A indignação com o racismo em campo gera debate sobre calúnias racistas contra o time curdo Amedspor
Na ultima semana, na UEFA Champions League, o evento desportivo mais importante da Europa, o clube francês Paris Saint-Germain (PSG) recebeu o Başakşehir de Istambul na última semana da fase de grupos do torneio. Aos 14 minutos de jogo, o treinador adjunto de Başakşehir, Pierre Webo, foi alvo de declarações alegadamente racistas do árbitro assistente romeno Constantin Sebastian Coltescu. Depois de uma acalorada discussão causada pelos comentários de Coltescu, as duas equipes saíram do campo.
Quando Başakşehir se recusou a voltar a campo, o jogo foi adiado para 9 de dezembro, com a condição de que toda a equipe de árbitros mudasse. As postagens de Başakşehir nas redes sociais contra o racismo foram retuitadas pela conta oficial do clube parisiense.
O árbitro assistente Coltescu afirmou que havia dito “negru” em vez de “negro” e que a palavra “negru” na língua romena significa apenas “homem negro” sem qualquer conotação pejorativa. Coltescu negou ter qualquer intenção de insultar Webo.
Após o incidente, o racismo se tornou o tópico de conversa número um da Turquia, até mesmo o Partido do Movimento Nacionalista (MHP), aliado do presidente Recep Tayyip Erdoğan, frequentemente acusado de ultranacionalismo tweetou contra o racismo.
Após o tweet do MHP, denúncias mostrando o discurso de ódio e os ataques contra o clube curdo Amedspor da Turquia começaram.
O Amedspor, com sede em Diyarbakır, a maior cidade predominantemente curda do país, tem sido repetidamente alvo de ataques racistas. Uma delas ocorreu durante um jogo entre eles e o clube Ankaragücü, da capital.
No jogo disputado em abril de 2016, os torcedores do Amedspor e o presidente do clube, Nurullah Edemen, foram agredidos fisicamente. Muitos ainda se lembram do vídeo em que Edemen estava sendo atacado a ponto de seus ossos serem fraturados.
O Amedspor e seus jogadores costumam encontrar gritos racistas enquanto jogam em estádios nas cidades do oeste do país. Deniz Naki, um dos jogadores mais populares do clube, teve que se aposentar e se mudar para a Alemanha devido aos abusos racistas que sofreu.
Başakşehir, que saiu do campo por causa dos comentários supostamente racistas, foi acusado de proteger os racistas até muito recentemente.
O meio-campista Emre Belözoğlu, que já havia recebido pena de suspensão por comentários racistas contra o jogador marfinense Didier Zokora, permaneceu como capitão de Başakşehir por muito tempo e agora é executivo de outro importante clube de Istambul, o Fenerbahçe.
Amedspor: As pessoas ignoram o racismo perpetrado contra nós
O Amedspor se juntou à hashtag #NoToRacism, que foi amplamente postada na Turquia após os eventos do jogo Başakşehir-PSG. O clube publicou o vídeo do ataque com motivação racial contra seus executivos durante o jogo com Ankaragücü com o comentário: “Não esquecemos aqueles que espancaram nossos executivos e os jogaram escada abaixo #NoToRacism”.
O Amedspor também lembrou as calúnias raciais dos jogadores de Başakşehir contra eles em um jogo anterior e tuitou: “Estamos com Webo, mas não com Başakşehir, que nos insultou naquele jogo da Ziraat Turkey Cup.”
Em um jogo entre Amedspor e Başakşehir, o jogador do clube de Istambul, Semih Şentürk, comemorou um gol que marcou ao ir à frente da torcida do Amedspor e fazer uma saudação militar, que foi percebida como uma referência às operações das Forças Armadas Turcas (TSK) contra o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e uma insinuação velada de que a Amedspor estava do lado dos “terroristas”.
Depois do jogo entre Başakşehir e PSG, o deputado da oposição Sezgin Tanrıkulu levantou o incidente no parlamento e disse: “Condenamos o ataque racista contra Webo. Eu gostaria que pudéssemos ter mostrado a mesma reação contra o racismo que Amedspor vem enfrentando em toda a Turquia há anos. ”
Quanto isso está relacionado às tensões entre Erdoğan e Macron?
Alguns comentaristas ligaram o incidente às tensões entre Erdoğan e seu homólogo francês, Emmanuel Macron, que recentemente estiveram em desacordo sobre uma série de questões políticas entre os dois países.
O comentarista de futebol pró-Erdoğan, Rıdvan Dilmen, disse em um programa de TV que o incidente “também deve ter repercussões para Macron”.
Outro comentarista, Mithad Fabian Sönmez, disse que os círculos pró-Erdoğan perceberam a polêmica como uma oportunidade de pressionar Macron com base exclusivamente no fato de que isso aconteceu na França, ignorando que a França não teve nada a ver com o incidente, pois o árbitro em questão é de Romênia.