A Turquia Poderá se Tornar Um País Inseguro para as Mulheres
Marli Barros Dias
A Turquia pretende abandonar o tratado internacional, que visa combater a violência de gênero. Consequentemente, o país se tornará um lugar perigoso para o público feminino.
A Convenção de Istambul, contra a violência doméstica, assinada pela Turquia em 2012, pode estar com os dias contados. O presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, tenciona deixar o tratado e retirar toda a proteção que ele oferece às mulheres. Para fazer face a grave violação dos Direitos Humanos, a convenção tem como princípios proteger as vítimas de violência doméstica e aplicar punição aos agressores. O seu objetivo é a tolerância zero com esse tipo de violência e seus perpetradores. No entanto, Erdoğan e seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), até hoje, não defenderam de fato esses fundamentos e pretendem retirá-los, pois consideram os objetivos do tratado incompatíveis com a sociedade turca. Dois anos após a assinatura da convenção, Erdoğan declarou que as mulheres “não são iguais aos homens devido à sua natureza delicada”. E, ainda acrescentou: “Nossa religião definiu uma posição para as mulheres: a maternidade”. Em 2019, o presidente afirmou que a Convenção de Istambul “não está em pé de igualdade com os valores da sociedade turca”. Tais posições nos remetem ao status da mulher na antiga organização otomana, cujo reconhecimento estava relacionado unicamente às funções biológicas e de reprodução.
Recentemente, em 2 de julho, Numan Kurtulmus, o vice-presidente do AKP, durante entrevista, disse que a Turquia cometeu um erro em assinar a Convenção e deve abandoná-la, “porque defende papéis de gênero e valores familiares impróprios”. Fica evidente que esses posicionamentos revelam a verdadeira intenção do governo de manter a mulher subjugada e invisível na sociedade e também, ignorar o aumento da violência doméstica, sobre a qual, a atual administração admite não ter o registro de mortes por motivação de gênero. Mas, segundo informações, em 2013, um ano depois de a Turquia assinar a Convenção de Istambul, o número de feminicídio era de 237 e em 2019 esse número dobrou, visto que 474 mulheres foram assassinadas. Estes dados demonstram o crescimento da violência doméstica, o desrespeito ao tratado e principalmente, a ausência do Estado no combate a violação à vida e aos Direitos Humanos.
Em julho deste ano, Fatma Altinmakas, foi à polícia de sua cidade para denunciar que havia sido estuprada diversas vezes pelo seu cunhado. O caso chegou a ser julgado, mas o acusado foi absolvido por falta de provas. Na sequência, a vítima não recebeu proteção policial e foi assassinada a tiros pelo marido, que alegou ter comedido o crime para “restaurar a honra”. A taxa de feminicídio na Turquia é bastante alta, mas Recep Tayyip Erdoğan pretende deixar as mulheres jogadas à própria sorte, em nome de um conservadorismo retrógado e desumano construído a partir de pseudos valores, que classificam a população feminina em pleno século XXI, como seres inferiores e destituídos de direitos. Neste contexto, na Turquia atual, tudo indica que, o governo não protege a vida e nem defende os direitos das mulheres e isto faz daquele país, um território inóspito e perigoso para quem não é do sexo masculino.
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Imagem:
Milhares de mulheres protestaram na Turquia para pedir que o governo não se retire da Convenção de Istambul
(Fonte):
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