Lira turca despenca a baixas recordes por preocupações com economia e disputa com os EUA
A lira da Turquia mergulhou a 6,30 contra o dólar americano na sexta-feira, e nesta segunda-feira já chegou a 7,01, conforme preocupações com a influência do Presidente Tayyip Erdogan sobre a política monetária e as relações com os EUA que estão piorando se transformaram em pânico no mercado que também atingiu ações de bancos europeus, informou a Reuters.
A liquidação aprofundou preocupações quanto à exposição à Turquia, particularmente particularmente se empresas que foram alavancadas demais serão capazes de pagar empréstimos em euros e dólares após anos de empréstimos estrangeiros para financiarem um boom de construção sob Erdogan.
A teimosia característica de Erdogan em face à liquidação desencorajou ainda mais os investidores. O presidente, que disse que um “lobby da taxa de juros” obscuro e agências de crédito ocidentais estão tentando minar a economia da Turquia, disse em um discurso ao longo da noite que os turcos “não deveriam ter preocupações”.
“Se eles têm o dólar deles, nós temos o nosso povo, nosso Deus,” disse ele a uma multidão no cidade de Rize, que fica no Mar Negro.
Ele comparou a perda sucessiva em valor da lira à tentativa de golpe em 15 de julho de 2016, dizendo: “Nós não vamos perder a batalha econômica,” depois da oração de sexta-feira na província de Bayburt, de acordo com o jornal Cumhuriyet.
É improvável que isso apazigue investidores que também estejam preocupados com uma crescente disputa com os Estados Unidos. Os aliados da OTAN estão em um impasse devido à detenção na Turquia do pastor americano Andrew Brunson sob acusações de terrorismo.
Essas tensões com Washington aumentaram preocupações com a trajetória autoritária da Turquia sob Erdogan.
“A razão básica que a taxa de câmbio saiu dos trilhos é que a confiança no gerenciamento da economia desapareceu tanto domesticamente quanto no estrangeiro,” disse Seyfettin Gursel, um proeminente economista e professor na Universidade Bahcesehir da Turquia.
“Antes de tudo, a confiança precisa ser reconquistada. É óbvio como isso vai ser feito: Já que o que faz as decisões finais de todas as políticas no novo regime é o presidente, a responsabilidade de reconquistar a confiança está sobre os ombros dele.”
A lira estava a 5,97 contra o dólar às 08:42, queda de cerca de 7%. Ela tinha chegado a cair até 14,6% — sua maior queda em um dia desde o começo de 2001 — depois de reduzir algumas perdas. As ações de credores europeus também caíram, atingidas pela preocupação com sua exposição à Turquia.
A lira atingiu os 6,30 contra o dólar no final da sexta-feira, e chegou a 7,01 nesta segunda-feira.
A moeda caiu mais de 35% neste ano depois de perder quase um quarto de seu valor em 2017.
“A situação da Turquia não pode continuar por muito mais — eu acho que vão ter que intervir,” disse Cristian Maggio, chefe de estratégia para mercados emergentes na T Securities, acrescentando que a intervenção precisava ser “drástica.”
“A Turquia está jogando um jogo muito perigoso. Eles continuam a ficar para trás, e o paço da depreciação e a penalidade que o mercado inflige sobre a Turquia quando sua liquidação está aumentando a um passo mais linear, quase exponencialmente.”
Erdogan, um auto-descrito “inimigo das taxas de juros,” quer crédito barato de bancos para abastecer o crescimento, mas os investidores temem que a economia esteja superaquecendo e poderia estar marcada para uma aterrissagem forçada. Seus comentários sobre as taxas de juros — e sua recente nomeação de seu genro como ministro financeiro — aguçaram as percepções de que o banco central não é independente.
O banco central aumentou as taxas de juros para apoiar a lira em uma ação emergencial em maio, mas não voltou a diminuí-la em sua última reunião.
O ministro das finanças e do tesouro, Berat Albayrak — genro de Erdogan, nomeado no mês passado — deveria anunciar os planos mais recentes do governo para a economia em uma coletiva de imprensa às 9:30 da manhã da hora local; contudo, ele postergou a reunião duas vezes durante o dia.
Enquanto que a Turquia e os Estados Unidos não concordam em várias questões, o desacordo mais premente tem sido por Brunson e a detenção de outros cidadãos americanos na Turquia. Uma delegação de autoridades turcas realizaram conversas com seus colegas em Washington na semana passada, mas não há sinais de algum avanço.
Enquanto que não houve declarações do lado turco, a porta-voz do Departamento de Estado americano, Heather Nauert, disse que conversas amplas haviam sido realizadas.
“Eu diria que definiríamos o progresso como o Pastor Brunson sendo trazido de volta para casa,” disse Nauert.