremotos nesta semana.
Na quinta-feira o número dos que foram mortos pelos tremores na Turquia e na vizinha Síria passou de 20.000
Com suas casas destruídas, milhares de pessoas passaram uma congelante noite de quarta-feira entre os escombros nas ruas de Adiyaman, amontoados em volta de pequenas fogueiras e com pouca proteção contra o tempo. Não existia eletricidade e água na cidade que fica ao sul do país.
Com medo de outro terremoto, alguns escolheram ficar a céu aberto, evitando prédios que parecessem intactos, e par enfrentarem as temperaturas abaixo de zero.
Alguns choravam a tragédia em silêncio, enquanto outros gritavam em desespero conforme os tremores continuavam a reivindicar mais vítimas. Um homem invadiu um centro de uma organização de ajuda e exigiu aos gritos que as autoridades resgatassem sua família.
“Eu vivia sozinha, em uma casa de um cômodo”, disse ela. “Agora perdi também a minha casa”.
Outros em Adiyaman disseram que estavam furiosos com o que alegam ser uma resposta lenta do governo, e disseram que os times de resgate haviam chegado na cidade com o equipamento errado para escavar os escombros. A NBC News não pôde confirmar de forma independente esta asserção.
“Ninguém estava aqui para nos ajudar, tenho reclamações de todas as autoridades aqui”, disse Nursen Guler na quarta-feira, acrescentando que ela tinha um filho no hospital e outro que ainda estava preso debaixo dos destroços.
“Não tem equipes aqui, todo mundo está esperando pelas equipes de resgate”, disse ela.
Guler acrescentou que as pessoas em Adiyaman haviam apoiado Recep Tayyip Erdogan, que tem servido ou como o primeiro-ministro ou como o presidente da Turquia pelos últimos 20 anos, “mas agora não vemos ele do nosso lado”.
A resposta do governo foi questionada também em várias outras cidades, onde os residentes também têm sido forçados a dormir a céu aberto, em barracas ou em acomodações temporárias.
“Onde está o estado?” Onde eles estiveram nesses dois dias? Estamos implorando a eles. Vamos lá, a gente consegue tirar eles de lá”, disse Sabiha Alinak à Reuters entre os escombros na cidade de Malatya na quarta-feira.
Mas simplesmente a escala do desastre parecia sobrecarregar as autoridades.
O primeiro dos devastadores terremotos da segunda-feira atingiu a Turquia e a vizinha Síria nas primeiras horas do dia, e foi registrado na magnitude de 7,8. Ele foi categorizado como “grande” na escala oficial de magnitude. Horas mais tarde, um segundo terremoto, registrado na magnitude de 7,6, atingiu ali por perto.
Mais de 17.130 pessoas morreram na Turquia, de acordo com a agência de gerenciamento de desastres do país. Na Síria, mais de 3.800 pessoas foram mortas, de acordo com as autoridades lá.
Osman Yıldırım, um engenheiro civil, disse que depois que o último grande terremoto atingiu a Turquia em 1999, uma torrente de novas regulações foram introduzidas para fazer os prédios mais resistentes, mas o governo não fez o bastante.
“Isto poderia ter sido evitado com as medidas certas começando 25 anos atrás”, disse Yıldırım, 55, acrescentando que obras de construção sem registro, corrupção e uma aplicação fraca das regulações haviam colocado as pessoas em perigo.
“O governo não tomou medidas necessárias para minimizar os ricos através do planejamento urbano, prédios baixos, códigos de construção e um controle rígido”, disse ele, acrescentando que como resultado “prédios novos e prédios antigos caíram”.
Deparando-se com uma crítica crescente, o Presidente Erdogan disse em uma visita à zona do desastre na quarta-feira que as operações estavam funcionando normalmente agora e prometeu que ninguém seria deixado sem uma casa.
Líderes da oposição e alguns usuários das mídias sociais também rechaçaram a decisão de seu governo de bloquear o acesso ao Twitter por cerca de 12 horas, a partir da quarta-feira à tarde até o começo da quinta-feira, conforme as pessoas corriam por aí para encontrar seu entes queridos e compartilhar informações sobre a ajuda que estava chegando e a localização dos que ainda estavam presos nos escombros.
As autoridades turcas disseram que estavam visando a desinformação e, na quinta-feira, Erdogan, que veio a fico sob escrutínio em meio a uma crise de custo de vida antes das eleições gerais em maio, revidou contra os críticos dizendo que “pessoas sem honra” estavam espalhando “mentiras e difamações” sobre as ações do governo.
Tentativas de controlar a narrativa “provavelmente não vão dar certo”, de acordo com Yaprak Gürsoy, um professor de política europeia e catedrático de estudos turcos contemporâneos na Escola de Economia de Londres.
“Presumir que não haverá quaisquer consequências socioeconômicas e políticas por causa desse trauma coletivo é ingenuidade”, acrescentou ela.
Alex Holmes fez a reportagem a partir de Adiyaman, Ziad Jaber de Gaziantep e Aina J. Khan de Londres.
Alex Holmes
Ziad Jaber
Ziad Jaber é um produtor sediado em Londres para a NBC News.
Aina J. Khan
Aina é uma repórter freelancer da NBC News.
A Associated Press e a Reuters contribuíram.
Fonte: Earthquake in Turkey and Syria updates: Anger grows as death toll passes 20,000 (nbcnews.com)